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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Modernidade sem conexão com a realidade - Fé metastática de Voegelin

Um conceito importante na obra de Voegelin é a "fé metastática" que ele descreve como um conceito crucial para entender sua crítica aos movimentos ideológicos modernos. Voegelin usou esse termo para descrever uma espécie de desvio da consciência religiosa que se manifesta como uma expectativa irracional de transformação total da realidade. É interessante notar que ele deriva o termo "metastático" da medicina (onde se refere à propagação de uma doença), aplicando-o metaforicamente a essa forma particular de pensamento utópico.

O conceito de "fé metastática" é desenvolvido principalmente no capítulo 4 do livro, intitulado "Gnosticismo - A Natureza da Modernidade", onde Voegelin conecta esta ideia com sua análise mais ampla do gnosticismo moderno e sua crítica à secularização. Para Voegelin, essa "fé metastática" se manifesta especialmente em:

Movimentos revolucionários que prometem um paraíso terrestre
Ideologias que afirmam poder eliminar completamente o mal e o sofrimento da existência humana
Doutrinas que negam as limitações fundamentais da condição humana

Esse defesa do humanismo fica mais claro quando ele discute o que chama de "imanentização do eschaton" - isto é, a tentativa de realizar na Terra o que tradicionalmente era visto como pertencente ao plano divino ou transcendente. Voegelin via essa tendência como particularmente presente no humanismo progressista moderno, que ele considerava uma versão secularizada da escatologia cristã.

"Esta imanentização pode ser levada a um ponto em que uma sociedade cristã completamente divinizada é interpretada como estando ao alcance da ação humana... tal crença constitui o que chamamos de fé metastática – ou seja, a crença de que o mal da existência pode ser eliminado em uma ordem mundial imanente através da ação humana." (1)

O que torna essa análise de Voegelin particularmente relevante é que ela identifica um padrão recorrente na história política moderna: a tentativa de realizar o impossível através de meios políticos, frequentemente resultando em violência e totalitarismo.

"A crença de que uma mudança na ordem do ser é possível através de um ato humano de vontade pertence à classe das experiências pneumopatológicas que chamamos de fé metastática. A fé metastática é uma crença de que uma transfiguração da natureza do homem pode ser alcançada através de um ato de instituição temporal." (2)

Conectando com o último movimento do modernismo, fica muito claro como o wokismo é uma expectativa irracional de transformação total da realidade. Veja mais detalhes em (3)

(1) (2) VOEGELIN, Eric. A Nova Ciência da Política. Tradução de José Viegas Filho. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1982.