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sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Teoria da hierarquia das verdades - Igreja Pós-Vaticano II

1964 é quando o conceito "hierarquia das verdades" apareceu oficialmente pela primeira vez no Decreto Unitatis Redintegratio (Decreto sobre o Ecumenismo) do Concílio Vaticano II, promulgado em 21 de novembro de 1964. Especificamente, aparece no parágrafo 11 do decreto:

"No diálogo ecumênico, os teólogos católicos, bem informados da doutrina da Igreja, ao investigarem com os irmãos separados os divinos mistérios devem proceder com amor à verdade, caridade e humildade. Ao comparar as doutrinas lembrem-se que existe uma ordem ou 'hierarquia' das verdades da doutrina católica, já que o nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente."

Este conceito, que originalmente visava facilitar o diálogo ecumênico mantendo a integridade da fé católica, foi posteriormente reinterpretado por teólogos progressistas nas décadas de 1960 e 1970 de uma maneira mais radical, levando a diferentes interpretações e controvérsias dentro da Igreja.

Outras datas relevantes incluem:
1965-1967: Período em que teólogos como Edward Schillebeeckx e Karl Rahner começaram a desenvolver interpretações mais expansivas do conceito
1973: Publicação da Declaração "Mysterium Ecclesiae" pela Congregação para a Doutrina da Fé, que buscou esclarecer e corrigir interpretações errôneas da teoria
1995: Encíclica "Ut Unum Sint" de João Paulo II, que reafirmou o conceito original enquanto alertava contra interpretações relativistas

A teoria da hierarquia das verdades ganhou força significativa no período pós-Concílio Vaticano II, encontrando defensores entre teólogos, cardeais e líderes eclesiásticos proeminentes. O Cardeal Suenens, uma das vozes mais influentes desta corrente, estabeleceu uma base fundamental ao declarar: "Devemos reconhecer que nem todas as verdades são igualmente centrais... Para o diálogo ecumênico, precisamos nos concentrar primeiro no que nos une, deixando para um segundo momento as questões que nos separam."

Esta linha de pensamento foi amplamente desenvolvida por Edward Schillebeeckx, que em sua obra "Igreja ou Igrejas?" (1968) afirmou: "O ecumenismo exige uma nova abordagem da verdade revelada. Certas doutrinas, embora parte de nossa tradição, podem ser temporariamente postas em segundo plano para facilitar o diálogo com nossos irmãos separados."

Hans Küng, em sua obra "A Igreja" (1967), reforçou esta perspectiva: "Uma verdadeira renovação ecumênica requer que repensemos como apresentamos nossas doutrinas. Dogmas como a infalibilidade papal e os dogmas marianos, embora importantes para os católicos, não deveriam ser obstáculos para o diálogo com outras denominações cristãs."

Karl Rahner, em seus "Escritos Teológicos", elaborou uma justificativa teológica sofisticada: "No contexto do ecumenismo moderno, devemos distinguir entre as verdades fundamentais compartilhadas por todos os cristãos e aquelas doutrinas que, embora verdadeiras, não são essenciais para a unidade básica da fé."

O Cardeal Kasper, em seu "Manual de Ecumenismo Espiritual" (2007), propôs uma abordagem prática: "O diálogo ecumênico progride quando nos concentramos primeiro nas verdades fundamentais sobre Cristo e a salvação, deixando para um momento posterior as questões que historicamente nos dividiram."

Gregory Baum, em "Progresso e Perspectivas no Diálogo Ecumênico", ofereceu uma visão mais prática: "A hierarquia das verdades nos permite reconhecer que certas doutrinas católicas, embora verdadeiras, não precisam ser enfatizadas no diálogo inicial com outras denominações cristãs. Isto inclui aspectos de nossa mariologia e eclesiologia."

Yves Congar, em "Diálogo Entre Cristãos", sintetizou o pensamento progressista: "O ecumenismo verdadeiro requer que saibamos distinguir entre o que é absolutamente essencial à fé cristã e o que, embora verdadeiro e valioso, pode ser deixado para discussão posterior no processo de unificação."

O Cardeal Godfried Danneels sintetizou a abordagem progressista em suas conferências: "Devemos apresentar nossa fé de forma gradual, começando pelo que nos une com outros cristãos, antes de abordar questões mais específicas da tradição católica."

Esta teoria encontrou respaldo institucional significativo, sendo desenvolvida em centros como o Instituto de Estudos Ecumênicos de Tübingen e o Centro Pro Unione em Roma, que produziram extensos estudos e documentos sobre sua aplicação prática no diálogo ecumênico. O "Malta Report" de 1972 e o documento "Growing Together in Unity and Mission" (2007) representam esforços concretos de implementação desta abordagem no diálogo interconfessional.