O evolucionismo espiritual do panteísta Teilhard de Chardin

Teilhard de Chardin, filósofo e teólogo jesuíta, ensinou que a evolução não é apenas um processo biológico, mas uma ascensão contínua em direção à consciência, culminando no que ele denominou Ponto Ômega, uma espécie de estágio final da evolução em que a humanidade seria integrada a Cristo. Ele via a história humana como uma jornada espiritual em direção a uma unidade e plenitude universal. Para Teilhard, a consciência humana em expansão é um reflexo do avanço em direção a essa integração com Cristo, que representa a "energia" cósmica que impulsiona o universo rumo à sua conclusão.

Sua visão, entretanto, foi controversa, uma vez que introduziu um elemento de panteísmo — a ideia de que Deus e o universo são essencialmente um. Isso representou um choque para a teologia cristã tradicional, que separa o Criador da criação. Seu pensamento influenciou algumas correntes dentro da Igreja, especialmente após o Concílio Vaticano II, apesar das advertências e censuras repetidas emitidas pelo Vaticano contra suas obras. O Vaticano condenou oficialmente alguns dos ensinamentos de Teilhard, emitindo advertências (monituns) sobre a publicação de suas principais obras, especialmente por seu afastamento da doutrina cristã tradicional.

A Relação com a Teologia e a Liturgia Pós-Vaticano II

Joseph Ratzinger, mais tarde Papa Bento XVI, em sua obra O Espírito da Liturgia (2000), observou como a visão de Teilhard de Chardin sobre a evolução cósmica e a ascensão da humanidade influenciou a compreensão contemporânea de Cristo, especialmente no contexto da liturgia. Ratzinger destacou que a teologia teilhardiana se tornou uma lente através da qual muitos viam a Eucaristia e a celebração litúrgica no pós-Vaticano II.

Para Teilhard, Cristo é a força central que impulsiona o cosmos em direção à Noosfera — um conceito que ele descreveu como uma esfera de pensamento global em evolução. Citando as epístolas aos Efésios e Colossenses, Teilhard via Cristo como a energia que sustenta e guia a criação rumo a essa unidade espiritual universal. Segundo ele, a Eucaristia, representada pela Hóstia transubstanciada, é a antecipação da transformação e divinização final da matéria, sendo ao mesmo tempo um símbolo e um motor desse progresso cósmico.

Ratzinger observou que, para Teilhard, a Eucaristia era o ponto de convergência do cosmos, um evento litúrgico que não apenas antecipa o futuro, mas também dá impulso à evolução espiritual e cósmica. Esse entendimento da liturgia foi uma mudança marcante em relação às práticas tradicionais, ligando mais profundamente a celebração eucarística à visão de um universo em evolução espiritual contínua.

Noosfera e Ponto Ômega

A noosfera é a "esfera do pensamento humano". Segundo Chardin, após a formação da litosfera (camada rochosa da Terra), hidrosfera (água), atmosfera (ar), biosfera (vida), e antroposfera (atividade humana), a noosfera representa a próxima fase evolutiva, caracterizada pela emergência da consciência coletiva e do pensamento humano. A palavra "noos" vem do grego e significa mente, espírito ou intelecto.

Chardin acreditava que a noosfera seria uma esfera onde as mentes e os corações humanos estariam sincronizados, criando uma rede de pensamento e consciência global. Isso implicaria uma maior interconexão e colaboração entre os seres humanos, levando a um avanço espiritual e intelectual.

O Ponto Ômega é um conceito central na filosofia de Chardin. Ele acreditava que a evolução não era apenas um processo físico, mas também espiritual, culminando em um ponto final de máxima complexidade e consciência, que ele chamou de Ponto Ômega. Este ponto representa a união final de todas as consciências em um estado de perfeição e plenitude, que ele associava com a figura de Cristo. Eis seu evolucionismo espiritual, tentativa de integrar a teoria da evolução com a espiritualidade cristã, propondo que a evolução não é apenas um processo biológico, mas também espiritual, culminando no que ele chamou de Ponto Ômega, um estado de máxima complexidade e consciência.

O livro mais conhecido de Pierre Teilhard de Chardin sobre o evolucionismo espiritual é "O Fenômeno Humano". Publicado em 1955, esta obra apresenta uma visão abrangente da evolução do universo, desde a matéria inanimada até a consciência humana. 

Críticas

Ambiguidade Teológica: Muitos teólogos e autoridades da Igreja consideraram os escritos de Teilhard de Chardin como ambíguos e potencialmente perigosos. Eles argumentaram que suas ideias poderiam ser interpretadas de maneiras que se afastam da doutrina católica tradicional.

Pecado Original: Teilhard de Chardin teve uma visão não convencional do pecado original, o que levou a críticas e censura por parte da Igreja. Seus pontos de vista sobre a evolução e o pecado original foram vistos como incompatíveis com a teologia católica tradicional.

Integração da Evolução: Embora Teilhard tenha contribuído para a aceitação da evolução pela Igreja, alguns críticos argumentaram que ele foi longe demais ao tentar integrar a evolução com a teologia cristã. Eles temiam que isso pudesse diluir a mensagem teológica central do Cristianismo.

Visão Otimista da Evolução: A visão otimista de Teilhard sobre a evolução e o progresso humano foi criticada por ser excessivamente idealista e não levar em conta a realidade do pecado e do mal no mundo.

Ponto Ômega como Destino Final: A ideia do Ponto Ômega como o destino final da evolução humana foi vista por alguns críticos como uma forma de determinismo cósmico que pode conflitar com a noção de livre-arbítrio e a intervenção divina.

Proibição de Publicação: Durante sua vida, muitos dos escritos de Teilhard foram censurados pela Igreja. Ele foi proibido de lecionar em instituições católicas e de publicar suas obras teológicas, refletindo a resistência significativa que suas ideias enfrentaram dentro da Igreja.