A matéria “Nem tão progressista, nem tão conservador: o perfil ideológico dos católicos no Brasil” nos brinda com aquilo que se tornou a marca registrada da Igreja pós-conciliar: a glorificação do “equilíbrio”, da ambiguidade e da confortável mornidão. A pesquisa mostra que a maioria dos católicos brasileiros — 37% — se dizem “nem progressistas, nem conservadores”, mas de “visão equilibrada”. Eis o problema. Quando se trata da Fé católica, “equilíbrio” tornou-se o eufemismo piedoso para dizer: “acreditamos em algumas verdades católicas, desde que não incomodem demais o mundo moderno”.
Essa moderação não é virtude evangélica, mas covardia travestida de ponderação. Nosso Senhor não disse: “Seja tua fé equilibrada”. Ele disse: “Seja o vosso sim: sim; e o vosso não: não.” (Mt 5,37). Mas o fiel pós-moderno responde: “Talvez, dependendo do contexto e da inclusão.” Quando 49% dizem querer uma Igreja que mantenha “parte das tradições” e se “abra a atualizações”, o que vemos é a teologia das migalhas: um pouco de latim, talvez uma vela a mais, mas que não nos falem em pecado, em inferno ou — Deus nos livre — em condenação.
Mais alarmante ainda é o número daqueles que querem uma Igreja “aberta a mudanças” — 27%! Essa é a seita do aggiornamento eterno, os devotos do espírito do tempo, sempre prontos a adaptar o Evangelho ao Twitter. Nada mais distante do verdadeiro catolicismo, que é, como definiu São Vicente de Lérins, “aquilo que foi crido em todos os lugares, sempre e por todos”.
E os “muito conservadores”? Apenas 8%. A mídia trata esse grupo como se fosse uma ameaça, quando, na verdade, são a última trincheira contra a apostasia organizada. O sociólogo citado no texto, Victor Gama, chama esses católicos de “fixistas” — como se a fidelidade à Tradição fosse uma doença. Na verdade, são os únicos ainda de pé em meio ao colapso doutrinal.
O que este levantamento mostra não é um “retrato equilibrado” dos católicos, mas a consequência previsível de décadas de catequese dissolvida, liturgia banalizada e magistério comprometido com o mundo. Não temos um povo católico moderado. Temos um povo católico desorientado.
Portanto, deixemos de nos enganar com esse discurso de centro. Como escreveu o Apocalipse: “Porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” (Ap 3,16). A Fé Católica não é uma média entre heresia e verdade. É a verdade inteira — ou não é nada.
Referências
LÉRINS, São Vicente de. Commonitorium. In: MIGNE, Jacques Paul (Ed.). Patrologia Latina, v. 50. Paris: Garnier, 1844. p. 639-676.
VEJA. Nem tão progressista, nem tão conservador: o perfil ideológico dos católicos no Brasil. São Paulo, 18 maio 2025. Disponível em: https://veja.abril.com.br. Acesso em: 18 maio 2025.
CEKADA, Anthony. The Problems with the New Mass: A Critical Study of the Novus Ordo Missae. 2. ed. St. Louis: Roman Catholic Books, 2002.