A performance do Cardeal Tagle não pode ser classificada simplesmente como heresia. A heresia, por mais perniciosa que seja, implica uma seriedade intelectual e uma oposição calculada a dogmas específicos. O que se viu, no entanto, foi algo mais insidioso: a banalização da fé, transformando-a num espetáculo de vaudeville, um "catolicismo sem culpa" onde a mensagem central é o bem-estar sentimental e a bonomia universal, em detrimento da majestade de Deus e da seriedade do Evangelho.
Esta abordagem não é um ato isolado, mas a manifestação de uma tendência mais ampla de "ajustar" a fé, infantilizando a religião a ponto de torná-la um exercício de "caixa de areia" (Perricone), onde o objetivo é que todos "se sintam bem". Tal fenômeno pode ser visto como o resultado lógico da teologia da assembleia, um dos erros fundamentais que permeiam a Missa de Paulo VI. Como um estudioso notou, esta teologia, que faz da assembleia o centro do culto, foi formulada para "ultrapassar" a doutrina católica de que a essência da Missa consiste no sacrifício (Calderón, 2010, p. 479). O sacerdote, nesse novo paradigma, deixa de ser o alter Christus que oferece o Santo Sacrifício e torna-se um mero "presidente" da assembleia (Cekada, 2010, p. 159), um animador cuja função é gerar um sentimento de comunidade e "conexão".
Esta dessacralização é visível em múltiplos aspectos da vida da Igreja pós-conciliar. A atmosfera de muitas paróquias modernas, com sua "música açucarada" e a postura casual do celebrante, reflete este novo culto centrado no homem. A arquitetura modernista, com sua esterilidade que "envergonharia até mesmo a Bauhaus" (Perricone), e as vestes sacerdotais que comunicam "o banal, o pedestre, o comum" (Perricone), são extensões lógicas desta nova teologia. Como um livro crítico aponta, "um mundo teológico inteiramente novo" foi criado, e a "própria Igreja se torna um instrumento ao serviço do homem" (Calderón, 2010, p. 67), em vez de ser o caminho para Deus.
O rito da Comunhão, outrora um momento de profunda reverência, foi transformado numa "procissão coletiva" (Cekada, 2010, p. 468), onde a recepção da Sagrada Hóstia se torna um ato casual. A prática da comunhão na mão, introduzida por hereges para "repudiar os dogmas católicos sobre a Presença Real e o Sacerdócio" (Cekada, 2010, p. 469), é a culminação desta banalização.
O "padre como palhaço", com suas "piscadelas enjoativas" e sua "casualidade estudada no altar" (Perricone), é a personificação desta nova religião. Ele não se vê mais como um "dispensador dos mistérios de Deus" (1 Coríntios 4:1), mas como um facilitador que ajuda as pessoas a "serem elas mesmas". Esta inversão cósmica, como Hilaire Belloc advertiu, é um sinal de barbárie que, embora inicialmente nos refresque com sua irreverência, prenuncia um fim terrível. A mensagem do "padre palhaço" não é a exigência de obediência a Deus, mas a "patética segurança de que Deus ama os homens do jeito que eles são" (Perricone).
O cardeal Cupich, em Chicago, ao repetir o mantra "Jesus te ama do jeito que você é", acompanhado por uma banda de mariachi, exemplifica esta "vitória do homem sobre Deus" (Perricone). O Secular sobrepõe-se ao Sagrado, o Palhaço sobre o Sacerdote.
No entanto, o poder dos símbolos permanece. A veste sacerdotal, especialmente a batina romana, não é um mero acessório, mas um anúncio visível da missão divina do sacerdote. Ela "grita uma missão divina muito melhor do que palavras" (Perricone). Em um mundo secularizado, a batina é "uma irrupção do sobrenatural", um "machado contra o mar congelado dentro de nós" (Kafka, citado por Perricone). O sacerdote que a usa se torna um sinal de contradição, distinto do "padre como palhaço", que se considera "um homem como qualquer outro".
Apesar da aparente vitória do "culto do banal", há sinais de um renascimento católico. O surgimento de novas organizações leigas e de sacerdotes "pulsando com os fogos do Céu e os esplendores do Sobrenatural" (Perricone) indica que o "gênio católico robusto" não foi extinto. A apalhaçada eclesiástica do Cardeal Tagle pode ser vista, em última análise, não como o futuro da Igreja, mas como o último suspiro de uma era em declínio. A Tradição, embora atacada, permanece resiliente.
Referências
CALDERÓN, Álvaro. Prometeo: La Religión del Hombre - Ensayo de una hermenéutica del Concilio Vaticano II. 2010.
CEKADA, Anthony. Obra de Mãos Humanas: Uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. 2010.
NOUGUÉ, Carlos. Do Papa Herético e outros opúsculos. 2017.
PERRICONE, John A . The Priest as Clown, na Crisis Magazine.