Latim: O Escudo da Fé Contra a Fraude do Vernáculo


Os modernistas do Vaticano, na sua incansável campanha para justificar a sua revolução, insistem em nos dizer que a nossa adesão à Missa Tradicional é uma mera questão de "preferência de oração". Uma questão de gosto, como se estivéssemos a escolher a cor de uma cortina. Que patética e deliberadamente desonesta simplificação. Eles ignoram, de propósito, o princípio fundamental que sempre governou a liturgia católica: Lex orandi, lex credendi. A lei da oração é a lei da fé. A forma como se reza determina aquilo em que se acredita.

Neste campo de batalha, só existem duas opções: a Missa Tridentina, que expressa e protege a doutrina católica sobre o Sacrifício, ou o Novus Ordo Missae, um rito fabricado que, mesmo na sua mais "reverente" encenação, exala o espírito do protestantismo. E é aqui que o latim deixa de ser um acessório e se torna uma fortaleza.

Os revolucionários, num momento de astúcia, apresentam-nos o seu cavalo de Troia: a missa nova... em latim! "Vejam!", exclamam eles, "Nós também temos latim! Agora estão felizes?". Que insulto à nossa inteligência. Recitar as orações ambíguas e protestantizadas do Novus Ordo em latim não as santifica; apenas disfarça o veneno com um verniz de tradição. É como servir veneno num cálice de ouro. O conteúdo continua a ser mortal. A missa nova em latim continua a ser uma celebração centrada na comunidade, uma comemoração de uma ceia, e não o Sacrifício incruento do Calvário oferecido a Deus para a glória da Santíssima Trindade e pela propiciação dos pecados. O problema não é apenas a língua, mas a teologia que o rito expressa — ou melhor, que ele se recusa a expressar.

A principal virtude do latim, que os modernistas desprezam, é precisamente a sua Imutabilidade. E graças a Deus por isso! Uma língua "morta" não muda. As palavras nela fixadas há séculos mantêm o seu significado preciso e inalterado. Consubstantialem, na profissão de fé, significa hoje exatamente o mesmo que significava para os Padres do Concílio de Niceia. Transubstantiatio significa a conversão total da substância do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo, sem ambiguidades. O latim, como língua litúrgica, possui quatro virtudes cardeais que o tornam o veículo perfeito da fé: a sua Santidade, que o separa do uso profano e quotidiano; a sua Imutabilidade, que protege a doutrina da corrupção; a sua Unidade, que une os católicos de todo o mundo num só culto; e a sua fidelidade à Tradição, que nos liga diretamente aos Apóstolos e aos Santos.

Agora, compare-se isto com o caos do vernáculo. A guerra contra o latim foi, antes de mais, uma guerra contra a doutrina. Os tradutores não foram meros incompetentes; foram revolucionários armados com dicionários. Na tradução inglesa oficial das orações do Tempo Comum, a palavra gratia (graça), que aparece onze vezes no original latino, não aparece uma única vez! E que ninguém pense que isto foi um acidente ou um descuido dos bispos locais. Foi a própria Roma, através do Consilium e da sua infame instrução Comme le Prévoit, que deu aos tradutores a licença para não apenas traduzir, mas "transformar" o sentido dos textos para se adequarem às "necessidades pastorais". O tristemente famoso ICEL, que traduziu a missa para o inglês, fez um trabalho tão destrutivo na diluição da fé que um dos seus próprios membros, o Padre Somerville, escreveu mais tarde uma carta aberta a pedir perdão aos católicos por ter participado naquela demolição.

Além da precisão doutrinal, o latim garantia uma Unidade verdadeiramente católica, e não a falsa "unidade" imposta pela força que vemos hoje. Um católico podia entrar em qualquer igreja, em qualquer parte do mundo, e assistir exatamente à mesma Missa. O rito era idêntico em Tóquio, em Ohio ou em Lisboa. A única variação era o sermão. Isto era a verdadeira catolicidade em ação. Hoje, o que temos é uma Torre de Babel litúrgica. Cada paróquia é um espetáculo diferente, com o padre-presidente a improvisar, com leigos a inventar "dinâmicas" e, como resultado, a validade dos sacramentos é posta em causa. Lembremo-nos do sacerdote que invalidou centenas de batismos ao alterar a fórmula por capricho pessoal, ou das absolvições inválidas porque o padre, querendo ser mais "pastoral", diz "Eu perdoo-te" em vez do sacramentalmente necessário "Eu te absolvo". Tais desastres seriam impossíveis se a Igreja tivesse mantido o escudo protetor do latim.

Finalmente, deparamo-nos com a objeção mais infantil de todas: "Mas eu não entendo latim!". A isto, a resposta clássica de um sacerdote fiel continua a ser a mais teologicamente correta: "Não se preocupe, eu não estava a falar consigo". O Sacrifício é dirigido a Deus; não é um seminário de instrução para o povo. O foco está em Deus, não na nossa compreensão intelectual imediata. O uso de uma língua sagrada, distinta do falar quotidiano, cria a distância reverencial necessária para o Mistério, como notou o grande Dom Guéranger, lembrando-nos que estamos a participar em algo divino, não num encontro social. Portanto, que fique bem claro. A guerra contra o latim nunca foi sobre compreensão. Foi, e continua a ser, uma guerra contra a própria fé católica. Foi um passo necessário para demolir a doutrina do Sacrifício da Missa, para obscurecer o papel sacrificial do sacerdote e para transformar a Casa de Deus num salão de banquetes ecuménico. Ao rejeitarem o latim, eles rejeitaram a precisão, a sacralidade e a universalidade da Fé Católica. Lex orandi, lex credendi. Eles mudaram a forma de rezar para, com o tempo, mudarem a nossa fé. Não lhes permitamos completar a sua obra de demolição.

Referência

Padre Anthony Cekada, Obra de Mãos Humanas: Uma crítica teológica à Missa de Paulo VI, Capítulo 4, "Do Latim ao Vernáculo: Perdido na Tradução", pp. 115-138.