Discurso de Leão XIV, uma negação prática do dogma católico sobre a suprema, plena e universal jurisdição do Romano Pontífice


  1. Em 17 de julho de 2025, na residência de verão de Castel Gandolfo, o Sumo Pontífice Leão XIV dirigiu um discurso aos participantes de uma peregrinação ecumênica ortodoxa-católica proveniente dos Estados Unidos. O encontro, organizado em conjunto pelo Arcebispo Metropolitano Elpidophoros e pelo Cardeal Tobin, foi apresentado como um “regresso às raízes” e às fontes apostólicas em Roma e Constantinopla. No seu discurso, o pontífice destacou o que considerou serem sinais de esperança e unidade: a comemoração do 1700º aniversário do Concílio de Niceia, a coincidência dos calendários pascais, o Credo como “património comum” e os “frutos abundantes do movimento ecuménico”, exemplificados pelo levantamento mútuo das excomunhões em 1965, um ato que, segundo ele, tornou possível tal peregrinação. O discurso foi permeado por temas de esperança, consolo, diálogo e caridade fraterna, culminando num apelo à unidade visível entre os discípulos de Cristo e numa advertência contra as disputas pela primazia entre as sés apostólicas.
  2. Ao analisar o discurso pontifício, observa-se que os seus temas centrais correspondem de forma precisa à mentalidade que engendrou a revolução litúrgica do pós-Vaticano II. A sua estrutura argumentativa repousa sobre os mesmos pilares de ecumenismo, falso historicismo e primazia da psicologia sobre a doutrina que foram sistematicamente implantados na Missa de Paulo VI.
  3. Primeiramente, o apelo a um “regresso às raízes” serve como uma fachada para justificar uma agenda inteiramente moderna. Esta tática reflete o que foi denunciado como uma “espúria ‘restauração’ da antiguidade” (Cekada, 2010, p. 473). O método não consiste numa fiel restauração da Tradição, mas num processo seletivo onde apenas os elementos da antiguidade que servem aos propósitos ecumênicos são recuperados, enquanto séculos de desenvolvimento orgânico são ignorados. O fato de o pontífice afirmar que tal peregrinação “provavelmente nem sequer teria sido possível” antes de 1965 não é um testemunho de progresso, mas a confissão da própria ruptura com a disciplina e a doutrina que salvaguardavam a Fé.
  4. O ponto mais grave do discurso, contudo, é a relativização explícita da doutrina do Papado. Ao afirmar que “Roma, Constantinopla e todas as demais Sés não são chamadas a disputar a primazia”, o pontífice coloca a Sé de Pedro em pé de igualdade com as sés cismáticas. Esta afirmação é uma negação prática do dogma católico sobre a suprema, plena e universal jurisdição do Romano Pontífice, sucessor de Pedro, sobre toda a Igreja. A advertência contra a disputa “sobre quem de eles era o mais grande” é uma aplicação perversa das Escrituras, pois iguala a primazia divinamente instituída de Pedro a uma mera ambição humana. Este é o exato resultado da agenda ecumênica que motivou a reforma litúrgica: a eliminação sistemática de tudo o que pudesse ser ofensivo aos “irmãos separados”. Assim como as orações da Missa Nova removeram frases que refletiam “os direitos e o poder de governo do Romano Pontífice” (Cekada, 2010, p. 309), este discurso dissolve a própria natureza do Papado num apelo sentimental à fraternidade. A Fé Católica é sacrificada no altar de uma falsa unidade.
  5. A linguagem empregada — “peregrinos na esperança”, “portador de esperança”, “óleo da consolação” — exemplifica a substituição da precisa terminologia teológica por um vago vocabulário psicológico. A nova liturgia foi construída sobre este mesmo fundamento, onde o objetivo é “estabelecer comunhão” e “criar comunidade” através de sentimentos partilhados (Cekada, 2010, p. 252-253), desvalorizando o conteúdo objetivo dos ritos. O Credo de Niceia é apresentado como “património comum”, mas é esvaziado de seu sentido integral quando a própria estrutura da Igreja, fundamentada na rocha de Pedro, é apresentada como uma questão secundária, uma mera disputa humana a ser evitada.
  6. Em suma, o discurso de Leão XIV não representa um retorno às fontes da Fé, mas uma reafirmação dos princípios da revolução. Apresenta a ruptura com o passado como um fruto do Espírito Santo e a diluição do dogma católico como um avanço na caridade. É a mesma lógica que transformou o Sacrifício do Altar numa “ceia da assembleia” (Cekada, 2010, p. 143), e que continua a despojar a Igreja de sua herança em nome de uma nova e universal fraternidade. A esperança de que fala não se fundamenta na profissão integral da Fé católica, mas na ilusão modernista de uma unidade construída sobre a ambiguidade, a omissão e a negação do Papado.
  7. Referências: CEKADA, Anthony. Obra de Mãos Humanas: Uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. Philothea Press, 2010.