🗓️ 10 AGO - S. LOURENÇO, Mártir


😇 São Lourenço, um dos sete diáconos de Roma, exemplificou o desapego radical aos bens materiais e a primazia do amor aos pobres como a verdadeira riqueza da Igreja. Ao ser intimado a entregar os tesouros eclesiásticos, ele os distribuiu aos necessitados, apresentando-os ao prefeito como o patrimônio mais precioso. Seu martírio numa grelha, enfrentado com alegria e louvor a Deus, tornou-se o testemunho supremo de uma vida que, ao 'morrer' para o mundo, floresceu para a eternidade, encarnando o princípio do grão de trigo que morre para dar muito fruto.

🙏 Introito (Sl 95, 6 | ib., 1)
Conféssio et pulchritúdo in conspéctu eius... Majestade e glória resplendem perante a sua face; santidade e magnificência, em seu santuário. Sl. Cantai ao Senhor, um cântico novo; cantai ao Senhor, toda a terra.

✉️ Epístola (II Cor 9, 6-10)
Irmãos: Aquele que semeia pouco, também pouco há de colher; e o que semeia com abundância, ceifará igualmente com abundância. Cada, qual dê como destinou em seu coração, não com tristeza, nem constrangimento, pois Deus ama ao que dá com alegria. E poderoso é Deus para vos cumular de todas as graças; para que em todas as coisas tenhais sempre o bastante para vos entregar a toda a obra boa. Assim como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres; sua justiça permanece nos séculos. E Aquele que dá a semente ao semeador, dará também o pão para comer; multiplicará a vossa sementeira e aumentará os frutos de vossa justiça.

✨ Evangelho (Jo 12, 24-26)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade, em verdade, vos digo que, se o grão de trigo que caí na terra não morrer, ficará estéril; mas se morrer, produzirá muito fruto. O que ama sua vida perdê-la-á; e quem odeia sua vida neste mundo, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará.

🤔 Reflexões

📜 A morte do grão de trigo, para dar fruto, prefigura o próprio Cristo, que ao morrer se multiplicou na Igreja; mas também se aplica a nós, pois para segui-Lo, devemos ser esse grão semeado na terra (Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de João 51, 2-3). Esta 'morte' para o egoísmo se concretiza na caridade, pois quem semeia com liberalidade para os pobres não diminui seus bens, mas os transforma em um tesouro celestial de justiça, colhendo frutos de bênçãos divinas (São João Crisóstomo, Homilia 19 sobre a Segunda Epístola aos Coríntios). Assim, o desprezo pela vida temporal em favor da caridade é o caminho para a honra que vem do Pai, pois a misericórdia nos torna imitadores do Pai perfeito (Santo Ambrósio, Sobre os Deveres dos Clérigos, 1, 11, 52).

🗺️ Enquanto o Evangelho de João situa o dito sobre perder a vida para ganhá-la no contexto da iminente Paixão de Jesus ('chegou a hora'), os Evangelhos sinóticos o inserem diretamente no chamado ao discipulado. Em Mateus, Marcos e Lucas, esta renúncia está explicitamente ligada à necessidade de 'negar a si mesmo' e 'tomar a sua cruz' diariamente para seguir a Cristo (Mc 8, 34-35; Lc 9, 23-24), oferecendo um contexto prático e contínuo para o sacrifício que João apresenta de forma mais teológica e ligada ao 'momento' da glorificação de Jesus.

⚓ São Paulo aprofunda a teologia do 'morrer para viver' em suas epístolas, indo além da caridade material. Ele a descreve como uma união mística com a morte e ressurreição de Cristo, afirmando: 'Fui crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim' (Gálatas 2, 19-20). Esta 'morte' não é apenas um ato de renúncia, mas uma transformação ontológica, onde 'morrer é lucro' (Filipenses 1, 21) porque nos une ao destino de Cristo, garantindo que, 'se morremos com Ele, com Ele também viveremos' (2 Timóteo 2, 11).

🏛️ Documentos pontifícios reforçam a centralidade do martírio e da caridade. O Concílio de Trento ensina que os mártires, como Lourenço, 'reinaram com Cristo' e devem ser invocados, pois seus exemplos nos incitam à imitação de sua fé e sacrifício (Sessão 25). Encíclicas como a Caritate Christi Compulsi de Pio XI (1932) conectam a caridade ativa, como a de Lourenço, à penitência e à reparação pelos pecados do mundo, vendo-a não como mera filantropia, mas como um ato de amor a Deus. A encíclica Mystici Corporis Christi de Pio XII (1943) ilumina a promessa 'onde eu estiver, estará ali também o meu servo', explicando que, como membros do Corpo de Cristo, participamos da vida da Cabeça, e nosso sofrimento e serviço na terra nos unem mais intimamente a Ele na glória.