A Batalha das Duas Cidades na Perseguição Cristã Contemporânea


O artigo "Faith under Fire", de Greg Maresca, aborda a crescente perseguição aos cristãos, com foco particular nos católicos, nos Estados Unidos e no mundo. O autor inicia citando um massacre recente em uma igreja em Minneapolis e estatísticas de ataques a igrejas nos EUA em 2023, incluindo vandalismo, incêndios criminosos e agressões. Globalmente, menciona a perseguição legal no Egito e na Índia, bem como a violência genocida na Nigéria e os ataques do ISIS em Moçambique. Maresca contrasta a violência física no exterior com a "erosão gradual" da liberdade religiosa na América, que ocorre por meio de mudanças legais, culturais e institucionais. Ele atribui essa hostilidade à "Esquerda Radical", cuja agenda, segundo ele, é um "veneno para a liberdade", hostil à verdade e uma ameaça aos direitos dados por Deus, visando minar os "fundamentos bíblicos" da nação. O texto conclui que a América está em uma "batalha espiritual pela alma da nação" e conclama os cristãos a se engajarem ativamente na defesa da fé, da família e da liberdade, afirmando que o silêncio equivale à cumplicidade.

O panorama de hostilidade e violência contra a fé cristã, detalhado com dados alarmantes (Maresca, 2024), não deve ser interpretado como um fenômeno político isolado ou recente. Pelo contrário, representa a manifestação visível e aguda de uma guerra espiritual e histórica que atravessa os séculos: o conflito entre as duas cidades, a Cidade de Deus e a Cidade do Homem (Meinvielle, 1970, p. 11). A perseguição, seja ela física e brutal ou cultural e subversiva, é uma consequência lógica do avanço de uma tradição antagônica à ordem católica, que hoje se manifesta sob a forma de ideologias secularistas e revolucionárias.

📜A Natureza do Inimigo: A Tradição Gnóstico-Cabalística

O que é descrito como a "Esquerda Radical" (Maresca, 2024) é, em sua essência, o veículo contemporâneo de uma corrente de pensamento muito mais antiga e profunda: a tradição gnóstico-cabalística. Esta tradição, em sua forma pervertida, constitui uma inversão fundamental da ordem revelada. Enquanto a tradição católica se baseia em um Deus pessoal e transcendente que cria o mundo ex nihilo, a tradição gnóstica propõe um "deus" impessoal e imanente, uma espécie de Ein-Sof ou "Nada" que evolui e se realiza no próprio mundo e no homem (Meinvielle, 1970, p. 75, 235).

Esta visão de mundo nega a distinção ontológica entre Criador e criatura, entre o sagrado e o profano, entre a natureza e a graça. Consequentemente, o objetivo não é a salvação da alma por meio da graça de Cristo, mas a "autossalvação" do homem através do conhecimento (gnose) de sua própria divindade imanente (Meinvielle, 1970, p. 141, 240). A hostilidade à verdade e aos "fundamentos bíblicos" mencionada no artigo original é, portanto, uma necessidade metafísica para esta tradição, pois a ordem católica, com seu Deus transcendente e sua moral objetiva, é o principal obstáculo à divinização do homem e à construção de uma cidade puramente terrena.

🏛️O Mecanismo da Subversão: Secularização como Projeto Gnóstico

A "erosão gradual" da liberdade religiosa na América, através de mudanças legais e culturais (Maresca, 2024), é a tática principal desta tradição em tempos modernos. Este processo, conhecido como secularização, não é um desenvolvimento neutro, mas um projeto ativo de "redivinização" do mundo e do homem (Voegelin, 2024 apud Meinvielle, 1970, p. 281). O objetivo é criar uma sociedade de dimensão única, onde o sagrado é absorvido pelo profano, a Igreja pelo mundo, e a graça pela natureza.

Neste contexto, a pressão para que hospitais católicos ofereçam abortos ou a remoção de símbolos religiosos de espaços públicos não são meras disputas políticas. São movimentos estratégicos para apagar a presença da ordem transcendente da vida pública, estabelecendo o homem e suas construções (o Estado, a cultura de massas, a revolução) como a única realidade normativa. Trata-se da construção de uma "cristandade laica" ou, mais precisamente, de uma "Anticristandade", onde a Igreja é tolerada apenas na medida em que se torna serva dos objetivos do mundo secularizado (Meinvielle, 1970, p. 388-390).

👁️Os Agentes Históricos da Revolução Anticristã

Esta tradição gnóstico-cabalística não é uma abstração, mas uma força histórica com agentes concretos. Sua origem, em sua forma pervertida, pode ser rastreada até a corrupção da revelação original por influências pagãs e esotéricas, culminando na Cábala judaica pós-cristã, que se tornou um instrumento de oposição à Igreja (Meinvielle, 1970, p. 110, 165). Ao longo da história, esta corrente se manifestou através de diversas heresias (gnosticismo, maniqueísmo, catarismo) e sociedades secretas, como os Templários em sua fase decadente e, mais tarde, a Maçonaria, que se tornou o grande veículo para a destruição da civilização cristã (Meinvielle, 1970, p. 29, 109).

As ideologias modernas, desde o idealismo alemão até o comunismo e o progresismo contemporâneo, são as herdeiras diretas deste projeto. Elas representam a transposição para o plano filosófico, político e social da mesma teogonia gnóstica: um "deus" que se faz na história, um homem que se diviniza através da revolução, e uma cidade terrena que substitui o Reino dos Céus. A luta, portanto, não é apenas contra uma ideologia política, mas contra uma contra-igreja organizada que busca o governo mundial (Meinvielle, 1970, p. 286).

🔥A Batalha Final: A Escolha Entre Duas Cidades

A análise dos fatos apresentados (Maresca, 2024) confirma que estamos, de fato, em meio a uma batalha espiritual decisiva. No entanto, o conflito é mais profundo do que uma simples luta por "valores americanos". É a manifestação contemporânea da luta escatológica entre a Cidade de Deus, representada pela Igreja Católica fiel, e a Cidade do Homem, animada pela tradição gnóstico-cabalística. A escolha não é entre direita e esquerda, mas entre a submissão ao Deus transcendente de Cristo e a autolatria do homem divinizado.

Neste cenário, a apatia e o silêncio são, de fato, formas de cumplicidade. A defesa da fé, da família e da liberdade exige mais do que uma ação política no dia da eleição; exige a compreensão da natureza teológica e histórica do inimigo e a adesão integral à única tradição que oferece a verdadeira salvação: a tradição católica. O fundamento que está rachando não é apenas o de uma nação, mas o da própria Cristandade, e a resposta deve estar à altura do desafio.

📚Referências

MARESCA, Greg. Faith under fire. The Remnant, 2024. Disponível em: https://remnantnewspaper.com/web/index.php/headline-news-around-the-world/item/7909-faith-under-fire
MEINVIELLE, Julio. De la Cábala al progresismo. Salta: Editora Calchaquí, 1970.