A nota também faz referência à participação de sacerdotes da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) em eventos promovidos por leigos do CDB. O comunicado reafirma que tanto a FSSPX quanto o CDB não possuem reconhecimento canônico e, portanto, não devem ser considerados como expressão legítima da fé católica na Arquidiocese. Em tom pastoral, mas com linguagem jurídica, o texto recomenda que os fiéis evitem qualquer participação em atividades desses grupos, apresentando-os como ameaças à “comunhão eclesial”.
O primeiro erro fundamental do comunicado é assumir que os fiéis devem preservar a comunhão com bispos e estruturas eclesiásticas que já se separaram objetivamente da doutrina católica tradicional. O que se apresenta como “comunhão” nada mais é que conformidade com o novo rito, com o novo magistério e com o novo espírito de uma igreja que já não é católica. Como dizia Padre Cekada, “se a Missa nova é má, o clero que a impõe está em erro, e toda a estrutura pós-conciliar está contaminada. A fidelidade, então, requer separação.” Assim, ao exigir “obediência” ao clero conciliar, o bispo revela mais fidelidade ao Vaticano II do que a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ao declarar que a FSSPX está em cisma por ter ordenado bispos sem mandato pontifício em 1988, o bispo ignora — convenientemente — que esse mesmo argumento foi debatido e desmentido por teólogos como o próprio Cardeal Castrillón Hoyos e pelo então Papa Bento XVI, que afirmou que os bispos da FSSPX não estavam excomungados latae sententiae. Mas para além disso, a crítica sedevacantista vê o erro ainda mais profundo: se a Sé está vacante, não há sequer quem conceda ou negue mandato pontifício. O bispo invoca uma autoridade cuja própria legitimidade é objeto de suspeita.
O repúdio episcopal ao livro Os Erros do Catecismo Moderno mostra até que ponto os bispos conciliares temem a crítica. O Catecismo de João Paulo II, recheado de ambiguidades sobre liberdade religiosa, ecumenismo e colegialidade, é tratado como sagrado — mesmo contradizendo o magistério infalível de séculos anteriores. Não é o Centro Dom Bosco que semeia confusão, mas o novo catecismo, herdeiro direto do Concílio Vaticano II, que propaga uma nova fé.
O Centro Dom Bosco é uma associação civil e leiga. Em um momento em que a Igreja encoraja o protagonismo do laicato — desde que em sintonia com a ideologia conciliar — é revelador que um grupo que defende a Tradição seja visto como ameaça. Para o sedevacantismo, isso é mais uma evidência de que não estamos diante de pastores preocupados com a salvação das almas, mas de gerentes de uma nova religião. Como diria Cekada, a nova missa gera nova teologia, que gera nova moral, que exige nova obediência.
Ao chamar de “desvio eclesial” a colaboração com a FSSPX ou a crítica ao Vaticano II, a nota episcopal deixa implícito que a fé católica deve ser subordinada ao juízo das autoridades conciliares. Mas o verdadeiro desvio eclesial não está em quem denuncia os erros do Vaticano II, e sim em quem os impõe como norma. Quando a hierarquia exige que se aceite um magistério dúbio, uma liturgia protestantizada e uma disciplina moral frouxa, ela mesma se torna objeto de legítima resistência.
A nota da Arquidiocese de Brasília não é senão mais um documento de autodefesa de uma hierarquia que já não detém verdadeira autoridade apostólica. Como sempre destacou Padre Cekada, não se trata de mera preferência litúrgica ou de debates disciplinares. O problema é doutrinário, estrutural, essencial. A “Igreja conciliar” não é a Igreja Católica, e, portanto, suas condenações não têm peso. Que os fiéis permaneçam fiéis à Tradição, mesmo que isso implique rejeitar os falsos pastores — pois onde está a verdadeira Missa, a verdadeira doutrina e a verdadeira sucessão apostólica, ali está a Igreja de Cristo. E onde não estão... não há nada a obedecer.
Referências
ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA. Esclarecimento ao povo de Deus acerca de recentes declarações públicas da associação civil Centro Dom Bosco de Fé e Cultura. Brasília, 15 jun. 2025. Disponível em: https://arqbrasilia.com.br/esclarecimento-ao-povo-de-deus-acerca-de-recentes-declaracoes-publicas-da-associacao-civil-centro-dom-bosco-de-fe-e-cultura/. Acesso em: 17 jun. 2025.
CEKADA, Anthony. Work of human hands: a theological critique of the Mass of Paul VI. West Chester, OH: Philothea Press, 2010.