⛪️ Infância e Formação Inicial
Francesco Spadafora nasceu a 1 de janeiro de 1913, em Cosenza, na Calábria, uma região pobre e profundamente católica do sul da Itália. Filho de uma família de classe média baixa, cresceu num ambiente devoto, onde a fé católica era o eixo da vida quotidiana. Poucos detalhes pessoais são conhecidos sobre a sua infância — uma discrição típica dos clérigos da sua época —, mas a sua vocação precoce sugere uma educação familiar enraizada nos valores evangélicos e na devoção mariana.
Aos 14 anos, em 1927, ingressou no Seminário Regional de Catanzaro, então dirigido por jesuítas de renome, conhecidos pela sua rigorosa formação intelectual e espiritual. O seminário era um centro de excelência teológica, onde Spadafora absorveu os fundamentos da teologia escolástica, a filosofia aristotélico-tomista e a exegese bíblica tradicional. A sua inteligência excecional chamou a atenção desde cedo: concluiu os estudos filosóficos e teológicos com distinção, demonstrando particular aptidão para as línguas bíblicas (hebraico, grego e latim) e a patrística.
Em 10 de agosto de 1935, aos 22 anos, foi ordenado sacerdote. Imediatamente após a ordenação, prosseguiu os seus estudos na Pontifícia Faculdade Teológica de Posillipo, em Nápoles, onde obteve a licença em Teologia em 1936. A sua tese inicial, focada na escatologia paulina, já revelava a sua inclinação para a exegese científica, mas sempre subordinada à autoridade magisterial da Igreja.
📚 Carreira Acadêmica e Ascensão como Biblista
A carreira de Spadafora ascendeu rapidamente. Em 1937, foi nomeado professor assistente de Sagrada Escritura no Seminário de Catanzaro. A sua reputação como exegeta levou-o a Roma em 1940, onde se doutorou em Teologia na Pontifícia Universidade Lateranense com uma tese sobre a escatologia em São Paulo, publicada como L'escatologia in San Paolo (1958). A obra foi elogiada pela sua fidelidade à doutrina católica e criticada por modernistas por rejeitar interpretações subjetivistas.
Em 1946, Spadafora tornou-se professor titular de Exegese Bíblica na Lateranense, uma das mais prestigiadas instituições teológicas romanas. Ali, lecionou por mais de quatro décadas, formando milhares de seminaristas, bispos e teólogos. A sua cátedra era um baluarte contra o que ele denominava "infatuação pelos sistemas racionalísticos protestantes", defendendo a autoridade do Magistério na interpretação das Escrituras, conforme os Concílios de Trento e Vaticano I. Spadafora enfatizava que o exegeta católico deve "manter o verdadeiro sentido da Sagrada Escritura, aquele que a Santa Madre Igreja manteve e mantém".
Durante os anos 1950, colaborou com comissões pontifícias e atuou como perito teológico no Concílio Vaticano II. No entanto, a sua participação foi ambígua: embora leal ao Papa Paulo VI, criticou internamente as tendências modernistas emergentes, como a ênfase no historicismo bíblico sem salvaguardas doutrinais.
⚔️ Engajamento Antimodernista e Contribuições Polêmicas
Spadafora foi um dos mais ferrenhos opositores do modernismo bíblico. Nos anos 1950, envolveu-se em polémicas com exegetas como Maximilian Zerwick e Stanislas Lyonnet, a quem acusava de promoverem uma exegese "protestantizante" que relativizava dogmas como a inspiração divina e a inerrância bíblica. Numa ocasião notável, alertou Lyonnet de que a sua interpretação era "inconciliável com a doutrina católica".
A sua produção intelectual explodiu nas décadas de 1960 e 1970, com obras como La resurrezione di Gesù (1967) e I miracoli del Vangelo (1972), todas defendendo a historicidade e o caráter sobrenatural dos Evangelhos contra o ceticismo do método histórico-crítico.
Um dos seus legados mais duradouros é o prefácio ao livro A “Nova Teologia”: Os Que Pensam Que Venceram (2001), no qual endossou a crítica à teologia modernista como "urgente e necessária", alertando que os erros doutrinais pós-Vaticano II ameaçavam os fundamentos da fé. Essa colaboração ligou-o ao movimento antimodernista italiano, influenciando círculos como a revista Sì Sì No No e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
🏛️ Visões Políticas e Ideológicas: A Defesa da Ortodoxia Inabalável
Como teólogo católico, Spadafora era um tomista convicto, vendo em São Tomás de Aquino o modelo de síntese entre fé e razão. Rejeitava o subjetivismo da "Nova Teologia" (de Lubac, Congar e Rahner), argumentando que esta diluía a graça e a imutabilidade dos dogmas. Politicamente conservador, apoiava a doutrina social da Igreja pré-conciliar, criticava o ecumenismo como um risco de sincretismo e defendia a primazia papal contra o colegialismo. A sua visão era providencialista: a crise pós-conciliar era um teste divino, mas a Igreja, guiada pelo Magistério, prevaleceria.
🕯️ Vida Posterior, Legado e Morte
Nos anos 1980, Spadafora aposentou-se da Lateranense, mas continuou ativo como consultor teológico e escritor. Dedicou os seus últimos anos à oração e à correspondência com tradicionalistas. Faleceu em 10 de março de 1997, em Roma, aos 84 anos.
O legado de Spadafora é reverenciado em círculos católicos tradicionais, onde é visto como um "mártir intelectual" da ortodoxia. As suas obras continuam a influenciar aqueles que buscam restaurar a exegese católica autêntica. Embora os críticos progressistas o acusem de obscurantismo, a sua fidelidade inabalável ao Magistério torna-o um pilar para muitos.