Em 1998, o padre italiano Luigi Villa (1918-2012), doutor em Teologia Dogmática e fundador da revista Chiesa Viva, publicou aquela que se tornaria sua obra mais famosa e explosiva: "Paolo VI… beato?" (editado em inglês como "Paul VI… Beatified?"). Enviado a todos os bispos da Itália e traduzido para mais de dez idiomas, o volume foi apresentado como um verdadeiro "processo de advogado do diabo" contra a causa de beatificação de Giovanni Battista Montini, o Papa Paulo VI. Villa afirmava ter recebido, ainda em 1963, uma missão direta de São Pio de Pietrelcina – posteriormente confirmada pelo Papa Pio XII – para dedicar a vida ao combate da infiltração maçônica na Igreja Católica. O livro é o resultado de quase quarenta anos de pesquisa e de acesso a fontes internas e confidenciais do Vaticano.
👁️ Iniciação Maçônica e Suspeitas na Carreira
Segundo as investigações de Villa, Montini teria sido iniciado na maçonaria em 14 de agosto de 1942, em uma loja do Rito Escocês de Milão, recebendo o codinome "IAORU 72". A principal fonte citada é a lista publicada em 1978 pelo jornalista Mino Pecorelli, que colocava Montini no topo de 125 prelados supostamente maçons. Villa amplia essa lista para 225 nomes, reproduzindo fotografias e testemunhos de ex-maçons para corroborar a acusação. Além disso, o autor aponta uma carreira marcada por suspeitas, desde uma juventude em Brescia sob influência modernista até a sua "expulsão" da Secretaria de Estado por Pio XII em 1954. Villa publica cartas inéditas que sugerem críticas do papa à "rebeldia" de Montini, além de mencionar contatos controversos com comunistas na Polônia e a suposta entrega de listas de sacerdotes clandestinos à URSS.
🏛️ O Concílio como Ruptura e a Nova Missa
Villa sustenta a tese de que o Concílio Vaticano II foi planejado e executado para criar uma "nova Igreja" ecumênica e modernista, citando o discurso de Paulo VI sobre a "autodemolição da Igreja" como uma confissão involuntária do desastre. A Nova Missa (Novus Ordo Missae de 1969) é considerada na obra como a maior traição do pontificado. O autor critica a remoção do caráter sacrificial explícito, a influência direta do arcebispo Annibale Bugnini — acusado de ser maçom com o codinome "Buan" — e a introdução de elementos protestantes em detrimento das orações tradicionais.
📉 Escândalos Morais e Simbologia Oculta
A obra não se limita à teologia e reproduz testemunhos de diplomatas do Vaticano, como Franco Bellegrandi, e reportagens da imprensa secular sobre a vida privada de Montini. São mencionados supostos relacionamentos impróprios, visitas noturnas registradas pela polícia e até chantagens da loja P2 de Licio Gelli envolvendo fotografias comprometedoras. No campo simbólico, Villa destaca o uso público de elementos maçônicos, como o báculo "quebrado" usado por Paulo VI, o uso do Efod litúrgico semelhante ao do sumo sacerdote judeu e a construção de monumentos com simbologia esotérica, como o "olho que tudo vê", associados ao pontífice.
⚖️ Conclusão Teológica e Legado Histórico
Do ponto de vista teológico, Villa invoca São Roberto Belarmino para afirmar que um papa que promove heresia pública ou permite a destruição da Fé perde automaticamente o ofício. Para ele, Paulo VI teria agido objetivamente como um "papa herege", o que impediria sua elevação aos altares. O impacto do livro foi significativo, conseguindo atrasar por quase duas décadas o processo de beatificação. Embora nenhum cardeal tenha respondido publicamente às acusações na época, a obra permanece como a referência mais citada por tradicionalistas e críticos do Concílio, sendo um documento histórico de um dos períodos mais convulsos da Igreja, lido e debatido décadas após sua publicação.