"The Oil Has Not Run Dry: The Story of My Theological Pathway" (2016) é a controversa autobiografia de Gregory Baum, publicada pela McGill-Queen's University Press apenas um ano antes de sua morte. Nesta obra reveladora, Baum apresenta uma narrativa franca e, por vezes, perturbadora de sua jornada teológica e pessoal.
No livro, Baum faz confissões significativas que causaram grande impacto na comunidade católica. Ele revela que, enquanto ainda era padre católico e professor de teologia, secretamente discordava e se opunha a vários ensinamentos fundamentais da Igreja. Confessa: "Enquanto ainda era padre católico romano, eu já havia examinado e rejeitado a autoridade da Igreja para definir a verdade em questões de sexualidade humana."
Particularmente controversa é sua admissão de que, mesmo antes de deixar o sacerdócio em 1976, já mantinha relacionamentos que violavam seu voto de celibato: "Eu estava convencido de que, apesar de meus votos sacerdotais, tinha o direito de viver minha vida como eu achava apropriado." Esta revelação é especialmente problemática considerando sua posição como influente teólogo e consultor durante o Concílio Vaticano II.
Em suas memórias, Baum detalha como gradualmente se afastou das posições ortodoxas da Igreja: "Minha perspectiva teológica mudou dramaticamente... Comecei a ver a tradição da Igreja não como um conjunto de verdades imutáveis, mas como um diálogo contínuo que precisa ser constantemente reinterpretado."
O livro também aborda seu papel no desenvolvimento da teoria da "hierarquia das verdades", revelando como ele trabalhou para promover uma interpretação progressista do Concílio Vaticano II: "Víamos a necessidade de reinterpretar a tradição católica de uma maneira que permitisse maior flexibilidade no diálogo ecumênico... mesmo que isso significasse minimizar temporariamente certas verdades da fé."
Baum descreve sua transição do judaísmo para o catolicismo, sua ordenação como padre agostiniano e seu eventual abandono do sacerdócio. Ele relata: "Minha jornada espiritual me levou a questionar não apenas práticas específicas da Igreja, mas também a própria natureza da autoridade religiosa."
Um aspecto particularmente polêmico do livro é sua discussão sobre como ele e outros teólogos progressistas trabalharam nos bastidores durante o Concílio Vaticano II: "Desenvolvemos estratégias para introduzir mudanças graduais na compreensão da doutrina católica... Sabíamos que uma abordagem frontal encontraria resistência, então optamos por uma mudança mais sutil e gradual."
Suas memórias também revelam como ele influenciou gerações de estudantes em direção a uma interpretação mais liberal do catolicismo: "Como professor, senti que tinha a responsabilidade de apresentar aos alunos uma visão mais ampla e menos dogmática da fé católica, mesmo que isso às vezes divergisse do ensinamento oficial da Igreja."
O livro gerou significativa controvérsia na comunidade católica, com muitos questionando não apenas suas ações passadas, mas também a ética de ter mantido essas visões em segredo enquanto ocupava posições de influência na Igreja. Como ele próprio admite: "Agora percebo que minha decisão de permanecer silencioso sobre minhas verdadeiras convicções enquanto exercia influência pode ser questionada eticamente."
"The Oil Has Not Run Dry" serve como um documento histórico que ilumina os bastidores das mudanças teológicas no catolicismo pós-Vaticano II, mas também levanta sérias questões sobre integridade intelectual e responsabilidade moral na vida acadêmica e religiosa. Como Baum conclui: "Minha história é um testemunho das complexas tensões entre consciência pessoal e autoridade institucional na vida religiosa moderna."
Biografia
Gregory Baum faleceu em 18 de outubro de 2017, aos 94 anos, em Montreal, Canadá. Ele viveu de 1923 a 2017.
Ele teve uma história pessoal interessante: nasceu em Berlim em uma família de origem judaica, fugiu do nazismo para a Inglaterra em 1939, foi internado no Canadá como estrangeiro durante a Segunda Guerra Mundial. Converteu-se ao catolicismo em 1946 e se tornou padre agostiniano.
Baum foi um controverso teólogo progressista que atuou como perito (consultor teológico) durante o Concílio Vaticano II, especialmente na elaboração da declaração Nostra Aetate sobre as relações da Igreja com religiões não-cristãs.
Posteriormente, ele deixou o sacerdócio em 1976 e se casou. Continuou sua carreira acadêmica como professor de teologia e sociologia na Universidade McGill em Montreal. Suas posições teológicas frequentemente entraram em conflito com o magistério da Igreja, especialmente em questões de moral sexual e autoridade eclesiástica.