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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Pensamento herético - Panteísmo de Teilhard de Chardin

Teilhard de Chardin, filósofo e teólogo jesuíta, ensinou que a evolução não é apenas um processo biológico, mas uma ascensão contínua em direção à consciência, culminando no que ele denominou Ponto Ômega, uma espécie de estágio final da evolução em que a humanidade seria integrada a Cristo. Ele via a história humana como uma jornada espiritual em direção a uma unidade e plenitude universal. Para Teilhard, a consciência humana em expansão é um reflexo do avanço em direção a essa integração com Cristo, que representa a "energia" cósmica que impulsiona o universo rumo à sua conclusão.

Sua visão, entretanto, foi controversa, uma vez que introduziu um elemento de panteísmo — a ideia de que Deus e o universo são essencialmente um. Isso representou um choque para a teologia cristã tradicional, que separa o Criador da criação. Seu pensamento influenciou algumas correntes dentro da Igreja, especialmente após o Concílio Vaticano II, apesar das advertências e censuras repetidas emitidas pelo Vaticano contra suas obras. O Vaticano condenou oficialmente alguns dos ensinamentos de Teilhard, emitindo advertências (monituns) sobre a publicação de suas principais obras, especialmente por seu afastamento da doutrina cristã tradicional.

A Relação com a Teologia e a Liturgia Pós-Vaticano II

Joseph Ratzinger, mais tarde Papa Bento XVI, em sua obra O Espírito da Liturgia (2000), observou como a visão de Teilhard de Chardin sobre a evolução cósmica e a ascensão da humanidade influenciou a compreensão contemporânea de Cristo, especialmente no contexto da liturgia. Ratzinger destacou que a teologia teilhardiana se tornou uma lente através da qual muitos viam a Eucaristia e a celebração litúrgica no pós-Vaticano II.

Para Teilhard, Cristo é a força central que impulsiona o cosmos em direção à Noosfera — um conceito que ele descreveu como uma esfera de pensamento global em evolução. Citando as epístolas aos Efésios e Colossenses, Teilhard via Cristo como a energia que sustenta e guia a criação rumo a essa unidade espiritual universal. Segundo ele, a Eucaristia, representada pela Hóstia transubstanciada, é a antecipação da transformação e divinização final da matéria, sendo ao mesmo tempo um símbolo e um motor desse progresso cósmico.

Ratzinger observou que, para Teilhard, a Eucaristia era o ponto de convergência do cosmos, um evento litúrgico que não apenas antecipa o futuro, mas também dá impulso à evolução espiritual e cósmica. Esse entendimento da liturgia foi uma mudança marcante em relação às práticas tradicionais, ligando mais profundamente a celebração eucarística à visão de um universo em evolução espiritual contínua.