PRÓPRIO DO DIA
Introito (Sl 24, 15-16 | ib., 1-2) (Áudio)
Oculi mei semper ad Dóminum, quia ipse evéllet de láqueo pedes meos... Meus olhos estão sempre no Senhor, pois Ele tirará os meus pés do laço. Olhai para mim, e compadeceis-Vos de mim, porque estou só e pobre. Sl. A Vós, Senhor, elevo a minha alma. Meu Deus, em Vós confio; não serei confundido.
Epístola (Ef 5, 1-9)
São Paulo Apóstolo aos Efésios. Irmãos: Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados; e andai no amor, como Cristo nos amou, e se entregou por nós a Deus como oferenda e sacrifício de suave odor. A imoralidade, porém, e toda impureza ou avareza, nem sequer entre vós se nomeie, como a Santos convém; nem palavras torpes, nem loucas, nem leviandades que não têm cabimento; rendei antes, ações de graças. Porque, ficai sabendo e entendendo bem, que nenhum homem impuro, imoral ou avaro, o que é sujeição a ídolos, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos seduza com palavras inúteis; porque, por estas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos rebeldes. Não sejais portanto, seus companheiros. Outrora [no paganismo] éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Andai como filhos da luz. O fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade.
Evangelho (Lc 11, 14-28)
Naquele tempo, expulsou Jesus a um demônio, e este era mudo. E tendo lançado fora o demônio, o mudo falou e as multidões admiraram-se. Alguns deles, porém, disseram: É por Belzebu, príncipe dos demônios, que Ele expulsa os demônios. E outros para tentá- Lo, pediam um sinal do céu. Conhecendo, porém, os seus pensamentos, Jesus disse-lhes : Todo reino dividido em si mesmo será destruído e uma casa cairá sobre outra. Se, pois, Satanás está em desacordo em si mesmo, como subsistirá o seu reino? Dizeis que é por Belzebu que expulso os demônios. Ora, se é por Belzebu que expulso os demônios, vossos filhos por quem os expulsam? Por isso eles próprios serão os vossos juízes. Se, entretanto, é pelo dedo de Deus que expulso os demônios, é evidente que chegou para vós o Reino de Deus. Quando um poderoso, guarda, armado, a entrada de sua casa, em paz está tudo o que possuí. Se sobrevier, porém, outro mais forte do que ele e o vencer, tirar-lhe-á todas as suas armas, em que confiava, e repartirá os seus despojos. Quem não está comigo é contra mim; e quem não recolhe comigo, dispersa. Quando o espírito imundo sai de um homem, anda por lugares secos, buscando repouso. E não o encontrando, diz: Voltarei para minha casa de onde saí. E quando chega e a encontra varrida e ornada, vai e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, aí fazem habitação. E o último estado desse homem torna-se pior do que o primeiro. Quando Ele assim falava, uma mulher, levantando a voz, do meio do povo, disse-Lhe: Bem-aventurado o ventre que Te trouxe e os peitos que sugaste. Ele porém respondeu: Bem-aventurados, antes, aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põe em prática.
Homilias
Santo Agostinho (Sermão 71, sobre Lucas 11) - A libertação do mudo pelo poder divino é um sinal da vitória sobre o reino das trevas, mas a acusação de que tal poder vem do chefe dos demônios revela a cegueira do coração humano que rejeita a luz por amor às sombras. O reino dividido não pode subsistir porque a unidade é própria da verdade, enquanto a divisão é fruto da falsidade; assim, o maligno não age contra si mesmo, mas é o dedo de Deus que rompe as cadeias do silêncio e da opressão. O homem forte armado representa o diabo que mantém a alma cativa, mas Cristo, o mais forte, desarma-o, tomando os despojos que são as almas redimidas para a glória do Pai. O espírito imundo que retorna com piores companheiros mostra que a alma, uma vez liberta, deve ser preenchida pela graça divina, pois o vazio a torna vulnerável à ruína eterna. A bem-aventurança não está apenas na carne que gerou o Salvador, mas na obediência à Palavra, que é a verdadeira maternidade espiritual, unindo todos os fiéis ao Verbo encarnado. A multidão que busca sinais é repreendida, pois a fé verdadeira não depende de prodígios, mas da adesão interior à vontade divina que se manifesta na humildade do Filho de Deus.
São Tomás de Aquino (Suma Teológica, III, q. 41, a. 2; e Comentário a Lucas) - A expulsão do demônio mudo é um ato pelo qual Cristo manifesta a potência divina contra o poder do mal, mostrando que o Reino de Deus não apenas chegou, mas triunfa sobre as forças adversas pela virtude do Espírito Santo, simbolizado pelo "dedo de Deus". O argumento dos acusadores é refutado pela razão: um reino em guerra consigo mesmo perece, e assim o diabo não pode ser a causa da própria destruição; antes, é a autoridade divina que submete todas as coisas à ordem da salvação. O homem forte é o príncipe deste mundo, cuja força reside na escravidão do pecado, mas o mais forte, Cristo, o vence pela cruz, distribuindo os despojos que são os méritos da redenção aos eleitos. O retorno do espírito imundo ensina que a alma, purificada pelo batismo ou pela penitência, deve ser guardada pela prática das virtudes, pois a negligência a expõe a um estado pior que o inicial, sendo a perseverança na graça essencial à beatitude. A bem-aventurança proclamada aos que ouvem e guardam a Palavra exalta a fé ativa, que é a união da vontade humana à vontade divina, superando até mesmo os laços naturais, pois a obediência ao Verbo é o caminho à vida eterna.