“Quando o Concílio discutiu o texto emendado, alguns bispos pediram pelo retorno do texto original, que dizia: 'A Igreja de Cristo é a Igreja Católica'. Uma razão que a Comissão Doutrina deu para rejeitar essa emenda foi que o retorno do est (é) daria ao texto um sentido restritivo. A recusa de retornar ao est sob a base de que este daria ao texto um sentido restritivo mostra que a intenção da Comissão Doutrinal ao usar o subsistit in em vez do est foi de dar ao texto um sentido menos restritivo do que ele tinha quando dizia 'A Igreja Católica é a Igreja de Cristo.' Em outras palavras, as discussões conciliares fornecem clara prova de que, indo de 'é' para 'subsiste em', a Comissão Doutrinal realmente pretendeu introduzir uma mudança de significado no texto... ” Francis A. Sullivan, Questio Disputata: The meaning of subsistit in as explained by the Congregation for the Doctrine of the Faith. In: Theological Studies, n. 69 (2008), p. 120, 122 e 124. citado em: Controvérsia Católica.
A transição do termo "é" para "subsiste em", ocorrida durante o Concílio Vaticano II, é um ponto central na crítica que muitos teólogos tradicionais e conservadores fazem à eclesiologia pós-conciliar. Essa mudança semântica, embora pareça sutil, carrega profundas implicações teológicas e eclesiológicas, especialmente no que tange à identidade da Igreja de Cristo e sua relação com a Igreja Católica Romana.
Historicamente, a Igreja Católica sempre ensinou que a Igreja de Cristo é a Igreja Católica, ou seja, que ambas são idênticas e inseparáveis. Esta visão foi claramente articulada em documentos papais anteriores ao Vaticano II, como a encíclica Mystici Corporis de Pio XII, que afirma a identidade entre o Corpo Místico de Cristo e a Igreja Católica Romana. Neste contexto, "é" (ou "est", em latim) indica uma identificação direta e exclusiva: a Igreja de Cristo não pode ser encontrada fora da Igreja Católica.
A mudança para "subsiste em" no documento Lumen Gentium do Vaticano II introduz uma nova compreensão. "Subsiste em" sugere que a Igreja de Cristo continua a existir plenamente na Igreja Católica, mas também reconhece que elementos de santificação e verdade podem estar presentes fora de seus limites visíveis, nas chamadas "Igrejas separadas" ou "comunidades eclesiais". Isso implica que a plenitude da Igreja de Cristo está na Igreja Católica, mas de alguma forma, a Igreja de Cristo pode estar presente, embora de maneira incompleta, em outras comunidades cristãs.
Essa mudança tem várias implicações teológicas
Diluição da Exclusividade: O uso de "subsiste em" é visto pelos críticos como uma diluição da exclusividade da Igreja Católica como única detentora da verdade e da salvação. Se a Igreja de Cristo pode "subsistir" de forma imperfeita fora da Igreja Católica, então a necessidade de pertencer exclusivamente à Igreja Católica para alcançar a salvação parece ser menos absoluta do que antes.Abertura ao Ecumenismo: A nova formulação é considerada por muitos como uma tentativa de abrir caminho para o ecumenismo, um dos objetivos centrais do Vaticano II. Ao reconhecer a presença de elementos de verdade e santificação em outras comunidades cristãs, o Concílio visava promover um diálogo mais inclusivo e fraterno entre as diversas denominações cristãs, o que, segundo os críticos, pode ter comprometido a clareza doutrinal sobre a unicidade e exclusividade da Igreja Católica.
Ruptura com a Tradição: Para os defensores da doutrina tradicional, a mudança representa uma ruptura com o ensinamento anterior, que afirmava de forma inequívoca que a Igreja de Cristo era exclusivamente a Igreja Católica. Eles veem isso como uma concessão perigosa ao relativismo teológico, que pode levar à confusão entre os fiéis sobre a verdadeira natureza da Igreja e o caminho para a salvação.