O debate em torno do livro Páscoa de Sangue, de Ariel Toaff, e a controvérsia sobre os "libelos de sangue" destacam uma questão central na história das relações entre cristãos e judeus. Enquanto a narrativa moderna tende a descartar essas acusações como meros "mitos antissemitas", uma análise mais profunda, fundamentada na compreensão da formação talmúdica e suas implicações sociais, revela uma realidade mais complexa. A persistência de tais acusações ao longo dos séculos não pode ser explicada apenas por "preconceito" ou "superstição", mas deve ser compreendida como uma reação, ainda que por vezes desordenada, à influência disruptiva do naturalismo judaico na sociedade cristã.
📜 A Lógica Interna das Acusações
A acusação de que judeus poderiam utilizar sangue em rituais, embora chocante para a sensibilidade moderna, não surge de um vácuo. Ela está intrinsecamente ligada à mentalidade exclusivista e hostil que o Talmud fomenta contra os não-judeus (Goim). Documentos e testemunhos de convertidos do judaísmo atestam que o código talmúdico, em sua essência, estabelece uma moralidade dupla. Segundo essa doutrina, os preceitos de justiça, equidade e caridade, que são obrigatórios nas relações entre judeus, não se aplicam aos cristãos. O Talmud chega a proibir explicitamente que um judeu salve um não-judeu da morte ou tenha piedade dele (Fahey, 1953).
A vida e os bens dos não-judeus são vistos como estando à disposição da nação judaica, uma crença que inevitavelmente gera um profundo desprezo e uma hostilidade sistêmica. Nas palavras de um ex-rabino que se converteu ao catolicismo, o Talmud contém "calúnias insanas e atrozes" contra tudo o que o cristão considera sagrado, incluindo a própria moralidade (Drach, 1844, apud Fahey, 1953). É nesse contexto de antagonismo fundamental que as suspeitas populares, mesmo que extremas, encontram um solo fértil para florescer.
O próprio livro de Toaff, apesar de sua posterior retratação, sugere que pequenos grupos extremistas poderiam ter adotado práticas que, mesmo não sendo assassinatos rituais, envolviam o uso de sangue. Essa possibilidade, por si só, aponta para a existência de correntes dentro do judaísmo que se desviam não apenas da moralidade cristã, mas também da lei judaica ortodoxa, como uma consequência da rejeição do verdadeiro Messias.
🌍 O Talmud como Fonte de Conflito Social
A formação talmúdica, que exalta um "orgulho de raça com a ideia de dominação universal", é a principal fonte do atrito persistente entre a nação judaica e os povos cristãos (Fahey, 1953). Para o talmudista, apenas a raça judaica constitui a humanidade; os não-judeus são considerados de natureza puramente animal, sem direitos. Essa visão de mundo não apenas justifica a exploração econômica e social, mas também cria um abismo intransponível entre as comunidades.
Quando a sociedade cristã, organizada sob o Reinado de Cristo, percebe essa hostilidade velada, reage em autodefesa. As acusações de libelo de sangue, portanto, podem ser vistas como uma manifestação extrema e trágica dessa reação defensiva. Elas representam a tentativa do povo cristão de articular o perigo que sentia vindo de uma comunidade que se recusava a se integrar à ordem social cristã e que, segundo seu próprio código religioso, nutria intenções hostis.
A rejeição do Messias Sobrenatural levou a nação judaica a um caminho de naturalismo e materialismo, onde a dominação terrena se tornou o objetivo final. Essa ambição, por sua vez, corrompeu a própria compreensão da lei divina, abrindo espaço para interpretações e práticas que seriam impensáveis dentro da ordem estabelecida por Cristo. Assim, a persistência histórica dos libelos de sangue não é meramente um "mito", mas um sintoma de um conflito teológico e social muito mais profundo, enraizado na recusa da nação judaica em aceitar seu lugar no plano divino de salvação.
📖 Referências
Fahey, Denis. The Kingship of Christ and The Conversion of the Jewish Nation. Dublin: Regina Publications, 1953.
Drach, David Paul. De l'harmonie entre l'église et la synagogue. Paris: Mellier Frères, 1844.