🗓️02 JULHO - VISITAÇÃO DE NOSSA SENHORA


Missa comemoração dos Ss. Processo e Martiniano, Mártires

Introito (- | Sl 44, 2)
Salve, sancta Parens, eníxa puérpera Regem... Salve, ó santa Mãe, em cujo seio foi gerado o Rei que governa o céu e a terra, em todos os séculos. Sl. Exulta meu coração em alegre canto: ao Rei dedico as minhas obras.

Epístola (Cn 2, 8-14)
Eis que ele vem, galgando os montes, transpondo os outeiros. Meu amado é semelhante a uma gazela e a um veadinho. Eis que Ele está por detrás de nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando através das grades. Eis que me fala o meu amado e me diz: Levanta-te, apressa-te, ó minha amiga, minha pomba, minha formosa, e vem. Porque já passou o inverno e cessaram de todo as chuvas. Apareceram já as flores em nossos campos, e chegou o tempo da poda; ouviu-se a voz da rola em nossa terra; a figueira começa a produzir seus primeiros botões, e as vinhas em flor exalam seus aromas. Levanta-te, minha amiga, minha formosa, e vem. Ó minha pomba, tu que te recolhes nas fendas da rocha e na cavidade do muro mostra-me o teu rosto; ressoe a tua voz aos meus ouvidos, porque a tua voz é doce e o teu rosto é belo.

Evangelho (Lc 1, 39-47)
Naquele tempo, levantou-se Maria e foi com pressa às montanhas, a uma cidade de Judá. E entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel. E aconteceu que apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, exultou o menino que tinha no seio, e Isabel ficou cheia do Espirito Santo. Ela exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre. E de onde me vem esta graça de vir a mim a Mãe de meu Senhor? Porque assim que chegou aos meus ouvidos a voz de tua saudação, o menino exultou de alegria em meu ventre. Bem-aventurada és tu que creste, porque se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas. Então disse Maria: A minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador.

Homilias e Explicações Teológicas
A Festa da Visitação revela a profundidade da caridade e da humildade, pois Maria, portadora do Verbo Encarnado, não se eleva em sua dignidade, mas se apressa em servir sua prima Isabel, mostrando que a verdadeira grandeza está no serviço aos outros, como o introito (Sl 44, 2) exalta a beleza da alma que transborda em louvor a Deus (Santo Agostinho, Sermão 291). A Epístola (Cn 2, 8-14) apresenta a amada que corre ao chamado do esposo, simbolizando Maria que, movida pelo Espírito, responde prontamente à vontade divina, sua alma sendo o jardim fechado onde o Salvador floresce (São Beda, o Venerável, Comentário ao Cântico dos Cânticos). No Evangelho (Lc 1, 39-47), a saudação de Maria provoca a exultação de João Batista no ventre, significando que a presença de Cristo, mesmo oculta, já opera salvação, unindo a Antiga e a Nova Aliança num único ato de redenção (Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho de Lucas). A Visitação ensina que a fé verdadeira não é estéril, mas fecunda, gerando frutos de caridade que antecipam a glória celestial, como o encontro das duas mães prenuncia a missão redentora de seus filhos (São Bernardo de Claraval, Sermão sobre a Visitação).

Comparação com os Demais Evangelhos
O relato da Visitação em Lucas 1,39-47 destaca a interação entre Maria e Isabel, com o Magnificat como expressão de louvor, um elemento ausente nos outros evangelhos. Mateus, em 1,18-25, foca na anunciação a José e na genealogia de Jesus, sem mencionar a visita de Maria ou sua relação com Isabel, enfatizando a perspectiva legal e messiânica. Marcos, que inicia com o ministério de João Batista (Mc 1,1-8), omite a infância de Jesus e, consequentemente, a Visitação, concentrando-se na ação imediata de Cristo. João, por sua vez, apresenta a encarnação em termos teológicos elevados (Jo 1,1-14), sem narrativas sobre o encontro entre Maria e Isabel, mas reforça a divindade de Cristo, que em Lucas é reconhecida por Isabel no ventre de Maria. Assim, Lucas oferece uma perspectiva única ao destacar a dimensão humana e relacional da encarnação, complementada pela espiritualidade do Magnificat.

Comparação com Textos de São Paulo
A narrativa da Visitação, com seu foco na alegria de Isabel e no cântico de Maria, encontra ressonância em textos paulinos que exaltam a humildade e a ação de Deus nos humildes. Em Filipenses 2,5-11, Paulo descreve a kénosis de Cristo, que se esvazia para assumir a condição de servo, ecoando a humildade de Maria, que se coloca a serviço de Isabel e louva a Deus por sua escolha dos humildes. Em 1 Coríntios 1,26-29, Paulo destaca que Deus escolhe o que é fraco para confundir os fortes, um tema presente no Magnificat, onde Maria celebra a inversão divina que eleva os pobres. Diferentemente de Lucas, que narra a alegria concreta do encontro, Paulo enfatiza a lógica teológica da cruz, onde a humildade se torna o caminho para a exaltação. 

Comparação com Documentos da Igreja
A encíclica Ineffabilis Deus (1854) de Pio IX, ao tratar da Imaculada Conceição, destaca a pureza de Maria como preparação para sua missão de Mãe de Deus, complementando a narrativa de Lucas ao explicar por que Maria é capaz de levar Cristo a Isabel com tal santidade. A encíclica Mystici Corporis Christi (1943) de Pio XII, ao abordar a Igreja como corpo místico, compara Maria ao modelo de caridade e serviço, refletido em sua pressa para ajudar Isabel, um aspecto não explicitado no evangelho. O Missale Romanum de São Pio V (1570) inclui a Visitação como festa litúrgica, enfatizando sua dimensão de louvor e missão, o que reforça o Magnificat como um chamado universal à caridade. Esses documentos, ao contrário do texto lucano, oferecem uma visão doutrinal que enquadra a Visitação como um evento fundante da mariologia e da missão eclesial.