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Sociedade corrompida - Pós-modernismo e Niilismo


Pós-modernismo

Em 1971 foi publicado o  livro "A Condição Pós-Moderna" por Jean-François Lyotard: Este livro, publicado originalmente em francês como "La condition postmoderne: rapport sur le savoir", é considerado um texto fundador do pós-modernismo como movimento filosófico.
Lyotard apresentou nesta obra uma crítica às "grandes narrativas" ou "metanarrativas", um conceito central do pensamento pós-moderno.
O livro teve um impacto significativo nos círculos acadêmicos, estimulando debates e discussões sobre a natureza do conhecimento e da sociedade na era pós-industrial.
A publicação coincidiu com mudanças sociais, políticas e tecnológicas significativas, refletindo e teorizando sobre essas transformações.
Embora o termo "pós-moderno" já existisse antes, este livro ajudou a consolidá-lo e a definir mais claramente o que significava em termos filosóficos e culturais.

Corrupção dos valores 

O pós-modernismo questiona verdades absolutas, desconstrói normas e tradições, e relativiza valores morais, o que pode ser interpretado como uma forma de corroer os fundamentos éticos e espirituais de uma sociedade.

Além do pós-modernismo, movimentos culturais e sociais como o niilismo também são frequentemente associados à ideia de uma sociedade que perde seu sentido de moralidade e direção, promovendo uma visão de que os valores tradicionais não têm mais validade ou relevância.

Outro exemplo seria o movimento transgressivo na arte, que se propõe a desafiar normas culturais e morais, buscando romper com limites estabelecidos por meio de temas chocantes ou tabu, como a violência, sexualidade e crítica às instituições religiosas. Esses movimentos artísticos e intelectuais são, às vezes, vistos como promotores de uma "corrupção" cultural, especialmente quando confrontam valores religiosos ou tradicionais.

Niilismo 

1862 é frequentemente considerada um marco importante na definição do termo niilismo:
Publicação de "Pais e Filhos": Neste ano, o escritor russo Ivan Turgenev publicou seu romance "Pais e Filhos" (em russo: "Отцы и дети", "Otsy i deti").
Popularização do termo: Este romance foi fundamental para popularizar o termo "niilismo" e introduzir o conceito ao público mais amplo.
Personagem Bazarov: O protagonista do romance, Yevgeny Bazarov, é frequentemente citado como o primeiro "niilista" retratado na literatura. Ele encarna muitas das ideias associadas ao niilismo.
Contexto histórico: A publicação coincidiu com um período de mudanças sociais e filosóficas significativas na Rússia, refletindo e influenciando debates contemporâneos.
Impacto cultural: O livro gerou intenso debate e controvérsia, ajudando a estabelecer o niilismo como um tópico de discussão filosófica e cultural.

É uma corrente filosófica que defende a negação ou ausência de significado, valores ou propósito intrínseco na vida. O termo vem do latim "nihil", que significa "nada", e está associado à ideia de que, no universo, não há fundamentos objetivos para a moralidade, a verdade, ou qualquer sentido transcendente. Essa visão muitas vezes sugere que todas as crenças, sejam religiosas, morais ou políticas, são essencialmente infundadas.

Negação de valores absolutos: Niilistas rejeitam a ideia de que existam valores morais, éticos ou religiosos universais que regem a conduta humana. Para eles, as crenças e normas sociais são construções humanas e, portanto, não possuem validade objetiva.

Ausência de propósito: O niilismo postula que a vida e a existência não têm um propósito maior ou sentido intrínseco. Isso significa que qualquer tentativa de encontrar um "significado" ou uma verdade última no mundo pode ser ilusória ou sem fundamento.

Crítica às instituições: Historicamente, o niilismo foi usado para criticar as instituições religiosas e políticas, especialmente durante o século XIX na Rússia, onde muitos intelectuais questionavam os fundamentos da sociedade e do Estado. Filósofos como Friedrich Nietzsche associaram o niilismo ao declínio das crenças religiosas e à crise dos valores tradicionais no Ocidente.

Niilismo passivo vs. niilismo ativo: Nietzsche diferenciou entre o niilismo passivo e o ativo. O niilismo passivo caracteriza-se pela resignação e desesperança, ao aceitar que a vida não tem sentido. Já o niilismo ativo busca transformar essa ausência de significado em uma oportunidade para criar novos valores e redefinir o propósito da existência humana.

Influência cultural: O niilismo teve grande impacto na literatura, arte e filosofia contemporâneas, influenciando autores como Dostoiévski e Kafka. Em muitos casos, é retratado como uma força destrutiva que questiona todas as convenções, mas que também pode levar a uma renovação criativa.

Uma sociedade corrompida 

O niilismo vai além de apenas questionar ou desconstruir estruturas de poder ou valores, como faz o pós-modernismo. Ele implica uma completa perda de significado e valor moral, o que pode levar à ideia de uma degeneração ou corrupção total de uma sociedade. Quando se fala de corrupção no sentido ético e moral, o niilismo, com sua rejeição de qualquer fundamento moral ou espiritual, apresenta uma visão de uma sociedade onde os princípios fundamentais estão destruídos, resultando em desordem e falta de propósito.

