“Não vos prendais ao mesmo jugo que os infiéis. Que união pode haver entre a justiça e a iniquidade? Que comunidade pode haver entre a luz e as trevas? Que compatibilidade entre Cristo e Belial? Que associação entre o fiel e o infiel ? Que acordo entre o Templo de Deus e os ídolos?” (2 Cor 6, 14-16).
“Se alguém vem a vós e não traz esta doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis, porque quem o saúda, participa das suas obras más” (2Jo 10-11)
"Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim". (João 14, 6)
⛪A Verdadeira Unidade em Cristo: Uma Refutação do Indiferentismo Religioso
As passagens da Sagrada Escritura apresentadas tocam no cerne da mensagem divina sobre a salvação, um mistério que só pode ser plenamente compreendido à luz da doutrina católica sobre a natureza e a necessidade da Igreja. A afirmação de Nosso Senhor — "ninguém vem ao Pai senão por mim" — é uma verdade absoluta, mas seu significado teológico se desdobra na instituição que Ele mesmo fundou como Seu Corpo Místico. Tentar interpretar essa exclusividade de Cristo isoladamente, sem referência à Sua Igreja, é esvaziar a Redenção de seu mecanismo divinamente ordenado. A questão central não é se Cristo é o único caminho, pois isso é um dogma de fé, mas como os homens devem percorrer esse caminho.
📖O Caminho, a Verdade e a Vida no Corpo Místico
A exclusividade de Cristo para a salvação é inseparável da exclusividade de Sua Igreja. Pois, assim como a salvação e a remissão dos pecados não podem ser obtidas fora de Cristo, elas também não podem ser encontradas fora da sociedade que é Seu Corpo e Sua Esposa (Fenton, 1958, p. 20-21). A Igreja não é uma organização acidental ou meramente conveniente; ela é a continuação da presença e da obra salvífica de Cristo no mundo. Portanto, a afirmação de que ninguém vai ao Pai senão por Cristo é teologicamente equivalente a afirmar que ninguém alcança a salvação eterna se, no momento da morte, estiver "fora" da Igreja Católica. Trata-se de um dogma perfeitamente conhecido que ninguém pode ser salvo fora da Igreja Católica (Fenton, 1958, p. 58).
⚓A Incompatibilidade Radical entre a Luz e as Trevas
A advertência apostólica sobre a impossibilidade de união entre a justiça e a iniquidade, ou entre Cristo e Belial, refuta diretamente a perniciosa noção do indiferentismo religioso. Este erro sustenta que o caminho da salvação eterna pode ser encontrado em qualquer religião, uma opinião descrita como "ímpia e mortal" pelo magistério da Igreja (Fenton, 1958, p. 43). As religiões não católicas não são caminhos alternativos ou participações incompletas da mesma verdade; elas são, objetivamente, sistemas de erro dos quais as almas precisam ser resgatadas. Não há "comunidade" possível entre a plenitude da verdade revelada, guardada pela Igreja Católica, e as doutrinas que se opõem a ela. Qualquer tentativa de explicar a necessidade da Igreja para a salvação, imaginando que ela é apenas o meio "ordinário" ou necessária apenas para aqueles que conhecem sua dignidade, é completamente falsa e inaceitável (Fenton, 1958, p. 12). A necessidade da Igreja é absoluta.
❤️A Caridade Autêntica e o Dever de Separar-se do Erro
A proibição de receber ou saudar aqueles que "não trazem esta doutrina" não é um preceito de hostilidade, mas uma consequência lógica da caridade autêntica. A verdadeira caridade para com o próximo consiste em desejar e trabalhar pelo seu bem supremo: a salvação eterna. Dado que a salvação só pode ser alcançada dentro da Igreja, a obra da caridade católica é lamentavelmente incompleta, a menos que todo esforço razoável tenha sido feito para persuadir os não católicos a entrar nesta sociedade (Fenton, 1958, p. 59). Participar das "obras más" de falsos mestres é cooperar com a perdição das almas, oferecendo-lhes uma falsa segurança fora da única Arca da Salvação. O trabalho da caridade católica, portanto, não está completo a menos que todo esforço tenha sido despendido para libertar os homens dos erros que os impedem da posse eterna de Deus (Fenton, 1958, p. 59). A separação do erro doutrinário é, assim, uma salvaguarda para os fiéis e um ato de misericórdia para com os que estão fora, pois recusa-se a confirmar seu estado de perigo espiritual. Em última análise, as verdades reveladas sobre a necessidade da Igreja para a salvação pertencem à ordem dos grandes mistérios sobrenaturais, juntamente com a doutrina sobre a graça, a Redenção e a Santíssima Trindade (Fenton, 1958, p. x). Negligenciá-las ou reduzi-las a uma fórmula vazia é trair o próprio Evangelho.
Referências
Fenton, Joseph Clifford. The Catholic Church and salvation: in the light of recent pronouncements by the Holy See. Westminster: The Newman Press, 1958.