Pachamama no Vaticano: A Profanação Modernista do Papado e a Crise da Fé Católica


O Sínodo da Amazônia, realizado em outubro de 2019 no Vaticano, trouxe à tona debates acalorados dentro da Igreja Católica, especialmente em torno da presença de imagens associadas à Pachamama, uma figura venerada em culturas indígenas sul-americanas como símbolo da terra e da fertilidade. A inclusão dessas imagens em eventos litúrgicos e cerimoniais gerou reações polarizadas, com críticos tradicionalistas, como o Reverendo Padre Anthony Cekada, autor do artigo “A Profissão de Heresia Modernista do Papa Pachamama” (Controvérsia Católica, 2019), denunciando o que consideram uma profanação e uma manifestação de heresia modernista. Este artigo analisa a controvérsia da Pachamama sob a perspectiva do artigo de Cekada, complementando suas ideias com reflexões teológicas e contextuais, e explorando as implicações para a doutrina católica e a crise eclesial contemporânea.

O Sínodo da Amazônia foi convocado pelo Papa Francisco para discutir questões pastorais, ecológicas e culturais relacionadas à região amazônica, incluindo a evangelização dos povos indígenas. Durante o evento, imagens de madeira representando uma mulher grávida, identificadas por alguns como Pachamama, foram usadas em uma cerimônia nos Jardins Vaticanos, com a presença do Papa. Essas imagens também apareceram em procissões, missas e foram exibidas na igreja de Santa Maria in Traspontina, em Roma. Uma oferenda à Pachamama foi colocada sobre o túmulo de São Pedro, um ato que Cekada (2019) interpreta como uma grave violação da sacralidade do local.

Cekada cita o Salmo 95, “Todos os deuses dos pagãos são demônios”, para sustentar que a introdução da Pachamama constitui idolatria. Ele argumenta que a presença dessas imagens em espaços litúrgicos é não apenas uma ofensa à fé católica, mas também um reflexo de uma agenda modernista que busca integrar práticas pagãs na Igreja, em detrimento dos dogmas tradicionais. A controvérsia se intensificou quando católicos indignados jogaram as imagens no rio Tibre, um ato que o Papa Francisco lamentou, pedindo desculpas e confirmando que as imagens eram de fato representações de Pachamama (Cekada, 2019).

O cerne da crítica de Cekada é que a aceitação da Pachamama no contexto do Sínodo reflete uma heresia modernista, especificamente a ideia de evolução do dogma, que ele atribui ao Concílio Vaticano II (1962-1965). Segundo o autor, o Vaticano II abriu as portas para a noção de que religiões não cristãs, incluindo práticas pagãs, podem ser “meios de salvação” guiados pelo Espírito Santo. Essa perspectiva, para Cekada, é incompatível com a doutrina católica tradicional, que enfatiza a exclusividade da Igreja como caminho para a salvação.

O autor aponta para um artigo do VaticanNews, publicado após o Sínodo, intitulado “O desenvolvimento da doutrina é um povo que caminha unido”, como uma tentativa de justificar a inclusão da Pachamama sob o pretexto de uma doutrina em evolução. Para Cekada, essa visão sugere que os dogmas católicos podem ser adaptados às sensibilidades culturais modernas, como as práticas indígenas, o que ele considera uma traição à imutabilidade da fé. Ele classifica essa abordagem como uma “meta-heresia modernista”, que compromete a infalibilidade do magistério e a autoridade da Igreja.

C`Papa Francisco foi diretamente associado aos eventos envolvendo a Pachamama, participando da cerimônia inicial nos Jardins Vaticanos, abençoando uma imagem e permitindo sua inclusão em celebrações litúrgicas. Cekada (2019) interpreta essas ações como uma sanção oficial à idolatria, especialmente porque o Papa não condenou explicitamente o uso das imagens como pagãs. Após o incidente do rio Tibre, o Papa pediu desculpas, referindo-se às imagens como “Pachamama” e expressando pesar pela ofensa causada aos indígenas, mas sem desautorizar sua presença litúrgica.

