Do Sacrifício ao Panfleto Ambientalista: A Nova Missa “pro custodia creationis”


No dia 3 de julho de 2025, conforme anunciado pelo Gabinete de Imprensa da Santa Sé, será realizada uma conferência para apresentar uma nova Missa intitulada “pro custodia creationis” (pelo cuidado da criação). Este novo formulário será incluído na seção “pro variis necessitatibus vel ad diversa” (para as várias necessidades ou circunstâncias) do Missal Romano. A apresentação contará com a presença do Cardeal Michael Czerny, S.J., Prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, e do Arcebispo Vittorio Francesco Viola, O.F.M., Secretário do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. A notícia, já carregada de uma linguagem que denuncia uma crescente politização da liturgia, levanta questões teológicas de profunda gravidade sobre a natureza e o propósito do Santo Sacrifício.

A introdução de uma Missa “pelo cuidado da criação” não é um evento isolado, mas a consequência lógica de um processo de desfiguração doutrinal que há décadas vem operando no seio da Igreja. Trata-se da aplicação de um princípio modernista, vastamente documentado, que subordina a liturgia a um fim didático e pastoral, transformando-a de um ato de culto teocêntrico em um instrumento de conscientização antropocêntrica.

A teoria da “liturgia pastoral”, promovida por figuras como Josef Jungmann, sustenta que o culto deve ser, antes de tudo, adaptado às “necessidades do povo” e servir como uma espécie de “sala de aula” para a instrução dos fiéis (Obra de Mãos Humanas, p. 50-51). O objetivo, portanto, não é mais a glorificação da Santíssima Trindade e a propiciação pelos pecados, mas a formação da comunidade segundo as urgências do momento. A presente iniciativa alinha-se perfeitamente a esta visão: a “emergência” climática torna-se o novo conteúdo a ser comunicado, e a Missa, o seu veículo. A liturgia deixa de ser a fonte da graça para se tornar um palanque para agendas seculares.

Observa-se que tal procedimento implica a sistemática eliminação ou diluição de conceitos teológicos que se opõem à mentalidade moderna. Um estudo aprofundado da reforma litúrgica demonstra como a chamada “teologia negativa” — noções como a ira divina, o juízo, a necessidade de penitência e o desprezo pelas coisas terrenas — foi expurgada das orações para dar lugar a uma visão mais otimista e horizontal do mundo (Obra de Mãos Humanas, p. 283). A nova Missa “pelo cuidado da criação” inevitavelmente seguirá o mesmo padrão: falará da beleza da natureza, mas silenciará sobre como o pecado do homem feriu a criação; exaltará a “conversão ecológica”, mas omitirá a conversão a Cristo; promoverá a fraternidade universal com o cosmos, mas esquecerá a necessidade do Sacrifício Redentor que reconcilia o homem com Deus. O foco se desloca da Redenção para a “conscientização”.

O próprio texto da notícia denuncia esta inversão ao citar a Constituição Sacrosanctum Concilium, que declara que a liturgia é, “sobretudo, o culto da divina Majestade” (SC 33). Ao contrário, a nova proposta parece ser o culto da “mãe terra”, um sincretismo perigoso que instrumentaliza o sagrado para fins profanos. Este método já foi identificado como uma das marcas da reforma: tomar um valor universalmente aceito (o cuidado com a natureza), inflá-lo com uma carga ideológica e, por fim, inseri-lo na estrutura litúrgica para torná-lo intocável e, de certa forma, "dogmatizá-lo" pela via pastoral.

Esta “socialização da liturgia” é um fruto direto da desregulamentação doutrinal e ritual que se seguiu ao Concílio Vaticano II. A legislação que governa a Missa de Paulo VI, ao permitir uma vasta gama de opções, adaptações e textos inventados, abriu as portas para que qualquer agenda, por mais estranha que seja à fé, encontrasse um lugar no culto (Obra de Mãos Humanas, p. 484). A Missa “pelo cuidado da criação” é apenas mais um “módulo” a ser inserido neste sistema litúrgico pluralista, um sistema que, por sua própria natureza, destrói a unidade da oração e, consequentemente, a unidade da fé.

No fim, o resultado de tal operação é a contínua destruição da doutrina católica na mente dos fiéis. Quando a Missa deixa de ser o Sacrifício de Cristo tornado presente no altar e se transforma em uma campanha de sensibilização, ela perde sua razão de ser. O homem não encontrará Deus em um comício ecológico perfumado com incenso. O que encontrará é um vazio que o levará a buscar o transcendente em outro lugar ou, mais tragicamente, a não buscá-lo mais. A crise de fé não é ignorada, ela é alimentada. Uma liturgia que fala de tudo, exceto de Deus, é uma liturgia que já se rendeu ao mundo.

Referências

CEKADA, Anthony. Obra de Mãos Humanas: Uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. 2. ed. West Chester: Philothea Press, 2010.
CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. 4 de dezembro de 1963.