No entanto, o pós-modernismo também pode abarcar essa ideia, mas de maneira menos direta. Ele desconstrói e relativiza as normas e valores sociais, o que pode ser interpretado como contribuindo para a corrupção moral ou ética, ao remover a crença em uma verdade ou moralidade absoluta. A ideia de uma "sociedade corrompida" no pós-modernismo seria vista como a consequência de uma desintegração de certezas, verdades e valores, levando ao caos ou ao vazio moral.

Relativismo - A grande heresia modernista


Perguntado sobre o que está na raiz das heresias de hoje, Schneider responde: A heresia raiz do nosso tempo é relativismo em suas características hegelianas. Isso significa que [ser] não pode haver uma verdade que é objetivamente sempre e em todos os lugares em si mesmo verdadeira. A verdade é, em última análise, feita pelo homem e através do desenvolvimento histórico. (https://www.lifesitenews.com/blogs/bishop-schneider-modernism-condemned-by-pius-x-has-been-realized-in-all-its-devastating-consequences/)

A resposta do Bispo Athanasius Schneider, que identifica o relativismo com características hegelianas como a "heresia raiz" dos nossos tempos, aponta para uma crítica específica ao pensamento de Hegel, especialmente no que se refere à sua concepção da verdade e do desenvolvimento histórico.

Hegel concebia a verdade como um processo dinâmico, não algo estático e imutável. A verdade, para ele, emergia e se desenvolvia ao longo do tempo através de um processo dialético, onde ideias opostas (tese e antítese) entram em conflito, e dessa interação surge uma síntese, uma nova verdade, que, por sua vez, pode se tornar a base de novos conflitos e novas sínteses. Esse movimento contínuo reflete a visão hegeliana de que a história é o palco do desenvolvimento do Espírito (ou Geist), onde a verdade se revela progressivamente.

Elementos hegelianos envolvidos na crítica ao relativismo

Dialética: A ideia de que a verdade se constrói por meio do conflito e síntese de ideias pode ser vista como contribuindo para uma visão relativista, onde a verdade não é fixa, mas muda conforme as circunstâncias históricas e culturais. Essa visão dialética hegeliana pode ser interpretada como uma negação de verdades absolutas e eternas, levando à noção de que tudo é passível de revisão e mudança.

Historicismo: Hegel acreditava que a verdade é algo que evolui com o tempo e que cada estágio da história reflete uma versão mais avançada da verdade. Isso pode ser lido como um precursor do relativismo, onde o que é considerado verdadeiro em um período histórico pode não ser em outro. Essa relativização da verdade ao contexto histórico se choca com a visão de uma verdade objetiva e universal, típica de correntes religiosas tradicionais.

Racionalidade Processual: Hegel sustentava que a realidade e a verdade se manifestam através do processo racional da história. Isso implica que o que é considerado verdadeiro em um ponto do tempo pode ser superado à medida que o Espírito (ou o entendimento da realidade) evolui. Tal perspectiva pode levar à ideia de que a verdade é algo fabricado ou moldado pelo desenvolvimento humano e não algo que existe de maneira independente do tempo e da mente humana.

Crítica ao Absoluto: Apesar de Hegel falar sobre um "absoluto", este absoluto não é uma verdade transcendente e imutável, como seria em uma perspectiva religiosa tradicional. O absoluto hegeliano é algo que se realiza no tempo, na história, e através do desenvolvimento humano. Para Hegel, o absoluto é o fim do processo dialético, algo que é alcançado através da síntese contínua de contradições. Isso é contrastado com a ideia de um absoluto que já existe de forma plena e intangível.

Portanto, a crítica de Schneider é que essa visão hegeliana, quando combinada com o relativismo moderno, mina a ideia de uma verdade eterna e imutável, promovendo a noção de que a verdade é subjetiva e moldada pelas condições históricas. Isso, para ele, seria uma "heresia" porque nega a possibilidade de uma verdade absoluta, em consonância com a visão cristã tradicional de Deus e da verdade como universais e imutáveis.

Essas características hegelianas influenciaram não apenas o relativismo, mas também várias correntes de pensamento pós-modernas, que questionam a existência de uma verdade objetiva.

Eric Voegelin critica Hegel 

Afirma que a filosofia de Hegel não é verdadeiramente filosofia, mas um tipo de "sistema de bruxaria". Essa visão faz parte do contexto mais amplo da crítica de Voegelin ao que ele considerava ser a corrupção da filosofia ocidental desde o período moderno.

Segundo Voegelin, Hegel teria transformado a busca filosófica pela verdade em uma espécie de construção ideológica totalizante. Para Voegelin, Hegel cria um sistema que promete revelar o sentido da história e do espírito humano de uma maneira quase mística, oferecendo uma espécie de redenção ou salvação através do conhecimento, o que para ele seria uma pretensão perigosa e ilusória. Voegelin vê isso como uma forma de gnose, onde Hegel propõe que o homem pode dominar a realidade histórica e espiritual através do seu sistema de pensamento.