Para Cekada, essas ações são parte de uma estratégia deliberada para minar os dogmas católicos, promovendo uma “unidade” centrada no conceito de “povo de Deus” em detrimento da doutrina tradicional. Ele argumenta que o Papa Francisco, ao integrar elementos culturais indígenas, como a Pachamama, na liturgia, está implementando uma visão pós-conciliar que relativiza a exclusividade da fé católica.

A controvérsia da Pachamama, segundo Cekada, é um sintoma de uma crise mais ampla iniciada pelo Concílio Vaticano II. Ele defende a posição sedevacantista, alegando que os papas pós-conciliares, incluindo Francisco, não são legítimos devido à sua adesão a heresias modernistas. A inclusão da Pachamama é vista como uma profanação, mas o autor considera ainda mais grave a tentativa de institucionalizar a evolução do dogma como parte do magistério, o que compromete a infalibilidade da Igreja.

Teologicamente, a introdução da Pachamama levanta questões sobre a inculturação – a adaptação da liturgia às culturas locais – e seus limites. Enquanto defensores do Sínodo, como o Papa Francisco, argumentam que as imagens podem ser interpretadas como símbolos culturais ou representações da Virgem Maria, críticos como Cekada rejeitam essa leitura, insistindo que a Pachamama é inerentemente pagã e incompatível com o monoteísmo cristão.

Eclesiológica, a controvérsia expõe divisões profundas na Igreja entre tradicionalistas, que defendem a imutabilidade da doutrina, e progressistas, que advogam por uma Igreja mais inclusiva e adaptável. A reação ao caso da Pachamama, incluindo atos de protesto como o lançamento das imagens no Tibre, reflete a crescente polarização entre esses grupos.

Embora o artigo de Cekada apresente uma crítica contundente, ele adota uma perspectiva sedevacantista que não representa a visão majoritária dos católicos. A abordagem do autor é marcadamente unilateral, ignorando interpretações alternativas que veem a Pachamama como uma expressão cultural legítima, sem intenções idólatras. Por exemplo, o documento final do Sínodo enfatiza a importância de respeitar as tradições indígenas sem comprometer a fé cristã, uma nuance que Cekada desconsidera.

Além disso, a controvérsia da Pachamama destaca a tensão entre universalidade e particularidade na Igreja. O desafio de evangelizar culturas diversas exige equilíbrio entre a preservação da doutrina e a abertura a expressões culturais locais. A reação à Pachamama sugere que esse equilíbrio ainda não foi plenamente alcançado, especialmente em um contexto globalizado onde ações no Vaticano têm repercussão imediata.

A controvérsia da Pachamama no Sínodo da Amazônia, conforme analisada por Cekada, é um marco na crise eclesial contemporânea, expondo tensões entre tradição e modernidade na Igreja Católica. Para o autor, a inclusão da Pachamama é uma manifestação de heresia modernista, enraizada no Concílio Vaticano II, que ameaça a imutabilidade da fé. Suas críticas, embora incisivas, refletem uma visão sedevacantista que rejeita a legitimidade do papado pós-conciliar, limitando o diálogo com perspectivas mais moderadas.

O caso da Pachamama não é apenas sobre imagens de madeira, mas sobre questões fundamentais: a natureza do dogma, os limites da inculturação e a autoridade do magistério. Para os católicos, a controvérsia é um convite à reflexão sobre como a Igreja pode permanecer fiel à sua missão universal enquanto abraça a diversidade cultural. A resolução dessas tensões exigirá diálogo, humildade e um retorno aos princípios fundantes da fé.

Referências

Cekada, A. (2019). A Profissão de Heresia Modernista do Papa Pachamama. Controvérsia Católica. Disponível em: https://controversiacatolica.wordpress.com/2019/11/04/a-profissao-de-heresia-modernista-do-papa-pachamama/
VaticanNews. (2019). O desenvolvimento da doutrina é um povo que caminha unido. 
Sínodo para a Amazônia. (2019). Documento Final. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana.