(...) há hoje todo um esforço de covardia e traição universal para conjurar o insuportável espetáculo da Cruz. E então, para fugir à visão daquele divino pára-raios da cólera divina, para tirar os olhos do sangue, inventaram o recurso de fazer a Missa derivar mais da ceia do que da Cruz, e com esse estratagema malicioso e parvo, fizeram da Santa Missa um espetáculo de feira, aonde a assembleia dos fiéis é aquele ‘respeitável público’ dos palhaços de circo. Nada mais afastado da verdade: tentativa de transformar a Missa em alegria, um encontro divertido, uma festa ruidosa, quando a Ceia é um fato terrível, o prenúncio da imolação, o sacrifício que se consuma no Gólgota. Eis a depressão intelectual do nosso tempo: recusar o mistério tremendo da Redenção e trocá-lo por uma sociabilidade barata, um simulacro de comunhão que não suporta o peso da Cruz.
Gustavo Corção, Sereis Minhas Testemunhas (artigo de O Globo, 27/09/75)