20 MAIO - S. BERNARDINO DE SENA, Confessor


Semiduplex

São Bernardino de Sena, nascido em 8 de setembro de 1380, em Massa Marítima, na Toscana, entrou para a Ordem dos Frades Menores (franciscanos) em 1402, sendo ordenado sacerdote em 1404. Sua incansável pregação levou-o a percorrer a Itália, onde converteu multidões até sua morte em 20 de maio de 1444, em Áquila. Canonizado em 1450 por Papa Nicolau V, apenas seis anos após sua morte, sua festa foi fixada no calendário litúrgico para este dia, em honra à sua entrega total a Deus e aos irmãos. A alma de Bernardino foi um espelho da humildade e da caridade, virtudes que ele cultivou com fervor no seguimento de Cristo pobre e crucificado. Como franciscano, abraçou a simplicidade, rejeitando as honras mundanas para se dedicar à pregação do Evangelho, com uma eloquência que inflamava corações endurecidos. Sua devoção ao Santíssimo Nome de Jesus, que ele propagava com um monograma (IHS) em tábuas que carregava, era o coração de sua espiritualidade. Ele via nesse Nome a fonte de toda graça e fortaleza, exortando os fiéis a uma conversão contínua e a uma vida de penitência. Sua ascese rigorosa e sua compaixão pelos pobres e doentes fizeram dele um verdadeiro pastor, que guiava as almas não por temor, mas pelo amor divino. Entre as muitas contribuições de São Bernardino, destaca-se sua obra de sermões, especialmente os Sermones eximii, onde expõe com clareza a doutrina cristã e a moral evangélica. Um trecho representativo de sua pregação, extraído de um de seus sermões sobre o Nome de Jesus, reflete sua espiritualidade: Ó Nome glorioso, Nome cheio de graça, Nome que salva! Em ti está a vitória sobre o inimigo, a fortaleza para os fracos, a luz para os que andam nas trevas. Que alma não se inflame de amor ao meditar em ti, Jesus, Salvador dos homens?

Introito (Sl 36, 30-31 | ib., 1)
Os justi meditábitur sapiéntiam, et lingua ejus loquétur judícium... A boca do justo fala a sabedoria e a sua língua profere a equidade. A lei de seu Deus está em seu coração. Sl. Não tenhas ciúmes dos maus, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade.

Epístola (Eclo 31, 8-11)
Bem-aventurado o homem que foi encontrado sem mancha, que se não deixou atrair pelo ouro, nem pôs sua esperança no dinheiro ou em riquezas. Quem é este, para nós o louvarmos? Porque fez coisas maravilhosas em sua vida. O que assim foi provado e encontrado perfeito, terá uma glória eterna. Pôde transgredir a lei de Deus, e não a transgrediu; pôde praticar o mal e não o fez: por isso, os bens dele estão firmemente estabelecidos no Senhor, e toda a assembleia dos santos proclamará as suas esmolas.

Evangelho (Mt 19, 27-29)
Naquele tempo, disse Pedro a Jesus: Eis que abandonamos tudo e Vos seguimos: que recompensa haverá então para nós? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade vos digo, que no dia da regeneração, quando o Filho do homem se assentar no trono de sua glória, também vós, que me seguistes, assentar-vos-eis em doze tronos, e julgareis as doze tribos de Israel. E todo aquele que deixar a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as terras, por causa de meu Nome, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.

Homilias e Explicações Teológicas
O desapego às riquezas, conforme ensina a Escritura, não é apenas uma renúncia material, mas uma disposição interior que eleva a alma para buscar o tesouro eterno, pois o coração que se liberta do ouro transitório encontra a verdadeira riqueza na caridade divina, que não perece (Santo Agostinho, Sermões sobre o Evangelho de Mateus, 61). A recompensa prometida àqueles que deixam tudo por amor a Deus não é um cálculo humano de mérito, mas um dom gratuito da graça divina, que transcende toda expectativa terrena, configurando o discípulo à imagem de Cristo crucificado (Santo Tomás de Aquino, Comentário ao Evangelho de Mateus, 19). A pregação fervorosa do Nome de Jesus, como prática espiritual, é um chamado à contemplação da humildade do Verbo Encarnado, que, sendo rico, se fez pobre por nós, ensinando-nos a encontrar na sua pobreza a verdadeira abundância (Santo Boaventura, Sermões sobre o Nome de Jesus, 3). Aquele que renuncia aos bens terrenos por causa do Reino não apenas recebe em abundância, mas participa da comunhão dos santos, onde a alegria do céu é compartilhada na caridade perfeita (Santo Ambrósio, Tratado sobre o Evangelho de Lucas, 5).

Comparação com os Demais Evangelhos
O chamado ao desapego e à promessa de recompensa em Mateus 19, 27-29 encontram ecos complementares nos outros Evangelhos, que ampliam a compreensão do discipulado. Em Marcos 10, 28-30, a narrativa inclui a menção de “perseguições” como parte da experiência daqueles que seguem Cristo, destacando que a recompensa vem acompanhada de provações, um aspecto não explicitado em Mateus. Lucas 18, 28-30 enfatiza que a recompensa é recebida “neste tempo” e na “vida eterna”, sugerindo uma continuidade entre a graça presente e a futura, enquanto Mateus foca mais na recompensa escatológica. João 12, 25-26 oferece uma perspectiva mais espiritual, onde o “deixar tudo” é comparado a “odiar a própria vida” neste mundo, apontando para uma renúncia interior que transcende a materialidade, complementando a visão de Mateus com um enfoque na união mística com Cristo.

Comparação com Textos de São Paulo
Os textos de Eclesiástico 31, 8-11 e Mateus 19, 27-29, lidos à luz da comemoração do fervor apostólico e da devoção ao Nome de Jesus, encontram complementos significativos nas epístolas paulinas. Em 1 Coríntios 3, 21-23, Paulo amplia a ideia de recompensa, afirmando que “tudo é vosso” para aqueles que pertencem a Cristo, sugerindo que a renúncia aos bens terrenos leva a uma posse espiritual de todas as coisas em Deus, um aspecto mais universal do que a promessa de Mateus. Em Filipenses 3, 7-8, Paulo descreve sua própria renúncia a tudo como “perda” em comparação com o “conhecimento de Cristo”, enfatizando a supremacia da relação pessoal com Jesus, que ressoa com a devoção ao Seu Nome. Em 2 Coríntios 8, 9, a pobreza de Cristo é apresentada como o modelo supremo de desapego, enriquecendo os fiéis pela graça, um tema que aprofunda a visão de Eclesiástico sobre a integridade diante das riquezas.

Comparação com Documentos da Igreja
O Decreto de Graciano (c. 1140) sublinha que a verdadeira riqueza do cristão está na virtude e não nos bens materiais, ecoando Eclesiástico 31, 8-11, mas adiciona que a pobreza voluntária é um caminho de imitação de Cristo, reforçando a renúncia de Mateus 19 (C. 12, q. 1, c. 1). A Bula Cum inter nonnullos (1323) de João XXII, ao tratar da pobreza franciscana, destaca que a renúncia aos bens é um ato de perfeição evangélica, conectando-se diretamente ao chamado de Mateus e ao espírito da Ordem de São Francisco celebrado na liturgia do dia. O Catecismo Romano (1566) ensina que a recompensa prometida aos que deixam tudo por Cristo inclui a participação na glória divina, mas enfatiza a necessidade de perseverança na caridade, um aspecto que complementa a promessa escatológica de Mateus com uma exigência prática de vida virtuosa (Parte I, cap. 11).