Da Teolatria à Zoolatria: A Lógica da Profanação em Pamplona


Na cidade de Pamplona, Espanha, palco de tradicionais celebrações em honra de São Firmino, a arena pública foi convertida em teatro para um meticuloso e deliberado ato de profanação. Militantes da organização não governamental PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), em um gesto de calculado impacto midiático, encenaram um ultraje contra os mais sagrados mistérios da Fé Católica. A cena, orquestrada para o máximo escárnio, apresentava ativistas fantasiados, representando a figura de Jesus com chifres no colo da Santíssima Virgem Maria. O Sacrifício Redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo, único e infinito, foi assim rebaixado a um espetáculo grotesco, e a Mãe de Deus, a uma figura de zombaria. Este evento não constitui um mero protesto contra as touradas, mas sim um ataque direto e inequívoco à substância da Fé, cujos símbolos mais augustos são publicamente escarnecidos e instrumentalizados para uma causa mundana.

O ultraje de Pamplona, em sua brutalidade visual, é de uma clareza meridiana. Contudo, analisá-lo apenas como um ato isolado de militantes secularizados seria incorrer em uma superficialidade que ignora a sua causa profunda e a sua lógica interna. O evento é, na verdade, um sintoma agudo e uma consequência previsível da sistemática demolição do sagrado que caracteriza a era pós-conciliar.

A primeira e mais evidente operação mental dos profanadores é uma inversão axiológica. O sofrimento de um animal irracional é elevado à dignidade do Sacrifício do Homem-Deus. A teolatria, o culto devido a Deus, é substituída por uma grotesca zoolatria, na qual a criatura inferior toma o lugar do Criador. Esta inversão não seria possível em um mundo que ainda possuísse um sentido hierárquico da realidade. No entanto, em uma época que deliberadamente confunde os planos e dissolve as essências, o sofrimento de um touro e a Paixão de Cristo podem ser apresentados como equivalentes.

Um magistral estudo sobre as transformações na Igreja no século XX já havia diagnosticado a transição "do sagrado ao teatral" como um dos princípios da nova liturgia (AMERIO, 2011, p. 502). Os militantes da PETA, talvez sem plena consciência, apenas levaram esta lógica à sua conclusão extrema. Se os próprios mistérios da Fé são tratados, no seio da própria Igreja, como expressões de uma comunidade e não como a irrupção do divino, por que o mundo não os trataria como meros símbolos disponíveis para apropriação? O Sacrifício da Cruz, esvaziado de seu caráter único e transcendente, torna-se um significante vazio, um arquétipo genérico de "sofrimento" que pode ser aplicado a qualquer causa, por mais disparatada que seja.

Ademais, este episódio revela a capitulação da Igreja ao que se pode denominar um "cristianismo secundário". Tal cristianismo, como aponta o mesmo estudo, aceita o fruto mundano da religião, mas rejeita a sua substância sobrenatural, reduzindo a Igreja a um mero "fermento" para a civilização e o progresso terreno (AMERIO, 2011, p. 401). A Igreja pós-conciliar, em seu afã de "dialogar com o mundo", abandonou a afirmação de sua própria e única verdade para buscar pontos de contato com as preocupações seculares. A PETA, neste ato, oferece um espelho cruel a esta mesma Igreja: "Vós quisestes ser relevantes para as nossas causas; pois bem, aqui estamos nós, utilizando vossos símbolos para a nossa agenda". A Igreja, ao procurar a amizade do mundo, torna-se sua serva, e seus tesouros são saqueados para adornar as causas mundanas.

Contudo, o verdadeiro e mais profundo escândalo não reside na ação dos militantes, que agem segundo seus próprios princípios materialistas. A tragédia se consuma no silêncio ou na resposta tépida da autoridade eclesiástica local e universal. Onde está a condenação fulminante? Onde está a defesa pública da honra de Nosso Senhor e de Sua Mãe Santíssima? A "desistência da autoridade", tão característica do período pós-conciliar, manifesta-se aqui em toda a sua plenitude (AMERIO, 2011, p. 115). O silêncio dos pastores ante a blasfêmia dos lobos é a confirmação de que a crise não é externa, mas interna. É a admissão tácita de que a Igreja já não se sente no direito, ou já não possui a força, para defender o que lhe é mais próprio.

Em suma, a cena de Pamplona não é um acidente, mas um teorema. É a demonstração da apostasia que ocorre quando se perde a noção da infinita distância entre o Criador e a criatura, entre o Sacrifício Redentor e o sofrimento animal, entre a verdade revelada e a opinião humana. A Fé Católica é, de fato, pisoteada em praça pública, mas o terreno para tal profanação foi preparado por décadas de relativismo doutrinal, sentimentalismo litúrgico e capitulação pastoral.

Referências

AMERIO, Romano. Iota Unum: Estudio sobre las transformaciones en la Iglesia en el siglo XX. Versión corregida. Septiembre 2011.