O espírito moderno, tendo perdido o rumo da fé, busca na razão humana a solução para os grandes mistérios da existência, inclusive a identidade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Um desses esforços intelectuais, conhecido como o Trilema, propõe uma encruzilhada lógica: diante de Suas próprias palavras, Cristo só poderia ser um lunático, um mentiroso, ou de fato o Senhor. Embora tal exercício da razão possa servir de ponto de partida, ele apenas arranha a superfície de uma verdade muito mais profunda, uma verdade que a confusão de nossa época, infestada por doutrinas nefastas.
A questão central levantada pelo dilema "Lunático, Mentiroso ou Senhor" é a identidade de Jesus Cristo. Enquanto a argumentação lógica oferece um ponto de partida indispensável para a razão, a verdadeira compreensão de quem é Cristo transcende a apologética e mergulha no mistério da vida sobrenatural. Analisar a divindade de Cristo não é apenas um exercício intelectual, mas o portal para a vida interior, a união com Deus, que é o destino final da alma.
💡A Fundação da Fé: Para Além da Lógica Humana
A lógica do Trilema conduz a mente a uma encruzilhada inescapável. No entanto, a adesão à divindade de Cristo não se completa apenas com a certeza racional. Existe uma distinção fundamental entre a fé adquirida, que nasce do exame histórico e lógico, e a fé infusa, que é um dom essencialmente sobrenatural. A fé adquirida pode convencer o intelecto de que Cristo não era um mentiroso nem um lunático, mas apenas a fé infusa, um dom de Deus, pode introduzir a alma num mundo superior, permitindo-lhe aderir à verdade revelada não apenas como uma conclusão lógica, mas como a própria Palavra de Deus (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 52-54).
As palavras de Cristo não são meras proposições para análise, mas são "espírito e vida" (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 30). Elas comunicam uma realidade divina que só pode ser plenamente recebida através da graça. Portanto, o Trilema serve como um meio providencial para remover os obstáculos da razão, preparando o terreno para que a alma receba a luz da fé infusa. Sem esta graça, mesmo a mais brilhante conclusão lógica permanece estéril, incapaz de justificar e santificar a alma. A verdadeira fé não é apenas a ausência de dúvida racional, mas uma adesão viva e amorosa que transforma toda a existência.
A lógica do Trilema conduz a mente a uma encruzilhada inescapável. No entanto, a adesão à divindade de Cristo não se completa apenas com a certeza racional. Existe uma distinção fundamental entre a fé adquirida, que nasce do exame histórico e lógico, e a fé infusa, que é um dom essencialmente sobrenatural. A fé adquirida pode convencer o intelecto de que Cristo não era um mentiroso nem um lunático, mas apenas a fé infusa, um dom de Deus, pode introduzir a alma num mundo superior, permitindo-lhe aderir à verdade revelada não apenas como uma conclusão lógica, mas como a própria Palavra de Deus (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 52-54).
As palavras de Cristo não são meras proposições para análise, mas são "espírito e vida" (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 30). Elas comunicam uma realidade divina que só pode ser plenamente recebida através da graça. Portanto, o Trilema serve como um meio providencial para remover os obstáculos da razão, preparando o terreno para que a alma receba a luz da fé infusa. Sem esta graça, mesmo a mais brilhante conclusão lógica permanece estéril, incapaz de justificar e santificar a alma. A verdadeira fé não é apenas a ausência de dúvida racional, mas uma adesão viva e amorosa que transforma toda a existência.
🍇O Mistério da Encarnação e os Seus Frutos
A conclusão de que Jesus é o Senhor abre a porta para o mistério central do Cristianismo: a Encarnação. Ele não é apenas um ser divino distante, mas "o Verbo que se fez carne e habitou entre nós" (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 104). Esta verdade é a fonte de toda a vida interior. Cristo é a "videira verdadeira", e nós, os "ramos", que não podem dar fruto por si mesmos (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 109). A sua divindade não é um título honorífico, mas a causa eficiente da nossa salvação e santificação.
Da Sua plenitude, recebemos a vida da graça, que é uma participação na própria vida íntima de Deus (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 34). Ele é a Cabeça do Corpo Místico, comunicando a cada membro o influxo vital da graça através dos sacramentos, especialmente da Eucaristia (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 111-112). Portanto, aceitar Cristo como Senhor é reconhecê-Lo como a fonte da nossa vida sobrenatural, o manancial de "água viva que jorra para a vida eterna" (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 34). A lógica do Trilema, ao estabelecer a Sua identidade, aponta para esta realidade dinâmica: a união progressiva da alma com Cristo.
🙏A Humildade do Deus-Homem: O Paradoxo Divino
As opções "lunático" ou "mentiroso" perdem a sua força quando se contempla o mistério da humildade de Cristo. A Sua divindade não foi exercida com a arrogância de um tirano, mas com a humildade de um servo. Ele, "sendo de condição divina, [...] aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo" (Garrigou-Lagrange, 1989b, p. 127). Este ato de kenosis (esvaziamento) é o selo da autenticidade divina. Um lunático não possui tal coerência, e um mentiroso não se humilharia até à morte de cruz para sustentar uma falsidade.
A Sua vida foi a manifestação de um amor que se entrega totalmente, unindo a mais profunda humildade à mais alta magnanimidade (Garrigou-Lagrange, 1989b, p. 132). Ele não veio "para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Garrigou-Lagrange, 1989b, p. 124). Esta união de opostos — majestade e humildade, poder e serviço — é a assinatura do divino. A Sua divindade é a divindade do Bom Pastor que dá a vida pelas Suas ovelhas. Contemplar este paradoxo dissolve a aparente força das alternativas propostas pelo Trilema e revela a sabedoria da Cruz, que é "escândalo para os judeus e loucura para os gentios, mas para os que são chamados [...] poder de Deus e sabedoria de Deus" (Garrigou-Lagrange, 1989b, p. 481).
🔥O Objetivo Final: A União Íntima com Cristo
O Trilema, em última análise, não é um fim em si mesmo, mas um convite. Aceitar Jesus como Senhor é o primeiro passo de uma jornada que deve conduzir à união íntima com Ele. A vida cristã não se resume a uma adesão intelectual, mas a uma transformação progressiva da alma, que passa por três idades espirituais: a via purgativa dos principiantes, a via iluminativa dos proficientes e a via unitiva dos perfeitos (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 225).
O objetivo final é a contemplação infusa dos mistérios de Cristo e a união de amor que dela resulta (Garrigou-Lagrange, 1989b, p. 280). Esta união não é um privilégio extraordinário, mas o desenvolvimento normal da vida da graça na alma que é fiel (Garrigou-Lagrange, 1989b, p. 319). Passa-se de uma meditação discursiva sobre quem é Cristo para uma contemplação amorosa, um "comércio de amizade" com Aquele que sabemos que nos ama (Garrigou-Lagrange, 1989a, p. 445). A lógica do Trilema estabelece o fundamento, mas a vida de oração, os sacramentos e a docilidade ao Espírito Santo constroem o edifício espiritual sobre essa rocha, que é Cristo, conduzindo a alma à união transformante, o prelúdio da vida eterna (Garrigou-Lagrange, 1989b, p. 527).
📚Referências
Garrigou-Lagrange, R. The three ages of the interior life: prelude of eternal life. Volume one. Rockford: TAN Books and Publishers, 1989a.
Garrigou-Lagrange, R. The three ages of the interior life: prelude of eternal life. Volume two. Rockford: TAN Books and Publishers, 1989b.