No terceiro capítulo Rama P. Coomaraswamy expõe o ataque sistemático desferido contra a Sagrada Escritura pela igreja pós-conciliar. O autor estabelece, logo no início, a relação hierárquica correta entre a Igreja e a Bíblia, refutando tanto o erro protestante da Sola Scriptura quanto a traição modernista que reduz a Bíblia a mito e literatura profana. A tese central da obra é clara: "A Igreja não sai da Escritura, mas, ao contrário, a Escritura sai da Igreja" (Fr. Urquart, citado na p. 45).
📜 A Primazia da Tradição sobre a Escritura
O autor reafirma o ensino católico perene de que existem duas fontes de Revelação: a Tradição e a Escritura. Contudo, ele enfatiza que, estritamente falando, a Escritura é parte da Tradição. Nesta perspectiva, a Tradição é a fonte principal, pois é mais extensa e essencial, visto que a Igreja existia muito antes de o Novo Testamento ser redigido. Cristo não escreveu uma única linha, nem ordenou aos Seus Apóstolos que o fizessem; Ele fundou uma Igreja docente e enviou os Apóstolos para pregar oralmente, não para distribuir bíblias.
Coomaraswamy recorda que a própria autoridade das Escrituras depende inteiramente da Igreja Católica. Foi a Igreja, no Concílio de Cartago (397), guiada pelo Espírito Santo, que determinou o Cânon bíblico oficial. Sem a autoridade da Igreja, a Bíblia seria apenas um livro humano, conforme atesta Santo Agostinho ao declarar que não creria no Evangelho se a isso não o movesse a autoridade da Igreja Católica (p. 46). Assim, o autor defende a Igreja das acusações protestantes de ter escondido a Bíblia, argumentando que a Igreja sempre a venerou e protegeu na Vulgata Latina para evitar a corrupção do texto, condenando apenas traduções falsas e heréticas produzidas para atacar a Fé.
🛡️ A Tática Protestante e a Traição das Novas Traduções
O autor traça um paralelo analítico entre a Reforma Protestante e a revolução pós-Vaticano II. Reformadores como Lutero, Tyndale e Cranmer utilizaram as Escrituras contra a Igreja alterando palavras-chave para destruir a doutrina da Missa e do Sacerdócio. Onde se lia "altar", traduziram "mesa"; onde se lia "sacerdote", colocaram "ancião"; onde se lia "graça", puseram "favor". Coomaraswamy demonstra que a igreja pós-conciliar adotou exatamente a mesma tática, utilizando novas traduções aprovadas por Roma e feitas em "cooperação ecumênica" com hereges, o que introduziu distorções doutrinárias graves. O autor cita especificamente a New American Bible e a Jerusalem Bible como veículos eficazes do modernismo.
✝️ Exemplos de Falsificação e Alteração Doutrinária
Entre os exemplos mais flagrantes de falsificação citados no texto, destaca-se a abolição do termo "alma" nas traduções modernas, que preferem termos como "ser" ou "eu". No Magnificat, por exemplo, a expressão tradicional "minha alma engrandece o Senhor" tornou-se "meu ser proclama", enquanto a advertência de Cristo sobre perder a "alma" foi alterada para "destruir a si mesmo" (p. 49-50). Somado a isso, nota-se a negação do Inferno, termo quase totalmente abolido e removido dos ciclos de leitura da "Missa Nova", resultando na perda da crença na condenação eterna. Ocorreu também um ataque à divindade de Cristo e à honra da Virgem Maria: a ressurreição ativa de Cristo foi mudada para a voz passiva ("foi ressuscitado") e a saudação "cheia de graça" foi vulgarizada para "altamente favorecida", termo que nega implicitamente o dogma da Imaculada Conceição (p. 51).
🔬 A Exegese Modernista: A Ciência da Descrença
O texto denuncia a "nova exegese" católica, que abandonou a sabedoria dos Santos Padres em favor da "crítica histórica" racionalista. Antigamente, um livro com o Nihil Obstat garantia a ortodoxia; hoje, é usado para veicular erros grosseiros. Coomaraswamy ataca o método histórico-crítico, personificado em figuras como Rudolf Bultmann e o Padre Raymond Brown, que tratam a Bíblia como literatura profana sob a capa de "ciência", negando a historicidade dos milagres e da Ressurreição física. Essa metodologia coloca o homem como juiz da Revelação e a hierarquia pós-conciliar é criticada por proteger esses acadêmicos enquanto persegue os defensores da Tradição, chamando-os de "fundamentalistas".
☦️ A Heresia da Eleição Pessoal e o Apelo à Tradição
Citando Santo Agostinho, o texto lembra que "heresia" vem do grego para "escolha", significando que o herege escolhe, baseado em seu juízo privado, o que quer acreditar. As novas traduções e a exegese moderna são exercícios de julgamento privado elevados ao nível de magistério oficial. Coomaraswamy encerra o capítulo com um apelo dramático: a única maneira de entender as Escrituras é através dos olhos da Igreja de Sempre e dos Santos. O autor reforça que abandonar a interpretação tradicional em favor das novidades modernas é cair na maldição contra aqueles que deturpam a Palavra de Deus, exortando os fiéis a permanecerem firmes nas tradições ensinadas (p. 57).
📚 Referência Bibliográfica:
COOMARASWAMY, Rama P. The Destruction of the Christian Tradition: Updated and Revised. Bloomington: World Wisdom, 2006.