06 MAIO - S. JOÃO, Apóstolo e Evangelista, perante a Porta Latina


Introito
(Sl 63, 3): Protexísti me, Deus, a convéntu malignánti um, allelúja... Protegeste-me, ó Deus, da assembleia dos malignos, aleluia; da multidão dos que praticam a iniquidade, aleluia, aleluia. (Sl 63, 2): Ouve, ó Deus, a minha oração quando suplico; livra minha alma do temor do inimigo.

Leitura (Sab 5, 1-5):
Os justos permanecerão com grande firmeza diante daqueles que os oprimiram e roubaram seus trabalhos. Vendo-os, os opressores serão tomados de terrível medo e se admirarão com a súbita e inesperada salvação, dizendo entre si, com arrependimento e gemendo pela angústia de espírito: “Estes são aqueles que outrora tivemos por objeto de zombaria e escárnio. Nós, insensatos, considerávamos a vida deles loucura e seu fim sem honra. Eis, porém, como foram contados entre os filhos de Deus, e sua herança está entre os santos.”

Evangelho segundo Mateus (Mt 20, 20-28):
Naquele tempo, aproximou-se de Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos, adorando-o e pedindo-lhe algo. Ele lhe disse: “Que queres?” Ela respondeu: “Ordena que estes meus dois filhos se sentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino.” Jesus, porém, respondeu: “Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que eu hei de beber?” Eles disseram: “Podemos.” Ele lhes disse: “De fato, bebereis o meu cálice; mas o sentar à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim conceder, mas é para aqueles a quem foi preparado por meu Pai.”

Homilias e explicações teológicas
A verdadeira grandeza, segundo o evangelho, reside na humildade e no serviço, pois Cristo, sendo Deus, assumiu a forma de servo, ensinando que o poder divino se manifesta na entrega aos outros, não na busca de honras terrenas (Santo Agostinho, Sermo 340A). A sabedoria divina, revelada em Sb 5, ilumina a justiça de Deus que exalta os humildes e confunde os soberbos, mostrando que a glória eterna é reservada aos que sofrem por amor à verdade (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 2.34). São João Evangelista, cuja festa celebramos, contemplou o Verbo encarnado e ensinou que a caridade é o fundamento da liderança cristã, pois quem ama serve, imitando o Mestre que veio para dar a vida (São João Crisóstomo, Homiliae in Ioannem, 65). O cálice do sofrimento, mencionado por Jesus, simboliza a participação na cruz, que transforma a ambição humana em sacrifício redentor, unindo o discípulo ao destino de Cristo (Santo Ambrósio, De Fide, 2.7). A exaltação dos justos, como descrito em Sabedoria, reflete a vitória pascal, onde a humilhação de Cristo na cruz conduz à glória, ensinando que o serviço é o caminho para a ressurreição (São Leão Magno, Sermo 51). A primazia do serviço, destacada por Jesus, contrasta com a lógica mundana do poder, pois o Reino de Deus inverte as hierarquias humanas, colocando o menor como o maior (São Tomás de Aquino, Super Evangelium Matthaei, cap. 20).

Síntese comparativa com os demais Evangelhos
O relato de Mt 20, 20-28, onde a mãe dos filhos de Zebedeu pede lugares de honra e Jesus ensina sobre o serviço, encontra paralelos com diferenças significativas nos outros evangelhos. Em Marcos 10, 35-45, são os próprios Tiago e João que fazem o pedido, sem a intermediação da mãe, sugerindo uma iniciativa direta dos discípulos e destacando sua ambição pessoal. Marcos também enfatiza que Jesus “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”, reforçando o caráter sacrifical da missão de Cristo, mas sem mencionar a mãe, o que pode indicar uma adaptação para um público menos familiar com costumes judaicos. Em Lucas 22, 24-27, o contexto é a Última Ceia, onde a disputa por grandeza surge entre os discípulos, e Jesus contrasta a liderança pagã com o modelo de serviço, usando a si mesmo como exemplo (“estou entre vós como aquele que serve”), adicionando uma dimensão eucarística ao ensino sobre humildade. O Evangelho de João não apresenta um paralelo direto, mas em Jo 13, 12-17, durante a lavagem dos pés, Jesus exemplifica o serviço ao realizar um ato humilde, ensinando que os discípulos devem imitar sua humildade, complementando a instrução de Mateus com uma ação concreta de serviço.

Síntese comparativa com textos de São Paulo
O evangelho de Mt 20, 20-28, que destaca o serviço e o sacrifício de Cristo como modelo de liderança, é complementado por textos paulinos que aprofundam esses temas. Em Filipenses 2, 5-11, Paulo descreve a kénosis de Cristo, que, sendo Deus, humilhou-se até a morte de cruz, recebendo exaltação divina, oferecendo uma base teológica para a humildade e serviço ensinados por Jesus, com ênfase na encarnação e glorificação. Em 1 Coríntios 9, 19-22, Paulo ilustra o serviço ao se fazer “tudo para todos” para ganhar almas, ecoando a entrega de Cristo, mas aplicando-a à missão evangelizadora, um aspecto prático não explicitado em Mateus. Em Gálatas 5, 13, Paulo exorta os cristãos a servirem uns aos outros por amor, conectando o serviço à liberdade cristã, um conceito que enriquece a ideia de liderança como serviço em Mateus. Em Romanos 15, 1-3, Paulo incentiva suportar as fraquezas dos outros, citando Cristo que não buscou agradar a si mesmo, reforçando a dimensão comunitária do serviço, que vai além da liderança individual destacada no evangelho.