Em artigo de 30 de julho de 2025, intitulado The Data Is In! Vatican II Devastated the Church, o autor Chris Jackson propõe-se a demonstrar, por meio de dados estatísticos, uma relação causal direta entre o Concílio Vaticano II e o colapso da vida católica. O texto resume e confronta duas análises principais. A primeira é um estudo de 2025, de autoria dos economistas Robert Barro, Edgard Dewitte e Laurence Iannaccone, intitulado “Looking Backward: Long-Term Religious Service Attendance in 66 Countries”. Este estudo, aplicando um método de evento-estudo, conclui que o Concílio "desencadeou" (triggered) um declínio mundial na frequência à missa, um fenómeno singularmente católico e não correlato a uma tendência geral de secularização. A segunda análise provém da obra de 2003 de Kenneth C. Jones, The Index of Leading Catholic Indicators, que compila estatísticas da Igreja nos Estados Unidos, contrastando o crescimento robusto em 1960 com um colapso em todas as categorias mensuráveis (sacerdotes, seminaristas, religiosas, frequência à missa) em 2002. Jackson conclui que tais dados refutam a objeção comum de que se trataria de uma falácia post hoc ergo propter hoc, afirmando que a causalidade está empiricamente verificada.
A compilação de dados estatísticos que evidenciam um declínio na prática religiosa após o Concílio Vaticano II não constitui, para um observador atento, uma revelação, mas antes a quantificação de um desastre já reconhecido, ainda que intermitentemente, pelo próprio Sumo Pontífice (Amerio, p. 6). A acumulação de números sobre a queda no número de sacerdotes, o abandono da vida religiosa ou a diminuição da frequência aos sacramentos serve para dar contornos mensuráveis a uma crise que, em sua essência, não é de ordem numérica, mas de princípios. A estatística é o efeito visível, cuja causa reside numa alteração da substância.
O valor de tais estudos reside em sua capacidade de refutar o otimismo espúrio que tenta apresentar o período pós-conciliar como uma "nova primavera" ou de negar a própria existência da crise, atribuindo os fenómenos de decadência a um vago "espírito do tempo" ou a tendências seculares que teriam afetado a Igreja de qualquer modo (Amerio, p. 2, 7). Os dados apresentados por Barro, Dewitte e Iannaccone são significativos precisamente porque isolam o fenómeno: o declínio católico não acompanha o de outras confissões, mas se inicia de modo singular e agudo precisamente após 1965. Isto confirma que a crise é interna, nascida de uma autodemolição, e não primariamente de um assalto exterior (Amerio, p. 6).
Contudo, a análise não pode deter-se na simples correlação temporal, ainda que causalmente estabelecida. Os números são um sintoma. A redução de 90% dos seminaristas nos Estados Unidos, mencionada por Jones, não é um fenómeno isolado, mas o resultado da crise do sacerdócio, onde o próprio conceito de sacerdócio foi alterado, aproximando-o do sacerdócio comum dos fiéis e esvaziando-o de sua especificidade ontológica (Amerio, p. 145, 152). A drástica queda no número de religiosas corresponde a uma crise análoga nas ordens religiosas, onde os princípios de estabilidade, obediência e a própria finalidade da vida consagrada (a salvação da própria alma) foram substituídos por uma orientação horizontal e mundana (Amerio, p. 261, 263).
A queda da frequência à Missa de 75% para 25% reflete diretamente a perda da unidade de culto (Amerio, p. 566). A reforma litúrgica, com a abolição do latim e a introdução do princípio de criatividade, transformou a ação sagrada, objetiva e teocêntrica, numa ação subjetiva, psicológica e antropocêntrica (Amerio, p. 485, 500). Quando 70% dos jovens católicos negam a Presença Real, como aponta Jones, isto não é um fracasso catequético abstrato, mas a consequência lógica de uma teologia eucarística que diluiu o dogma da transubstanciação, favorecendo noções de transignificação ou de uma mera presença espiritual na assembleia (Amerio, p. 471). A mesma Institutio Generalis do novo Missal, em seu artigo 7 original, continha uma definição da Missa que se afastava notavelmente da doutrina do Sacrifício, como foi amplamente demonstrado (Amerio, p. 479).
O aumento vertiginoso das anulações matrimoniais, de 338 para 50.000, é a manifestação jurídica da crise do matrimónio, onde a indissolubilidade, antes defendida como lei natural e divina, cede lugar a uma nova espiritualidade conugal que prioriza a "comunidade de vida e amor" em detrimento do fim procreador e do vínculo objetivo (Amerio, p. 517, 519).
Portanto, a estatística não é a causa, nem sequer a causa primária é o Concílio como evento histórico isolado. A causa é a variação de fundo nos princípios que informam a fé e a vida da Igreja. Os números não mentem, mas também não explicam tudo. Eles apenas medem o afastamento de um estado anterior. A verdadeira análise consiste em identificar a alteração dos princípios que tornou possível tal decadência. A crise não é que os números tenham caído; a crise é que as doutrinas que sustentavam esses números foram alteradas, tornando a queda uma consequência inevitável. O valor de tais estudos é confirmar que a mudança de princípios não conduziu a uma renovação, como se esperava, mas a uma vasta ruína.
Referências
AMERIO, Romano. Iota Unum: estudio sobre las transformaciones en la Iglesia en el siglo XX. Versión corregida. Septiembre 2011.
JACKSON, Chris. The Data Is In! Vatican II Devastated the Church. Hiraeth In Exile, 30 jul. 2025.