07 JULHO - Ss. CIRILO e MEDÓDIO, Bispos e Confessores


Cirilo (nascido Constantino, c. 827–869) e Metódio (c. 815–885), irmãos de Tessalônica, dedicaram suas vidas à missão entre os eslavos. Por volta de 860, foram enviados pelo imperador bizantino Miguel III à Grande Morávia para evangelizar os eslavos. Em 863, Cirilo desenvolveu o alfabeto glagolítico, precursor do cirílico, para traduzir as Escrituras e a liturgia para a língua eslava. Após enfrentarem oposição por usarem a língua vernacular, obtiveram aprovação papal em 867, quando foram recebidos em Roma pelo Papa Adriano II. Cirilo faleceu em Roma em 14 de fevereiro de 869, enquanto Metódio, ordenado bispo, continuou a missão até sua morte em 6 de abril de 885, na Morávia.
"Filhos amados, nós, que outrora caminhamos entre os povos eslavos para levar a luz do Evangelho, vos exortamos hoje a permanecerdes firmes na fé, ainda que o mundo vos cerque com suas tentações e divisões. Como traduzimos a Palavra de Deus para que todos a compreendessem, assim vós deveis tornar a verdade de Cristo viva em vossas ações, palavras e corações. Não temais os sacrifícios, pois é pela cruz que se alcança a glória. Uni-vos em oração e caridade, para que a Igreja, una e santa, resplandeça como farol em meio às trevas do mundo."
"Ó vós, que sois chamados a iluminar as nações, considerai a obra de Cirilo e Metódio, que, com coração inflamado pelo Espírito, levaram a palavra divina aos confins da terra! Não temeram as línguas estranhas, nem as dificuldades do caminho, mas, como verdadeiros apóstolos, fizeram-se tudo para todos, para que alguns fossem salvos. Sua sabedoria em traduzir os mistérios sagrados para a língua dos povos é um convite a todos nós: que a verdade de Cristo se vista das formas que os homens possam compreender, sem jamais perder sua essência divina. Ó pastores, imitai sua coragem; ó fiéis, segui sua humildade!" (Crédito: Adaptado de uma homilia de São Gregório Magno.)

Introito (Sl 131, 9-10 | ib., 1)
Sacerdotes Tui, Domine, induant justitiam, et sancti Tui exsultent... Vossos Sacerdotes, Senhor, revistam-se de justiça, e exultem de alegria os vossos Santos; por amor de Davi, vosso servo, não volteis a face a vosso Ungido. Sl. Lembrai-Vos, Senhor, de Davi e de toda a sua submissão.

Epístola (Heb 7, 23-27)
Irmãos: Muitos foram feitos sacerdotes [no antigo Testamento], porque a morte não lhes permitia de o serem sempre. Jesus, porém, porque permanece para sempre, tem um Sacerdócio eterno. Por isso pode salvar perpetuamente os que por Ele chegam a Deus, pois vive sempre para interceder por nós. Convinha, pois, que tivéssemos um tal Pontífice, santo, inocente, imaculado, segregado dos pecadores e elevado acima dos céus, que não tivesse necessidade, como os outros sacerdotes, de oferecer sacrifícios todos os dias, primeiro por seus próprios pecados, depois pelos do povo. Isto fez uma vez para sempre, oferecendo-se a Si mesmo, Jesus Cristo, Senhor nosso.

Evangelho (Lc 10, 1-9)
Naquele tempo, designou o Senhor outros setenta e dois discípulos e mandou-os, dois a dois, em sua frente, por todas as cidades e lugares onde Ele próprio devia ir. Ele lhes dizia: A messe é grande, mas os operários são poucos. Rogai, pois, ao dono da seara que mande operários para sua messe. Ide, eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem calçado e pelo caminho a ninguém saudeis. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz seja nesta casa. E se aí houver um filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; se não, voltará ela para vós. Na mesma casa ficai, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois o operário merece seu salário. Não andeis de casa em casa. E se entrardes em alguma cidade e vos receberem, comei o que vos derem. Curai os enfermos que aí houver e dizei-lhes: Aproximou-se de vós o Reino de Deus.