Ao chamar o sistema de Hegel de "bruxaria", Voegelin está, de certa forma, associando a obra hegeliana a um tipo de magia intelectual, onde conceitos são manipulados para produzir uma ordem de coisas que não corresponde à realidade transcendente ou à verdade filosófica genuína, mas sim a um produto da imaginação humana que promete poder e controle.

Esse tipo de crítica se enquadra na oposição de Voegelin ao que ele chama de "ideologias", sistemas de pensamento que tentam encapsular a realidade dentro de uma estrutura fechada e que, na visão dele, levam ao totalitarismo e à negação da verdadeira natureza humana e do mistério divino.

O relativismo pode ser considerado uma forma de pensamento

É uma corrente filosófica que sustenta a ideia de que a verdade, os valores morais, e o conhecimento são sempre relativos ao contexto, como cultura, sociedade ou perspectivas individuais. Em vez de haver uma verdade ou um valor absoluto, o relativismo argumenta que esses conceitos variam conforme as circunstâncias ou pontos de vista.

Tipos de relativismo:

Relativismo moral: A ideia de que não existem padrões morais absolutos e que o que é considerado certo ou errado depende de cada cultura ou indivíduo.
Relativismo epistemológico: A ideia de que o conhecimento e a verdade não são universais, mas dependem do contexto, do método de investigação, ou da perspectiva adotada.
Relativismo cultural: A crença de que as práticas e crenças de uma sociedade devem ser entendidas dentro de seu próprio contexto cultural, sem julgamento a partir de critérios externos.

Datas e referências históricas para o relativismo:

Antiguidade:Protágoras (c. 490–420 a.C.), um dos primeiros sofistas gregos, é famoso pela frase "o homem é a medida de todas as coisas", que é uma forma precoce de relativismo epistemológico. Ele argumentava que a verdade é relativa à percepção de cada indivíduo.

Era Moderna:No contexto filosófico moderno, o relativismo ganha força no século XVII e XVIII com pensadores como Michel de Montaigne (1533–1592), que defendia uma visão cética e relativista da moralidade e do conhecimento, argumentando que diferentes culturas têm diferentes verdades.

Século XIX:O historicismo de Hegel (1770–1831) e o perspectivismo de Friedrich Nietzsche (1844–1900) são influentes na consolidação do relativismo. Nietzsche, em particular, argumentava que não existem fatos, apenas interpretações, promovendo a ideia de que as verdades dependem da perspectiva de quem as observa.

Século XX:O relativismo ganha força com o desenvolvimento da antropologia cultural, com figuras como Franz Boas (1858–1942), que defendia o relativismo cultural, argumentando que todas as culturas são igualmente válidas em seus próprios termos.
O pós-modernismo, com filósofos como Michel Foucault e Jean-François Lyotard, também contribui significativamente para o relativismo, questionando a existência de grandes narrativas ou verdades universais e propondo que o conhecimento e a verdade são construções sociais.

A década de 1880 

Foi particularmente significativa com o pensamento de Friedrich Nietzsche e outros intelectuais da época. Durante esse período, o relativismo, juntamente com outras correntes de pensamento como o positivismo e o materialismo, começou a ganhar destaque e foi visto como uma ameaça às doutrinas tradicionais da Igreja, que defendem a existência de verdades morais e teológicas absolutas.

Nietzsche e a crítica ao cristianismo: Nietzsche, com obras como "Assim Falou Zaratustra" (1883) e "Além do Bem e do Mal" (1886), não só promoveu o perspectivismo e o relativismo, mas também fez críticas severas ao cristianismo, chamando-o de uma moralidade que negava a vida. Essas ideias começaram a reverberar nos círculos intelectuais europeus, representando um desafio direto à Igreja Católica e à sua defesa da verdade moral e doutrinária universal.

Resposta da Igreja Católica

A Igreja começou a intensificar suas respostas ao relativismo e ao pensamento secular, como evidenciado no final do século XIX e início do século XX. Um marco importante foi a publicação da encíclica "Aeterni Patris" por Papa Leão XIII, em 1879, onde ele defendeu a restauração da filosofia de São Tomás de Aquino (o tomismo), que reitera a existência de uma verdade objetiva, natural e divina.O tomismo foi promovido como uma resposta ao relativismo, visto que ele apresenta uma visão clara da verdade baseada na razão e na revelação divina, em contraste com a crescente influência de perspectivas filosóficas que relativizavam o conceito de verdade.

A partir de 1880, o relativismo começou a ser visto pela Igreja Católica como uma das "heresias modernas". Esse movimento em direção a uma "verdade relativa" na moral e no conhecimento era contrário à doutrina católica que afirmava a existência de verdades universais e imutáveis, particularmente as verdades teológicas e morais reveladas por Deus.