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terça-feira, 1 de outubro de 2024

Humanismo - Discurso encerramento Concílio Vaticano II - Papa Paulo VI

O discurso de encerramento do Concílio Vaticano II foi proferido pelo Papa Paulo VI em 7 de dezembro de 1965. Vejamos:

"O humanismo laico e profano apareceu, finalmente, em toda a sua terrível estatura, e por assim dizer desafiou o Concílio para a luta. A religião, que é o culto de Deus que quis ser homem, e a religião — porque o é — que é o culto do homem que quer ser Deus, encontraram-se. Que aconteceu? Combate, luta, anátema? Tudo isto poderia ter-se dado, mas de facto não se deu. Aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma segundo os quais se orientou o nosso Concílio. Com efeito, um imenso amor para com os homens penetrou totalmente o Concílio. A descoberta e a consideração renovada das necessidades humanas — que são tanto mais molestas quanto mais se levanta o filho desta terra — absorveram toda a atenção deste Concílio. Vós, humanistas do nosso tempo, que negais as verdades transcendentes, dai ao Concílio ao menos este louvor e reconhecei este nosso humanismo novo: também nós — e nós mais do que ninguém somos cultores do homem."

A citação de Paulo VI revela uma tentativa de conciliar o cristianismo tradicional com o humanismo moderno, o que gerou críticas significativas:

Confronto entre visões de mundo: Paulo VI reconhece explicitamente o confronto entre a religião tradicional e o "humanismo laico e profano". Ele apresenta este confronto como um desafio ao Concílio, sugerindo uma tensão fundamental entre estas visões de mundo.

Abordagem conciliatória: Em vez de optar por "combate, luta, anátema", o Papa escolhe uma abordagem conciliatória, usando a parábola do bom samaritano como modelo. Esta escolha foi vista por alguns críticos como uma capitulação ou enfraquecimento da posição tradicional da Igreja.

Foco nas "necessidades humanas": O Papa enfatiza que o Concílio se concentrou intensamente nas necessidades humanas. Críticos argumentaram que isso desviou o foco da transcendência e das verdades espirituais para preocupações mais mundanas e seculares.

Apropriação do humanismo: Paulo VI chega a declarar "nós mais do que ninguém somos cultores do homem", numa tentativa de reivindicar o humanismo para a Igreja. Esta afirmação foi vista por alguns como uma diluição perigosa da identidade cristã tradicional.

Ambiguidade teológica: A linguagem usada pelo Papa, embora poética, pode ser vista como ambígua em termos teológicos. Ele não delineia claramente como a Igreja pode ser "cultora do homem" sem comprometer sua missão espiritual primária.

Minimização do conflito: Ao evitar o confronto direto com o humanismo secular, alguns críticos argumentaram que Paulo VI subestimou a incompatibilidade fundamental entre certas formas de humanismo e o cristianismo tradicional.

Risco de sincretismo: A abordagem conciliatória de Paulo VI foi interpretada por alguns como correndo o risco de um sincretismo inaceitável, misturando elementos do cristianismo com filosofias seculares potencialmente incompatíveis.

Mudança de ênfase: A citação sugere uma mudança de ênfase da adoração de Deus para o serviço ao homem, o que alguns viram como um desvio perigoso da missão primária da Igreja.

Linguagem poética vs. precisão doutrinária: O uso de linguagem poética e alusiva por Paulo VI, embora eloquente, foi criticado por não fornecer diretrizes doutrinárias claras em um momento de significativa mudança na Igreja.

Tensão não resolvida: Embora Paulo VI reconheça a tensão entre o cristianismo tradicional e o humanismo moderno, alguns críticos argumentaram que ele não resolve adequadamente esta tensão, deixando questões importantes sem resposta.

Discurso completo: 
https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/speeches/1965/documents/hf_p-vi_spe_19651207_epilogo-concilio.html