Ó homens de nosso tempo, que vos vangloriais da vossa ciência e liberdade, parai por um instante e vede a ruína que construístes! A modernidade, com suas promessas de progresso e emancipação, não fez senão erguer um altar ao próprio homem, destronando Aquele que é o princípio e fim de todas as coisas. É esta a tragédia que nos acomete: a substituição da ordem divina por uma desordem humana, que se pavoneia sob os nomes de humanismo secular e democracia liberal.
O humanismo secular, essa doutrina que coloca o homem como medida de todas as coisas, é a raiz de nossa miséria espiritual. Proclama-se a autonomia da razão, mas olvida-se que a razão, sem a luz da fé, é cega e conduz ao abismo. O homem moderno, inebriado por sua pretensa suficiência, rejeita a humildade diante de Deus e faz de si mesmo um ídolo. Este culto ao ego, que nega a transcendência, reduz a existência a uma busca frenética por prazeres e poder, esvaziando a alma de seu verdadeiro fim. O humanismo, ao prometer liberdade, entrega-nos a servidão do vazio, pois, como nos ensina a Escritura, só em Deus repousa a nossa esperança.
E que dizer da democracia liberal, esse outro pilar da modernidade? Sob o pretexto de igualdade, ela nivela o que é desigual, confundindo a dignidade da pessoa com a uniformidade das vontades. Na sua essência, a democracia liberal é filha do relativismo, pois nega a existência de uma verdade objetiva que ordene a sociedade. Ao dar voz a todos, silencia a Voz que verdadeiramente importa. O igualitarismo que ela promove dissolve as hierarquias naturais e divinas, transformando a política numa disputa de paixões desordenadas. Longe de ser um sistema de justiça, é um convite à anarquia moral, onde o bem comum é sacrificado no altar das ambições individuais.
Nós, que ainda guardamos em nossos corações a chama da fé, devemos resistir a essa maré de confusão. A modernidade, com seus falsos deuses, não pode oferecer a paz que só se encontra na obediência à lei divina. É preciso retornar à Cidade de Deus, rejeitando as seduções da Cidade dos Homens. Somente na humildade, na oração e na fidelidade à Igreja poderemos encontrar o caminho para restaurar a ordem que o mundo moderno destruiu.
Referência
Corção, Gustavo. Dois Amores, Duas Cidades. Rio de Janeiro: Agir, 1967.