Ao analisar o texto da Exortação, identificam-se múltiplos pontos de contradição com a fé católica, que podem ser agrupados em três erros fundamentais: o primado da pastoral sobre a doutrina, a promoção do subjetivismo moral através de um falso conceito de "discernimento" e a negação prática da existência do pecado mortal objetivo.
A Falsa Dicotomia entre Doutrina e Pastoral
O documento estabelece, desde o seu início, um princípio que é a base de todo o sistema modernista: a ideia de que nem todas as questões devem ser resolvidas pelo Magistério e que diferentes interpretações da doutrina são possíveis. Afirma-se que "nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais" e que "em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas" (Francisco, 2016, n. 3).
A Falsa Dicotomia entre Doutrina e Pastoral
O documento estabelece, desde o seu início, um princípio que é a base de todo o sistema modernista: a ideia de que nem todas as questões devem ser resolvidas pelo Magistério e que diferentes interpretações da doutrina são possíveis. Afirma-se que "nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais" e que "em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas" (Francisco, 2016, n. 3).
Esta premissa é um ataque direto à unidade da Fé e da moral, que é garantida pela autoridade da Igreja. A doutrina católica não é um conjunto de teorias abertas a debates e "interpretações" culturais; é o depósito da fé, divinamente revelado, que deve ser guardado e ensinado de modo uniforme a todos os povos. A pastoral católica autêntica consiste em aplicar a doutrina imutável de Cristo às almas, e não em "inculturar" a verdade para adaptá-la aos "desafios locais". Este princípio de relativismo doutrinal é o mesmo que permitiu a desfiguração da liturgia, onde a lei da oração (lex orandi) foi alterada para, consequentemente, alterar a lei da fé (lex credendi) (Cekada, 2010, p. 21). Aqui, a lei da moral (lex moralia) é subvertida por uma "práxis pastoral" que se divorcia da verdade.
O Subjetivismo da "Consciência" e do "Discernimento"
O erro mais grave da Exortação é a sua insistência num "discernimento pastoral" que privilegia a consciência subjetiva em detrimento da lei moral objetiva. O texto critica uma pastoral que se limita a aplicar "normas gerais como se fossem pedras" (Francisco, 2016, n. 305, 49) e louva os fiéis que "são capazes de realizar o seu próprio discernimento perante situações onde se rompem todos os esquemas" (Francisco, 2016, n. 37).
Isto é a essência da teologia modernista e da ética de situação. A Igreja não é chamada a "formar as consciências" para depois "não pretender substituí-las" (Francisco, 2016, n. 37), mas sim a informar e obrigar as consciências com a lei de Deus. A consciência não é uma fonte autônoma de moralidade; ela deve conformar-se à lei divina e natural, da qual a Igreja é a guardiã infalível.
A Exortação afirma que, devido a "condicionamentos e circunstâncias atenuantes", é possível que uma pessoa "possa viver em graça de Deus, possa amar e possa também crescer na vida de graça e de caridade, recebendo para isso a ajuda da Igreja" mesmo encontrando-se "numa situação objetiva de pecado" (Francisco, 2016, n. 301, 305). Esta afirmação é uma contradição em termos e uma negação da doutrina católica sobre o pecado mortal, que, por sua natureza, priva a alma da graça santificante. O Concílio de Trento ensinou infalivelmente que o mandamento "não cometerás adultério" obriga a todos, sempre e em todas as circunstâncias, sem exceção. A proposta de que um "discernimento" pessoal possa levar à conclusão de que uma vida em adultério objetivo é "a resposta generosa que se pode oferecer a Deus" (Francisco, 2016, n. 303) é um claro ato contra a fé.
A Abolição do Pecado Mortal e a Profanação dos Sacramentos
A consequência lógica deste sistema é a profanação dos sacramentos. Ao afirmar que divorciados em nova união "devem ser mais integrados na comunidade cristã" e que é preciso "discernir quais das diferentes formas de exclusão atualmente praticadas em âmbito litúrgico, pastoral, educativo e institucional possam ser superadas" (Francisco, 2016, n. 299), o documento abre a porta à recepção sacrílega da Eucaristia.
A disciplina perene da Igreja, fundada na Sagrada Escritura (cf. 1Cor 11, 27-29), proíbe a administração da Santa Comunhão àqueles que vivem publicamente em estado de pecado mortal. A Exortação, através de uma linguagem ambígua e de notas de rodapé cuidadosamente elaboradas (cf. n. 351), contorna esta lei divina e eclesiástica. A ideia de que um juízo subjetivo sobre a "não culpabilidade" possa anular a realidade objetiva de um estado de vida adúltero é falsa e perigosa.
A "misericórdia" aqui proposta não é a misericórdia de Cristo, que perdoava a adúltera dizendo "vai e não peques mais" (Jo 8, 11), mas uma falsa compaixão que confirma o pecador em seu pecado. A "lógica da integração pastoral" (Francisco, 2016, n. 299, 312) é, na verdade, a lógica da aceitação do pecado, o que contradiz a missão da Igreja de chamar todos à conversão. É a mesma lógica que, na liturgia, buscou eliminar qualquer noção de "teologia negativa", como o pecado, a ira divina e o juízo, para não ofender a "mentalidade do homem moderno" (Cekada, 2010, p. 283).
A Exortação Apostólica Amoris Laetitia não representa um desenvolvimento da doutrina católica, mas sim uma ruptura fundamental. Sob o pretexto de uma "misericórdia pastoral", ela introduz uma moralidade subjetivista que anula a lei objetiva de Deus, dissolve a noção de pecado mortal e abre caminho para a profanação dos sacramentos. Assim como a Missa de Paulo VI representou a destruição da doutrina católica sobre o Sacrifício e a Presença Real, esta Exortação representa um ataque igualmente devastador à doutrina sobre o matrimónio, a moralidade e a vida da graça. É um documento que, longe de trazer a "alegria do amor", semeia a confusão, legitima o pecado e ataca os próprios fundamentos da fé católica.
Referências
Cekada, Anthony. Obra de Mãos Humanas: uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. Atibaia: Philothea Press, 2010.Francisco. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2016.