🙏Introito (Sl 36, 30-31 | ib., 1)
Os justi meditábitur sapiéntiam, et lingua ejus loquétur judícium... A boca do Justo fala a sabedoria e a sua língua profere a equidade. A lei de seu Deus está em seu coração. Sl. Não tenhas ciúmes dos maus, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. ℣. Glória ao Pai.
📖Epístola (Eclo 45,1-6)
Ele [Moisés] foi amado de Deus e dos homens; sua memória é abençoada. O Senhor o igualou aos Santos na glória, engrandeceu-o para temor dos seus inimigos e por suas palavras fez cessar as pragas. Glorificou-o diante dos reis; deu-lhe seus preceitos diante de seu povo e mostrou-lhe sua glória. Por sua fidelidade e mansidão o santificou e o escolheu dentre todos os homens. Deus lhe fez ouvir a sua voz, e fê-lo entrar na nuvem. E deu-lhe, face a face, os seus preceitos e a lei da vida e da doutrina.
✝️Evangelho (Mt 19, 27-29)
Naquele tempo, disse Pedro a Jesus: Eis que abandonamos tudo e Vos seguimos: que recompensa haverá então para nós? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade vos digo, que no dia da regeneração, quando o Filho do homem se assentar no trono de sua glória, também vós, que me seguistes, assentar-vos-eis em doze tronos, e julgareis as doze tribos de Israel. E todo aquele que deixar a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as terras, por causa de meu Nome, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.
🤔Reflexões
💡A promessa de Jesus de que "todo aquele que deixar a casa... por causa de meu Nome, receberá o cêntuplo" encontra em São Bento um exemplo paradigmático. A vida monástica, codificada em sua Regra, é a institucionalização do conselho evangélico de abandonar tudo para seguir a Cristo. Santo Agostinho ensina que a recompensa cêntupla não se refere apenas a bens materiais futuros, mas à riqueza espiritual da comunhão dos santos e à paz interior recebida já nesta vida (Sermão 100). São Jerônimo acrescenta que o mérito não está no simples ato de deixar os bens, mas na intenção de fazê-lo "por causa do Nome de Cristo", o que constitui a essência da vocação (Comentário sobre Mateus, Livro III). A sabedoria que "a boca do justo medita", como canta o Introito, é a própria sabedoria da Cruz, que São Bento não só viveu, mas ensinou a inúmeras gerações, tornando-se, como Moisés na Epístola, um legislador para o povo de Deus no deserto da vida monástica.
⚖️O Evangelho de São Mateus é único ao especificar que os Apóstolos "se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel". São Marcos, ao narrar o mesmo episódio (Mc 10, 28-31), acrescenta um detalhe sóbrio e realista à promessa do cêntuplo: os que tudo deixam receberão casas, irmãos e terras "com perseguições", lembrando que o discipulado inclui a cruz. São Lucas (Lc 18, 28-30) reforça a imediatez da recompensa, afirmando que receberão "muito mais neste tempo presente, e no século vindouro a vida eterna", enfatizando a bênção da nova família espiritual na Igreja.
⛓️O abandono de tudo por Cristo ecoa profundamente nos escritos de São Paulo, especialmente em sua carta aos Filipenses. Enquanto Pedro pergunta sobre a recompensa, Paulo oferece um testemunho pessoal que ilumina o motivo: "Mas o que para mim era lucro, considerei-o perda por amor de Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor" (Fl 3, 7-8). Esta passagem não fala de uma troca transacional, mas de uma reavaliação radical de valores, onde tudo o que o mundo preza se torna "esterco" em comparação com o tesouro inestimável que é a união com Cristo, complementando a promessa do Evangelho com a perspectiva da transformação interior do crente.
🏛️Os documentos do Magistério, como a constituição apostólica Provida Mater Ecclesia de Pio XII, aprofundam o ensinamento do Evangelho ao enquadrar o ato de "deixar tudo" dentro do "estado de perfeição". A Igreja ensina que, embora todos os cristãos sejam chamados à santidade, aqueles que professam os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência através de votos públicos entram num estado de vida estável, reconhecido pela Igreja, que constitui um caminho mais direto e seguro para a caridade perfeita. Este "estado religioso" não é apenas um ato pessoal, mas uma consagração eclesial que torna o testemunho do Evangelho visível e permanente no mundo, organizando a promessa de Cristo numa forma de vida canonicamente estabelecida.