A análise do prelado americano, por mais contundente que pareça, não surpreende a quem se debruçou sobre a história da guerra movida há séculos contra a Igreja. Com efeito, o que o bispo descreve como uma “revolução calculada” e um “cerco de dentro” encontra um eco preciso nos documentos e nas táticas da conjuração anticristã, cuja maquinaria foi exposta em detalhe há mais de um século. A crise atual não representa um fenômeno novo, mas a maturação de um plano antigo, a aplicação metódica de uma agenda cuja finalidade última é a substituição da civilização cristã por uma civilização puramente humanitária.
É preciso notar que o método descrito pelo Bispo Strickland – a infiltração nas fileiras da própria Igreja por “lobos” que usam as vestimentas do clero para subverter a doutrina – corresponde exatamente ao plano delineado pela Alta Maçonaria. A Instrução Secreta Permanente dada aos membros da Grande Loja não deixa margem a dúvidas sobre a estratégia: o objetivo não era atacar a Igreja de fora, mas conquistá-la por dentro, fazendo com que o clero, e eventualmente um pontífice, servissem aos seus desígnios. Buscava-se, como ali está escrito, “um papa segundo as nossas necessidades” (DELASSUS, Tomo I, p. 153). O plano consistia em fazer com que o Clero marchasse “sob o vosso estandarte, crendo sempre marchar sob a bandeira das Chaves Apostólicas” (DELASSUS, Tomo I, p. 160). Quando o Bispo Strickland adverte sobre “traidores que usam mitras”, ele apenas constata a fase avançada de um projeto secular de cooptação interna. O Papa São Pio X, na encíclica Pascendi Dominici Gregis, já advertia que os promotores do erro não deveriam ser procurados entre os inimigos declarados, mas “no próprio seio e no coração da Igreja”, sendo inimigos “tanto mais temíveis quanto menos declaradamente o são” (DELASSUS, Tomo II, p. 73).
Ademais, a linguagem empregada pelo processo sinodal, com seu verniz de piedade e seus apelos ao “diálogo”, à “escuta” e ao “caminhar juntos”, recorda de modo impressionante a tática da perversão da linguagem, identificada como a principal arma das sociedades secretas. Palavras como “liberdade”, “igualdade”, “progresso” e “democracia” foram historicamente esvaziadas do seu sentido cristão e preenchidas com um conteúdo revolucionário, a fim de, insensivelmente, conduzir a opinião pública ao desejo das mudanças planejadas pela seita (DELASSUS, Tomo II, p. 45). O próprio Mazzini recomendava o uso de “palavras regeneradoras” que, sem necessidade de longas discussões, seriam suficientes para inflamar os espíritos (DELASSUS, Tomo II, p. 85). Hoje, a palavra “sinodalidade” parece cumprir essa mesma função: um termo aparentemente eclesial, mas que, na prática, é empregado para justificar a dissolução da autoridade hierárquica e a submissão da doutrina divina ao escrutínio da opinião humana, mascarada sob a expressão “escuta do Povo de Deus”. Quando o Bispo Strickland afirma que a Igreja não é uma democracia, mas uma monarquia com Cristo como Rei, ele toca no nervo central da engenharia social anticristã, que sempre visou a destruição de toda autoridade e hierarquia para estabelecer, em seu lugar, o governo da vontade popular, que é, em última instância, a vontade do Poder Oculto que a manipula.
A “nova maneira de ser Igreja” que o Sínodo propõe nada mais é do que a construção do “Templo” maçônico, um edifício social e religioso fundado não mais sobre a Revelação e a ordem sobrenatural, mas sobre o naturalismo e o humanitarismo. A agenda descrita pelo Bispo Strickland – aceitação de uniões homossexuais, bênçãos para situações de pecado objetivo, ordenação de mulheres – representa, na prática, a demolição dos fundamentos da moral cristã para a edificação de uma “religião humanitária”, uma “religião natural” onde a lei de Deus é substituída pela lei do homem. O objetivo último, como revelam os documentos, é o “aniquilamento para sempre do Catolicismo e mesmo da idéia cristã” (DELASSUS, Tomo I, p. 153).
A supressão da Missa Tradicional em Latim, lamentada pelo prelado, insere-se perfeitamente nesta lógica. Não se trata de uma mera questão disciplinar, mas de um ataque ao coração da Tradição, ao rito que, por séculos, expressou de forma mais pura e inequívoca a teologia do Sacrifício e a adoração devida a Deus. Destruir ou marginalizar este rito é um passo calculado para cortar as gerações presentes de suas raízes, enfraquecer o sentido do sagrado e preparar o terreno para a “nova liturgia” da religião humanitária.
Em conclusão, os alertas do Bispo Strickland, analisados à luz da conspiração documentada, não parecem ser o produto de uma visão pessimista, mas a constatação lúcida de uma estratégia em curso. O “cerco sinodal” não é um evento isolado, mas o mais recente e talvez o mais sofisticado assalto da perene conjuração anticristã, que, não podendo destruir a Igreja pela força externa, busca, há séculos, corrompê-la por dentro, usando suas próprias estruturas e pervertendo sua própria linguagem para construir sobre suas ruínas o Templo da soberania humana. As armas espirituais propostas pelo bispo – Rosário, Eucaristia, jejum e a proclamação da verdade – são, com efeito, os únicos antídotos contra um veneno que visa não o corpo, mas a própria alma da Cristandade.
Referências
DELASSUS, Henri. A Conjuração Anticristã: O Templo Maçônico que quer se erguer sobre as ruínas da Igreja Católica. Tomo I.
DELASSUS, Henri. A Conjuração Anticristã: O Templo Maçônico que quer se erguer sobre as ruínas da Igreja Católica. Tomo II.
STRICKLAND, Joseph E. Bishop Strickland: When wolves wear vestments – the synodal siege within the Church. LifeSiteNews, 10 jul. 2025.