As Profecias do Venerável Bartolomeu Holzhauser à Luz da Crise Contemporânea


O Venerável Bartolomeu Holzhauser (1613-1658), sacerdote alemão, teólogo, fundador de comunidades sacerdotais e místico reconhecido pela Igreja (declarado Venerável em 1880), escreveu uma das mais impressionantes e detalhadas interpretações proféticas do Livro do Apocalipse. Sua obra principal, Interpretatio in Apocalypsin (escrita entre 1646 e 1656), divide toda a história da Igreja Católica em sete grandes períodos, correspondentes às sete Igrejas da Ásia Menor (Ap 2–3). Para ele, esses períodos não são apenas simbólicos, mas cronológicos, espirituais e históricos, estendendo-se desde o tempo dos Apóstolos até o fim do mundo.

Holzhauser afirmava receber luzes especiais do Céu para compreender o Apocalipse. Seus escritos foram examinados e aprovados por diversos bispos e teólogos de sua época, e até hoje são estudados com respeito por muitos católicos tradicionais, especialmente aqueles que buscam compreender as grandes crises atuais à luz da profecia. Esta busca por compreensão encontra eco nas preocupações teológicas contemporâneas, onde a preservação da integridade da fé diante do relativismo se torna uma urgência, como tão bem articulou Garrigou-Lagrange (1946) em sua defesa da imutabilidade do dogma.

📜 Os Sete Períodos da História da Igreja

🌟 1.ª Era – Éfeso (c. 33–70 d.C.) – “A Igreja desejável”
Tempo dos Apóstolos e da primeira geração cristã. Grande fervor, caridade ardente, mas também as primeiras quedas (Ananias e Safira, falsos irmãos). Corresponde ao “primeiro dia” da Criação: a luz separada das trevas.

🩸 2.ª Era – Esmirna (c. 70–312 d.C.) – “A Igreja pobre e perseguida”
Período dos mártires sob os imperadores romanos. A Igreja é rica em sangue, pobre em bens terrenos. Deus a enriquece com milagres e santidade. “Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2,10).

👑 3.ª Era – Pérgamo (312–800 d.C.) – “A Igreja casada com o poder temporal”
De Constantino a Carlos Magno. A Igreja recebe liberdade, templos, riquezas e proteção dos príncipes. Combate as grandes heresias (arianismo, nestorianismo). Mas começa o perigo do mundanismo: “Tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão” (Ap 2,14).

🏰 4.ª Era – Tiatira (800–1517 d.C.) – “A grande era medieval – o apogeu da cristandade”
De Carlos Magno até o início da Reforma Protestante. Tempo das monarquias católicas, das cruzadas, das catedrais góticas, das ordens religiosas, da escolástica. A Igreja governa as nações com “vara de ferro”. Contudo, já no fim surgem os vícios que prepararão a ruína: simonia, luxo clerical, corrupção moral.

🌑 5.ª Era – Sardes (1517–?) – “A grande tribulação e aflição da Igreja”
Holzhauser é extremamente severo ao descrever este período, que começa com Martinho Lutero e se estende até a vinda do Grande Monarca. Suas palavras parecem escritas para o nosso tempo:

“A Igreja será punida porque a maioria dos seus membros, clérigos e leigos, perderá o verdadeiro espírito da fé.”
“Os hereges e os maus católicos oprimirão a Igreja e os seus verdadeiros filhos.”
“Os príncipes oprimirão o povo com impostos e tributos injustos.”
“Haverá guerras, revoluções, fome, pestes, epidemias desconhecidas, terremotos e sinais no céu.”
“O demônio receberá liberdade quase total; ele seduzirá grande parte do mundo.”
“A Igreja ficará viúva, despojada de bens temporais, reduzida a extrema pobreza.”
“Muitos bispos e sacerdotes viverão como se estivessem mortos espiritualmente.”
“Os fiéis verdadeiros serão poucos, escondidos, desprezados, mas conservarão a fé pura.”

Apesar de tudo, Deus suscitará graças extraordinárias: a Companhia de Jesus, o Concílio de Trento, grandes santos (São Francisco de Sales, São Vicente de Paulo, São João Eudes), a evangelização da América, Ásia e África. Contudo, a apostasia continuará crescendo até atingir seu auge.

Muitos leitores atuais enxergam nestas descrições a Revolução Francesa, as duas guerras mundiais, o comunismo, o modernismo dentro da Igreja, a crise pós-Vaticano II, a secularização maciça, o escândalo dos abusos, a confusão doutrinal e o colapso moral da sociedade contemporânea. Este cenário de confusão doutrinal é precisamente o terreno fértil para o que Garrigou-Lagrange (1946) diagnosticou como a "nova teologia", um movimento que, sob o pretexto de atualização, arrisca dissolver a substância imutável da verdade revelada em um fluxo histórico relativista. A perda do "verdadeiro espírito da fé", profetizada por Holzhauser, manifesta-se intelectualmente na substituição da verdade objetiva (adaequatio rei et intellectus) pela conformidade subjetiva com a vida (adaequatio mentis et vitae), minando os próprios fundamentos do dogma.

