Durante as Congregações Gerais que precedem o conclave de 7 de maio de 2025, o cardeal Joseph Zen, bispo emérito de Hong Kong, fez uma intervenção contundente diante de todos os cardeais, expressando preocupações profundas sobre o rumo da Igreja Católica no pontificado do Papa Francisco. Aos 92 anos, Zen, conhecido por sua resistência ao regime comunista chinês e sua defesa da ortodoxia católica, trouxe à tona críticas incisivas, focando especialmente no Sínodo da Sinodalidade e na deriva doutrinária percebida na Igreja. Este artigo sintetiza suas principais críticas, com base na cobertura publicada pelo InfoVaticana em 4 de maio de 2025.
O cardeal Zen alertou para o que considera uma perda de direção doutrinária e pastoral durante o pontificado de Francisco. Ele expressou preocupação com a diluição da identidade católica, sugerindo que a Igreja tem se afastado de sua missão fundamental em favor de experimentações que comprometem sua essência. Segundo Zen, os últimos anos testemunharam uma erosão dos princípios tradicionais, o que ameaça a clareza da mensagem evangélica e a autoridade magisterial da Igreja.
Um dos pontos centrais de sua intervenção foi a crítica ao Sínodo da Sinodalidade, que Zen teme que possa aproximar a Igreja Católica de práticas semelhantes às da Igreja Anglicana. Ele advertiu que as conclusões sinodais correm o risco de protestantizar a Igreja, comprometendo sua estrutura hierárquica e a centralidade da autoridade papal. Para Zen, o foco excessivo na sinodalidade pode levar a uma descentralização que fragiliza a colegialidade episcopal e a unidade doutrinária, características essenciais do catolicismo.
Zen levantou questões cruciais sobre a possibilidade de reverter os efeitos de anos de "experimentação" sinodal. Ele perguntou: “¿Será posible dar marcha atrás tras años de experimentación? ¿Cómo se preservará la unidad de la Iglesia católica?” Essas indagações refletem sua inquietação com a sustentabilidade das mudanças propostas e com a capacidade da Igreja de manter sua coesão em meio a possíveis alterações doutrinárias ou estruturais. Para o cardeal, a unidade da Igreja está em risco se as tendências atuais continuarem sem correção.
Outro aspecto abordado por Zen foi a má interpretação dos ensinamentos do Concílio Vaticano II. Ele reconheceu o valor do Concílio, que, em seu tempo, fortaleceu a Igreja, mas lamentou que suas diretrizes tenham sido distorcidas por uma “hermenêutica da ruptura”. Essa abordagem, segundo ele, rompe com a tradição católica, em vez de promover a “hermenêutica da continuidade”, que interpreta os ensinamentos conciliares em harmonia com o depósito da fé. Zen vê essa distorção como uma das raízes da crise atual na Igreja.
Embora conhecido por suas críticas aos acordos secretos entre o Vaticano e a China, Zen optou por não abordar diretamente esse tema durante sua intervenção. Essa decisão foi interpretada como uma medida cautelosa para evitar represálias do governo chinês contra si ou outros bispos católicos na China. Contudo, sua presença em Roma, apesar das restrições impostas pelo regime comunista, reforça sua postura de resistência e sua determinação em influenciar o futuro da Igreja.
A intervenção de Zen, publicada integralmente pelo jornal católico americano The Pillar, ressoou como um chamado à reflexão em um momento crucial para a Igreja, às vésperas do conclave. Suas palavras ecoam um sentimento de descontentamento entre setores conservadores, que veem no pontificado de Francisco uma flexibilização doutrinária e uma abertura excessiva a influências externas. Como figura de autoridade moral, tanto pela sua luta contra a opressão na China quanto pela sua defesa da ortodoxia, Zen posiciona-se como uma voz que busca preservar a identidade católica em tempos de incerteza.
Referências
InfoVaticana. (4 de maio de 2025). "Contundente intervención del cardenal Zen delante de todos los cardenales". Disponível em: https://infovaticana.com/2025/05/04/contundente-intervencion-del-cardenal-zen-delante-de-todos-los-cardenales/
The Pillar. (2025). Publicação da intervenção completa do cardeal Joseph Zen.
