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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Ataques à Igreja Católica - o galicanismo

O Galicanismo é uma doutrina que defende a autonomia da Igreja Católica na França em relação à autoridade do Papa, particularmente em questões administrativas e disciplinares. Seu desenvolvimento é um processo gradual, mas podemos identificar suas raízes e formalização ao longo de vários séculos:
Origens do Galicanismo:Idade Média: As ideias galicanas começam a emergir durante a Idade Média, quando os reis da França começaram a afirmar maior controle sobre a Igreja em seus domínios. Um exemplo disso é a resistência dos reis franceses às intervenções papais em questões políticas e eclesiásticas. Já no século XIII, durante o reinado de Filipe IV, o Belo (1285-1314), houve conflitos significativos entre o Papa Bonifácio VIII e o rei, que buscava limitar a influência do Papa sobre a Igreja francesa. O ponto culminante desses conflitos foi a bula Unam Sanctam (1302), que afirmava a supremacia do poder espiritual sobre o temporal, levando a uma ruptura temporária com o Papado.

Século XIV: As ideias galicanas foram sendo gradualmente formalizadas, especialmente durante o Cisma do Ocidente (1378-1417), quando a Cristandade Ocidental estava dividida entre diferentes pretendentes ao trono papal. Durante este período, a ideia de que a Igreja na França deveria ser governada independentemente das controvérsias papais começou a ganhar força.

Conciliarismo: Um movimento paralelo, que influenciou o Galicanismo, foi o Conciliarismo, a ideia de que um concílio geral da Igreja tinha autoridade superior ao Papa. Esta ideia foi especialmente popular durante o Concílio de Constança (1414-1418) e o Concílio de Basileia (1431-1449).

Concordato de Bolonha (1516): Um marco importante para o Galicanismo foi o Concordato de Bolonha, assinado entre o Papa Leão X e o Rei Francisco I da França. Este acordo permitiu ao rei nomear bispos e abades, reforçando a autonomia da Igreja Francesa em relação ao Papa.

Declaração dos Quatro Artigos (1682): O Galicanismo foi formalmente codificado em 1682 durante o reinado de Luís XIV (1638-1715). O arcebispo de Paris, Jacques-Bénigne Bossuet, e outros bispos franceses emitiram a Declaração dos Quatro Artigos, que afirmava:A independência das decisões papais em questões temporais, onde o poder real era supremo.

A autoridade dos concílios gerais sobre o Papa: A validade das práticas eclesiásticas estabelecidas na França, mesmo sem a aprovação papal. A infalibilidade papal só se aplica em questões de fé e com o consentimento da Igreja universal.

O Galicanismo tornou-se uma característica central da Igreja na França até a Revolução Francesa, quando a Constituição Civil do Clero de 1790 levou a uma secularização mais radical da Igreja francesa. Apesar da Declaração dos Quatro Artigos ser posteriormente repudiada pela Igreja Católica, o Galicanismo influenciou profundamente as relações entre a Igreja e o Estado na França e contribuiu para as tensões com o Papado ao longo dos séculos.