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domingo, 20 de outubro de 2024

Dúvidas quanto ao Espírito Santo- Papa Francisco

"Mas foi a heresia que levou a Igreja a definir essa fé. Quando este processo começou – com Santo Atanásio no quarto século – foi precisamente a experiência que teve da ação santificadora e divinizadora do Espírito Santo que levou a Igreja à certeza da plena divindade do Espírito Santo”.
(Papa Francisco, Audiência Geral, Vatican.va, Oct. 16, 2024)

Afirmar que a Igreja Católica não tinha certeza sobre a divindade do Espírito Santo e sua posição como a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade durante os primeiros séculos seria equivalente a negar que os Apóstolos transmitiram explicitamente um dos dogmas mais fundamentais da fé cristã. Este dogma é tão essencial que sem seu conhecimento explícito, a salvação estaria em risco. O próprio Santo Atanásio (c. 296-373), a quem o Papa Francisco faz referência, refuta essa ideia de uma Igreja incerta sobre a natureza de Deus. Em suas cartas ao monge Serapião, Atanásio afirma claramente que a doutrina da Santíssima Trindade, e consequentemente a divindade do Espírito Santo, foi ensinada e acreditada pela Igreja desde os seus primórdios.

A tese proposta por Francisco lembra as ideias modernistas, que ecoam a visão de historiadores liberais do dogma, como o luterano Adolf Harnack. Harnack defendia que, antes do Concílio de Niceia, a Igreja não possuía uma doutrina definida sobre a Trindade. No entanto, essa visão é amplamente contestada por estudiosos católicos, como expresso por Dalmau em sua obra "Sobre o Deus Verdadeiro e Triúno" (n. 327, p. 139, 280, em inglês).

Por fim, sugerir que a Igreja só adquiriu certeza sobre a natureza do Espírito Santo a partir de "experiências" históricas e não com base no Depósito da Fé implica que a Igreja precisou de um período de "experimentação" para descobrir a verdade sobre o próprio Deus que a fundou. Isso contradiz a tradição de que a doutrina da Trindade, incluindo a divindade do Espírito Santo, foi sempre parte integrante do ensinamento apostólico desde o início do cristianismo.

O Depósito da Fé (Depositum Fidei) 

Refere-se ao conjunto das verdades reveladas por Deus, confiadas à Igreja para serem preservadas e transmitidas de geração em geração. Esse depósito inclui as Sagradas Escrituras e a Tradição Apostólica. A Igreja Católica considera que esse depósito foi plenamente entregue aos Apóstolos por Jesus Cristo e que não pode ser alterado ou adicionado.

Um marco importante na história da definição explícita daquilo que está contido no Depósito da Fé foi o Concílio de Trento (1545-1563). Esse concílio afirmou formalmente que a Revelação Divina se dá através da Sagrada Escritura e da Tradição, ambas interpretadas pelo Magistério da Igreja. Entretanto, a Igreja considera que o Depósito da Fé foi dado na sua totalidade desde a era apostólica, ou seja, no século I d.C.

A formulação dogmática da Trindade, por exemplo, que inclui a divindade do Espírito Santo, foi definida no Concílio de Niceia (325) e posteriormente no Concílio de Constantinopla (381), mas a Igreja ensina que essa verdade sempre fez parte do Depósito da Fé, mesmo antes de ser formalmente definida nesses concílios. Assim, o século I, com a era apostólica, é o ano de referência para a entrega do Depósito da Fé à Igreja.

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