Leão XIV enviou carta ao Comitê Judeo-Americano prometendo seguir com o diálogo e cooperação


A eleição de um novo pontífice, em continuidade com as orientações do Concílio Vaticano II, reacende o debate sobre a missão da Igreja Católica em um mundo marcado por mudanças profundas e compromissos ambíguos. A recente manifestação de abertura ao diálogo inter-religioso, expressa em correspondência oficial com organizações judaicas, reflete uma postura que, embora alinhada com documentos conciliares como a Declaração Nostra Aetate, levanta questões sobre sua compatibilidade com a doutrina tradicional da Igreja. Essa doutrina, forjada ao longo de séculos pelos Santos, Doutores e Papas, sempre afirmou a necessidade urgente da conversão de todos à verdadeira Fé, sem exceção, como único caminho para a salvação.

A Igreja, depositária da Revelação divina, jamais pode transigir em sua missão de proclamar a Verdade. O diálogo com outras crenças, se desprovido de um propósito evangelizador claro, corre o risco de diluir a unicidade do Evangelho. A Nostra Aetate, ao enfatizar o respeito mútuo e a cooperação, abriu portas para interpretações que, em alguns casos, obscurecem a necessidade de conversão, particularmente em relação ao povo judeu. Contudo, a Tradição da Igreja é inequívoca: a Antiga Aliança, embora historicamente significativa, foi superada pela Nova e Eterna Aliança estabelecida por Cristo. Negar isso é desviar-se do ensinamento perene, que não admite relativismo ou sincretismo.

Os Santos Padres, como Santo Agostinho e São João Crisóstomo, foram claros ao abordar a condição espiritual daqueles que, rejeitando o Messias, permanecem fora da Igreja. Suas advertências não nasceram de preconceito, mas de uma caridade ardente, que deseja a salvação de todos. Os Concílios, como o de Florença, reforçaram que fora da Igreja não há salvação, um princípio que não pode ser reinterpretado à luz de sensibilidades modernas sem comprometer a integridade da Fé. A caridade verdadeira não consiste em afirmar as diferenças, mas em guiar as almas para a luz de Cristo, único Salvador.

A modernidade, com sua ênfase no pluralismo e na coexistência pacífica, pressiona a Igreja a adotar uma linguagem conciliatória, que muitas vezes sacrifica a clareza doutrinária. A promessa de cooperação com outras religiões, embora bem-intencionada, pode ser percebida como uma abdicação do mandato missionário. A Igreja não é uma organização entre tantas, mas o Corpo Místico de Cristo, instituído para a redenção do gênero humano. Qualquer iniciativa que sugira equivalência entre a Fé Católica e outras crenças trai a essência de sua vocação.

É necessário, portanto, um retorno à fidelidade aos princípios imutáveis. A verdadeira caridade exige coragem para proclamar a Verdade, mesmo quando ela contraria as expectativas do mundo. O diálogo, se houver, deve ser ordenado à conversão, nunca à acomodação. A Igreja deve recuperar sua voz profética, rejeitando as tentações do relativismo que permeiam até mesmo seus mais altos escalões. Somente assim ela cumprirá sua missão de ser sal da terra e luz do mundo, guiando as almas para a única Verdade que liberta.

Referências

Concílio de Florença, Cantate Domino (1442).
Santo Agostinho, Tratados sobre o Evangelho de São João.
São João Crisóstomo, Homilias contra os Judeus.
Declaração Nostra Aetate (1965), Concílio Vaticano II.