🕊️ 6.ª Era – Filadélfia (futuro próximo) – “A grande consolação”
Após o clímax da tribulação da 5.ª era, Deus intervirá de forma poderosa:

Surgirá um Grande Monarca, rei católico, humilde, valente, escolhido e coroado por Deus mesmo. Ele será de antiga linhagem real (muitos associam à Casa da França ou à Casa da Áustria). Destruirá as repúblicas revolucionárias, derrotará os turcos e os maometanos, extirpará as heresias e reunirá as nações sob uma única monarquia cristã.
Ao mesmo tempo, um Papa santo (chamado por Holzhauser de “Pontífice Angélico”) convocará um concílio geral, reformará o clero, restaurará a liturgia, converterá judeus, muçulmanos e pagãos em massa.
Será uma era de paz e prosperidade nunca vista: uma só fé, um só pastor, um só império cristão. A ciência florescerá, mas subordinada à fé. A Igreja será exaltada acima de tudo.
Este período durará várias gerações. O Grande Monarca terá longa vida e deixará sucessores santos.

Holzhauser insiste: esta será a maior glória que a Igreja terá na Terra, antes da prova final. Esta restauração, contudo, não será meramente política ou social, mas essencialmente teológica. A extirpação das heresias implica o retorno à clareza das definições dogmáticas e à filosofia perene, reafirmando a distinção real entre a ordem natural e a sobrenatural, e a validade objetiva dos mistérios da fé, contra qualquer tentativa de reducionismo modernista.

🔥 7.ª Era – Laodicéia (futuro distante) – “A grande apostasia final e o reino do Anticristo”
Quando a caridade esfriar novamente, os homens voltarão a amar o luxo, o orgulho e os prazeres. Então virá o tempo do Anticristo:

Ele nascerá de uma mulher corrupta, será possuído pelo demônio desde o ventre, fará prodígios falsos, será adorado como deus. Um falso profeta (um antipapa herege) o ajudará, mudando a Missa, perseguindo os fiéis. A marca da Besta (666) será imposta. A apostasia será quase universal.
Deus enviará os profetas Elias e Enoque para combater o Anticristo. Eles pregarão três anos e meio, serão mortos em Jerusalém e ressuscitarão ao terceiro dia. Finalmente, Jesus Cristo voltará em glória, destruirá o Anticristo com o sopro de Sua boca, julgará os vivos e os mortos e inaugurará os novos céus e a nova terra.

🕯️ Conclusão: Por que estas profecias importam hoje?

Holzhauser não escreveu para assustar, mas para consolar e exortar à perseverança. Ele repete constantemente:
“Os que forem fiéis nesta grande tribulação serão coroarão a Igreja com sua vitória.”

Mesmo que não saibamos o dia nem a hora exata em que passaremos da 5.ª para a 6.ª era, as profecias nos dão um mapa claro: estamos no tempo da purificação, da “noite escura” da Igreja. Mas a aurora está próxima.
A mensagem final de Holzhauser é de esperança absoluta:
“Depois da tempestade virá a calma; depois das trevas, a luz; depois da humilhação, a glória. A Igreja, que agora parece morta, ressuscitará mais bela e mais forte do que nunca.”

Esta esperança, no entanto, não é um otimismo ingênuo, mas uma certeza teologal fundada na promessa divina. Em tempos de crise, como os descritos por Holzhauser e analisados por Garrigou-Lagrange (1946), a fidelidade exige não apenas piedade, mas uma adesão inabalável à verdade imutável. A verdadeira restauração passa pela defesa da inteligência da fé contra o ceticismo e o vitalismo, garantindo que a "Palavra que não passará" continue a iluminar as trevas da história.

Que a Virgem Maria, a Mulher vestida de sol do Apocalipse, Medianeira de Todas as Graças e vencedora de todas as heresias (Garrigou-Lagrange, 2013), nos guarde nestes tempos difíceis e nos conduza ao triunfo do seu Imaculado Coração e à vitória final de seu Filho.

📜 Referências

Garrigou-Lagrange, O.P., Fr. Réginald. "La nouvelle théologie où va-t-elle?". Angelicum, vol. 23, nº 3-4, 1946, pp. 126-145.
Garrigou-Lagrange, O.P., Fr. Réginald. "On Mary as Mediatrix of All Graces". Capítulo 6 de The Three Ages of the Interior Life, Vol. 1. Baronius Press, 2013.