Nossa Senhora de Fátima
Introito (Eclo 15, 5| Sl 91, 2)
In médio Ecclésiæ apéruit os eius... No meio da Igreja o Senhor o fez falar; encheu-o do Espírito de sabedoria e inteligência, e vestiu-o com uma túnica de glória. Sl. É bom louvar ao Senhor e cantar salmos a vosso Nome, ó Altíssimo.
Epístola (Sab 7, 7-14)
Desejei inteligência e me foi dada; invoquei [o Senhor] e veio a mim o Espírito da sabedoria. Eu a preferi aos reinados e aos tronos e considerei que as riquezas nada valem junto dela. Não a comparei às pedras preciosas, porque todo o ouro junto dela nada mais é que um pouco de areia e ante ela a prata será considerada como lodo. Mais do que à saúde e à beleza, eu à preferi à própria luz, pois seu brilho é inextinguível. Vieram-me com ela todos os bens; e riquezas numerosas recebi por suas mãos; alegrei-me por todas estas coisas porque esta sabedoria ia diante de mim; e eu ignorava que ela era mãe de todos esses bens. Sem dolo eu a aprendi, e a comunico sem inveja, não ocultando suas riquezas. Infinito tesouro é ela para os homens. Os que dela se servem participam da amizade de Deus, porque aos seus olhos se recomendam pelos dons da boa disciplina.
Evangelho (Mt 5, 13-19)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Vós sois o sal da terra. Se o sal perder a sua força, como há de receber nova força? Para nada mais presta senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Uma cidade situada sobre um monte, não pode ser escondida. E ninguém acende uma luz para pô-la debaixo do alqueire, mas sim no candieiro, para alumiar a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está no céu. Não julgueis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, e sim cumprir. Porque, em verdade vos digo: enquanto não passar o céu e a terra, nem uma letra, nem um pontinho desaparecerá da lei, até que tudo seja realizado. Aquele, pois, que transgredir um destes mandamentos por pequeno que seja e ensinar assim aos homens, será chamado mínimo no Reino dos céus; mas o que os guardar e os ensinar, esse será chamado grande no Reino dos céus.
Homilias e Explicações Teológicas
A sabedoria, dom divino suplicado por Salomão, é a luz que ordena o coração humano para a verdadeira justiça, pois ela não apenas ilumina a mente, mas purifica a vontade, conduzindo o homem a viver segundo a lei de Deus, como um reflexo da bondade divina no mundo (Santo Agostinho, De Trinitate, Livro XIV, cap. 12). A luz dos justos, mencionada na Escritura, é a manifestação da graça que brilha nas boas obras, não para glória própria, mas para glorificar o Pai, sendo a humildade a base para que tal luz não se extinga no orgulho (São João Crisóstomo, Homilia sobre Mateus, 15, 4). A lei divina, longe de ser abolida, é elevada por Cristo à sua perfeição espiritual, pois Ele ensina que a obediência interior, nascida do amor, é o cumprimento autêntico dos mandamentos, transformando o coração humano em templo vivo da vontade divina (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 107, a. 1). A missão de ser sal da terra exige do cristão uma vigilância constante, pois a corrupção do pecado pode tornar insípido o testemunho, exigindo uma vida de sacrifício e penitência para preservar a pureza da fé (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, Livro I, Homilia 6). São Roberto Bellarmino, cuja memória celebramos, ensina que a sabedoria divina, buscada com fervor, é o fundamento da defesa da verdade, pois o doutor deve ser luz que não apenas ilumina, mas também combate as trevas do erro com a força da doutrina (São Roberto Bellarmino, De Controversiis, Tomo I, Livro II, cap. 1).
Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Mateus (Mt 5, 13-19) destaca a identidade missionária dos discípulos como sal da terra e luz do mundo, enfatizando a responsabilidade de preservar a vitalidade da fé e iluminar os outros, um aspecto menos explícito nos outros evangelhos. Em Marcos, a imagem do sal aparece em Mc 9, 49-50, mas com foco na purificação pelo sofrimento, sugerindo que o discípulo deve ser "salgado" pelo fogo da tribulação para manter sua eficácia espiritual, um elemento complementar à missão ativa de Mateus. Lucas, em Lc 14, 34-35, reforça a inutilidade do sal insípido, mas conecta isso à renúncia total, indicando que a missão de ser sal exige desapego radical, um tema não diretamente abordado em Mateus. João, por sua vez, não usa a metáfora do sal, mas em Jo 8, 12, apresenta Cristo como a luz do mundo, com os discípulos refletindo essa luz em Jo 12, 36, sugerindo que a luz dos fiéis é derivada de sua união com Cristo, um aspecto teológico que enriquece a ideia de Mateus sobre a visibilidade das boas obras.
Comparação com Textos de São Paulo
Enquanto Mateus enfatiza os discípulos como sal e luz, Paulo, em Ef 5, 8-14, exorta os cristãos a viverem como "filhos da luz", destacando a transformação interior que expõe as obras das trevas, um aspecto que aprofunda a visibilidade externa das boas obras em Mateus. Em 1 Cor 1, 24-30, Paulo apresenta Cristo como a sabedoria de Deus, conectando-se a Sabedoria 7, onde a sabedoria é um dom divino, mas enfatizando que ela se manifesta na loucura da cruz, uma perspectiva que adiciona profundidade sacrificial ao chamado de Salomão. Em Rm 13, 8-10, Paulo afirma que o amor é o cumprimento da lei, complementando Mt 5, 17-19 ao mostrar que a lei, aperfeiçoada por Cristo, se realiza plenamente na caridade, um princípio que São Roberto Bellarmino defenderia como fundamento da verdade doutrinal. Por fim, em Fp 2, 15, Paulo descreve os cristãos como luzes brilhando em meio a uma geração perversa, reforçando a missão de Mateus, mas com ênfase na pureza moral em um mundo hostil.
Comparação com Documentos da Igreja
O Concílio de Trento (Sessão VI, Decreto sobre a Justificação, cap. 7) enfatiza que a justiça vem da graça divina, ecoando a sabedoria como dom em Sabedoria 7, mas destacando que ela é infundida para capacitar o homem a cumprir os mandamentos, um aspecto que complementa a busca de Salomão. A encíclica "Providentissimus Deus" (1893, n. 15) de Leão XIII exalta a Escritura como luz infalível, alinhando-se com Mt 5, 13-19, mas sublinha a autoridade do magistério para interpretar a lei divina, um princípio que São Roberto Bellarmino defendeu em suas controvérsias. O Catecismo Romano (Parte I, cap. 10) ensina que as boas obras dos fiéis, como luz do mundo, devem ser ordenadas à glória de Deus, adicionando à missão de Mateus a necessidade de intenção reta. Por fim, a bula "Unam Sanctam" (1302) de Bonifácio VIII afirma a unidade da Igreja como guardiã da lei divina, complementando Mt 5, 17-19 ao destacar que a fidelidade à lei de Cristo exige submissão à autoridade eclesiástica.