A premissa da Gaudium et Spes é um diálogo aberto e otimista com o "homem de hoje". Cekada argumenta que este ponto de partida representa uma inversão radical da missão da Igreja. Em vez de a Igreja formar o homem segundo as verdades de Deus, a liturgia deveria agora ser "adaptada" para responder aos "requerimentos dos nossos tempos" (CEKADA, p. 192. Citação de Paulo VI sobre a necessidade de adaptar a tradição às "condições modernas"). Cekada cita um dos próprios arquitetos do Novus Ordo, Carlo Braga, que admite que a revisão das orações foi ditada pela "nova visão de valores humanos, considerada como uma relação e como um caminho para os bens sobrenaturais" (CEKADA, p. 282). Para Cekada, esta é a confissão explícita de que o critério para a reforma não foi a Tradição apostólica, mas a psicologia e a sociologia do homem moderno. O "homem contemporâneo", com sua aversão ao sacrifício, ao sofrimento, à hierarquia e ao sobrenatural, tornou-se a nova norma da oração. A liturgia, que era um ato teocêntrico, foi reformulada para se tornar uma experiência antropocêntrica, um processo que Cekada vê como a rendição da fé à mentalidade secular.
Uma vez estabelecido o "homem moderno" como o padrão, a consequência lógica, demonstra Cekada, foi a eliminação sistemática de tudo aquilo que pudesse ofender a sua sensibilidade. Os reformadores, sob a bandeira de remover o que era "pastoralmente inadequado", empreenderam uma purga da chamada "teologia negativa" — que, na realidade, era simplesmente a teologia católica tradicional sobre o pecado e a graça. Cekada documenta meticulosamente como este expurgo, inspirado pelo otimismo da Gaudium et Spes, se manifestou:
1. A doutrina tradicional sobre o desprezo pelo mundo (contemptus mundi) e o conflito entre o cristão e o "espírito do mundo" foi sistematicamente erradicada. Orações que pediam para terrena despicere (desprezar as coisas terrenas) foram reescritas para pedir a graça de "considerar sabiamente as coisas terrenas" (CEKADA, p. 294). O campo de batalha espiritual tornou-se um campo de diálogo amigável. 2.A linguagem que descrevia a perversidade do pecado, a ira divina, o castigo, a danação eterna e a nossa própria fragilidade e indignidade foi eliminada por ser "demasiado negativa" e de "pouca relevância para a mentalidade do homem moderno" (CEKADA, p. 283). 3.A remoção da "teologia negativa" diminuiu, por consequência, a necessidade da graça redentora. Se o homem e o mundo são fundamentalmente bons, e o conflito espiritual é minimizado, o drama da salvação perde a sua urgência.
A crítica de Cekada atinge o seu clímax quando ele demonstra que a nova liturgia não apenas reflete a filosofia da Gaudium et Spes, mas incorpora a sua própria linguagem. As novas Orações Eucarísticas, especialmente as de Reconciliação e para Várias Necessidades, são, para Cekada, pouco mais do que sermões humanistas que parafraseiam o documento conciliar. Ele aponta para o uso recorrente de jargão como: "Examinando os sinais dos tempos": Uma citação direta da Gaudium et Spes inserida numa oração litúrgica (CEKADA, p. 414). "Peregrinação terrena" e "jornada da vida": Metáforas que promovem a ideia modernista da Igreja e do dogma em constante evolução, em vez da Igreja como depositária de uma verdade imutável. "Paz e justiça": A transformação do culto em ativismo social, um dos objetivos explícitos da Gaudium et Spes.
Para Cekada, esta adoção linguística é a prova final da capitulação. A linguagem do Sacrifício, da propiciação e da adoração foi substituída pela linguagem da sociologia, da psicologia e do diálogo inter-religioso. A Missa tornou-se, de fato, a Gaudium et Spes em ação.
Na análise de Anthony Cekada, a Gaudium et Spes não é meramente um dos dezesseis documentos do Vaticano II; é a sua chave hermenêutica e a sua alma revolucionária. Ao colocar o "homem moderno" e o "mundo de hoje" no centro das suas preocupações, ela forneceu a justificação teológica para desmantelar um rito milenar que estava centrado em Deus, no pecado e na eternidade. O Novus Ordo Missae é, portanto, a consequência litúrgrica inevitável da revolução antropológica da Gaudium et Spes. Nas palavras do próprio Papa Paulo VI, que presidiu a ambos, tratava-se de instituir o "culto do Homem". Para Cekada, a Missa Nova não é outra coisa senão isto: a liturgia da Igreja do homem que se fez deus.
Referência
Cekada, Anthony. Obra de Mãos Humanas: Uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. (2010),