Proibições à missa tridentina: promovendo uma falsa unidade


Nos últimos anos, uma onda de decisões episcopais tem varrido dioceses ao redor do mundo, cada uma mais restritiva que a outra, com o objetivo aparente de unificar a Igreja sob uma única forma litúrgica moderna. Essas medidas, promulgadas com a justificativa de harmonia eclesial, revelam, na verdade, uma campanha sistemática contra a liturgia tradicional, a Missa Tridentina, e os fiéis que encontram nela a expressão mais pura da fé católica. Longe de promover a comunhão, tais decretos constroem muros de exclusão, marginalizando aqueles que se agarram à tradição perene da Igreja.

A retórica que acompanha essas restrições é invariavelmente a mesma: a necessidade de uma Igreja unida, livre de divisões, onde todos compartilhem a mesma prática litúrgica. Mas que tipo de unidade é essa que se alcança pela supressão daquilo que é mais antigo, mais venerável e mais santificado pelo uso secular? A Missa Tridentina, codificada por São Pio V no século XVI, não é um capricho de nostálgicos, mas o coração pulsante da espiritualidade católica, forjado por séculos de santos, mártires e doutores da Igreja. Impor sua substituição pelo rito moderno, com suas simplificações e ambiguidades, não é unir, mas dividir; não é construir, mas demolir.

Essa falsa unidade ignora a diversidade legítima que sempre caracterizou a Igreja. Por séculos, ritos variados coexistiram pacificamente, cada um enriquecendo a fé universal. Hoje, porém, sob o pretexto de uma uniformidade artificial, os fiéis tradicionalistas são tratados como estranhos em sua própria casa, forçados a buscar refúgio em capelas improvisadas ou a enfrentar a hostilidade de bispos que veem sua devoção como uma ameaça.

Não há como negar o padrão global dessas ações. De Roma às Américas, da Europa à Ásia, os decretos seguem um roteiro comum: limitações ao uso de igrejas paroquiais para a Missa em Latim, exigências burocráticas para sua celebração, e, em muitos casos, a proibição tácita de clérigos que ousem defendê-la. Essa não é uma mera reforma administrativa; é uma guerra declarada contra a tradição. A Missa Tridentina, com sua reverência, sua precisão teológica e sua orientação transcendente, é um lembrete incômodo das verdades imutáveis da fé, verdades que muitos na hierarquia moderna preferem suavizar em nome de um diálogo com o mundo secular.

Os fiéis que aderem à liturgia tradicional não são rebeldes, como alguns os acusam. São católicos comuns — famílias, jovens, idosos — que buscam a santidade através do mesmo culto que formou gerações de santos. No entanto, são eles que enfrentam a ira dos decretos, sendo relegados a horários inconvenientes, locais remotos ou, pior, ao silêncio forçado. Essa marginalização não é apenas injusta; é uma traição ao mandato da Igreja de preservar o depósito da fé.

O que torna essas medidas ainda mais graves é a contradição que elas revelam na liderança eclesial. Enquanto se fala em sinodalidade, escuta e inclusão, os tradicionalistas são excluídos sem diálogo. Enquanto se exalta a liberdade religiosa, a liberdade de culto dos fiéis da Missa Tridentina é cerceada. E enquanto se clama por uma Igreja missionária, afasta-se um grupo vibrante, cujas comunidades crescem em número e fervor, ao contrário de tantas paróquias modernas que enfrentam declínio.

Essa contradição aponta para uma crise mais profunda: a perda de confiança na própria identidade católica. A Missa Tridentina não é apenas uma forma de culto; é um símbolo da continuidade da Igreja, de sua ligação inquebrantável com o passado apostólico. Rejeitá-la é, em última análise, rejeitar a autoridade da tradição, trocando-a por uma visão progressista que se curva às pressões do tempo presente.

Diante desse cerco, os católicos tradicionalistas não podem desanimar. A história da Igreja é repleta de momentos em que a verdade foi perseguida, mas sempre prevaleceu. Hoje, como no passado, a resistência deve ser pacífica, mas firme. Participar da Missa Tridentina onde ela ainda é oferecida, apoiar sacerdotes fiéis à tradição, educar as novas gerações na doutrina católica imutável — essas são as armas dos fiéis neste combate espiritual.

Os decretos podem multiplicar-se, mas não têm o poder de apagar o que é eterno. A Missa de Sempre, como é chamada, sobreviveu a revoluções, cismas e perseguições. Sobreviverá também a essa onda de supressão, porque sua força não vem de bispos ou documentos, mas da graça divina que a sustenta.

Aos que promovem essas restrições, cabe uma pergunta: que Igreja desejam construir? Uma Igreja que sacrifica sua herança no altar da modernidade, ou uma que abraça sua história como um tesouro vivo? A verdadeira unidade não se impõe pela força, mas se constrói na caridade, respeitando a legítima diversidade de expressões da fé. Suprimir a Missa Tridentina não resolve divisões; apenas as aprofunda.