Homilias e Explicações Teológicas
Os santos irmãos, ao levarem a luz do Evangelho aos povos eslavos, encarnaram a missão de apóstolos enviados a preparar a messe do Senhor, como os setenta e dois discípulos, mostrando que a pregação da palavra é um sacrifício vivo que santifica tanto o pregador quanto os ouvintes, pois o Verbo, sendo eterno, purifica os corações pela verdade (Santo Agostinho, Sermões sobre o Evangelho de Lucas, 101). A tradução da Sagrada Escritura para a língua do povo reflete a condescendência divina, que se inclina para tornar acessível o mistério da salvação, assim como o Sumo Sacerdote eterno, descrito na Epístola, intercede incessantemente pela humanidade, unindo o divino ao humano (Santo Ambrósio, Sobre a Fé, Livro V). A escolha de celebrar a liturgia na língua vernacular, aprovada pela Igreja, manifesta a universalidade da graça, que não se limita a uma única nação, mas abraça todas as culturas, como os sacerdotes do Introito que, revestidos de justiça, servem ao Senhor em todos os povos (Santo Beda, o Venerável, Comentário ao Salmo 131). A missão dos santos, marcada por sacrifícios, ecoa a exortação do Evangelho a curar os enfermos e anunciar o Reino, mostrando que a verdadeira caridade apostólica é um reflexo da oferta perfeita de Cristo, que, sendo sem pecado, se entrega pela redenção de todos (Santo Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, Homilia 17).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Lucas 10, 1-9, com o envio dos setenta e dois discípulos, destaca a missão coletiva e a urgência do anúncio do Reino, um aspecto menos enfatizado em Mateus 10, 5-15, onde o envio é restrito aos Doze e focado inicialmente em Israel, sem menção explícita à cura dos enfermos como sinal do Reino. Marcos 6, 7-13 complementa com a ênfase na autoridade sobre os espíritos imundos, um detalhe ausente em Lucas, sugerindo que a missão envolve também o combate espiritual contra as forças do mal. João 20, 21-23, por sua vez, aprofunda a dimensão da paz e do perdão dos pecados como frutos da missão, elementos que Lucas apenas insinua ao mencionar a saudação de paz, mas não desenvolve com a mesma clareza. Assim, Lucas se distingue pela universalidade da missão, enviando um número maior de discípulos e integrando cura e anúncio como sinais concretos do Reino que se aproxima.

Comparação com Textos de São Paulo
A Epístola de Hebreus 7, 23-27, que exalta Cristo como Sumo Sacerdote eterno, encontra complemento em Romanos 8, 34, onde Paulo descreve Cristo intercedendo à direita do Pai, mas com ênfase na vitória sobre a morte, um aspecto não explicitado em Hebreus, que foca na perfeição do sacrifício único. Em 1 Coríntios 9, 16-17, Paulo fala da pregação como uma necessidade imposta, ecoando a urgência do envio dos setenta e dois em Lucas 10, 1-9, mas adiciona a ideia de recompensa espiritual, ausente no Evangelho. Além disso, em Gálatas 3, 28, Paulo reforça a universalidade da salvação, que transcende barreiras culturais, complementando a missão de Cirilo e Metódio, que, ao traduzirem a Escritura e a liturgia, tornaram o Evangelho acessível aos eslavos, um ponto não abordado diretamente em Hebreus ou Lucas.

Comparação com Documentos da Igreja
O espírito missionário de Cirilo e Metódio, que traduziram a liturgia para a língua eslava, ressoa com o Decreto de Gregório Magno (ano 598, registrado nas Cartas de Gregório, Livro IX), que orienta missionários a adaptar práticas às culturas locais, desde que conformes à fé, um princípio que justifica a aprovação da Santa Sé à liturgia vernacular, não mencionado diretamente nos textos litúrgicos do dia. O Concílio de Trento (1545-1563, Sessão XXII, Cânon 9) reforça a centralidade do sacrifício de Cristo, como descrito em Hebreus 7, 23-27, mas adiciona a necessidade de preservar a dignidade litúrgica, um cuidado implícito na obra dos santos ao introduzir a liturgia eslava. A Constituição Apostólica Quo Primum (1570) de Pio V, embora posterior, codifica a uniformidade litúrgica, mas permite adaptações aprovadas, como as de Cirilo e Metódio, destacando a flexibilidade da Igreja em acolher a diversidade cultural sem comprometer a unidade da fé, um aspecto não explicitado no Introito ou no Evangelho.