O Messias judeu Sabbatai Zevi e a Redenção pelo Pecado


📜 Quem foi Sabbatai Zevi?
Sabbatai Zevi (ou Tzvi), nascido em 1626 em Esmirna (atual Izmir, na Turquia) e falecido em 1676, foi uma figura central no judaísmo do século XVII, conhecido por se autoproclamar o Messias judeu. Ele era um rabino e cabalista que atraiu um vasto seguimento em comunidades judaicas da Europa e do Oriente Médio, num período marcado por perseguições e intensas expectativas messiânicas, influenciadas pela Cabala Luriânica (de Isaac Luria). Seus ensinamentos e ações deram origem ao movimento sabateano, que persistiu mesmo após sua conversão forçada ao Islã.

😈 A Doutrina da Redenção pelo Pecado
O cerne da doutrina sabateana vem da sua interpretação sobre a redenção. De acordo com relatos históricos, Zevi e seu principal "profeta", Nathan de Gaza (1643-1680), propagavam que a vinda do Messias dependia de um estado coletivo de pureza ou impureza extrema no mundo. Inspirados na Cabala, eles argumentavam que o Messias surgiria quando a humanidade atingisse ou o ápice da bondade (todos bons) ou o ápice da maldade (todos maus). Como alcançar a bondade universal era visto como impossível, a alternativa seria acelerar o processo pela via oposta: a imersão deliberada no pecado para "completar" a cota de maldade necessária para a redenção divina.

🔮 Raízes Cabalísticas e Atos Antinomianos
Esse conceito ficou conhecido como "redenção pelo pecado" (em hebraico, mitzvah ha-ba'ah ba-averah, "mandamento que vem através da transgressão"). Não foi uma invenção de Zevi, mas uma radicalização de ideias cabalísticas sobre a "quebra das cascas" (klipot) – forças do mal que precisam ser penetradas para liberar as centelhas divinas presas nelas. Na prática, isso envolvia atos antinomianos: violar deliberadamente as leis judaicas (halakha), como quebrar o Shabat, comer alimentos não kosher ou até cometer adultério em orgias rituais, tudo justificado como um meio sagrado para apressar a era messiânica. Nathan de Gaza, o principal teórico, argumentava que Zevi, como Messias, tinha que descer ao abismo do mal para resgatar as almas perdidas.

🕌 A Conversão e a Crise do Movimento
O auge do movimento ocorreu em 1665-1666, quando Zevi ganhou milhares de adeptos. No entanto, em 1666, ao ser preso pelo sultão otomano Mehmed IV, ele foi forçado a escolher entre a morte e a conversão ao Islã. Zevi optou pela conversão, adotando o nome Aziz Mehmed Efendi, o que chocou e dividiu seus seguidores. Muitos viram isso como mais um ato de "redenção pelo pecado" – uma apostasia aparente para redimir o mal de dentro. Outros abandonaram o movimento, considerando-o uma fraude.

👥 O Legado: Jacob Frank e o Frankismo
Após a morte de Zevi, o sabateanismo evoluiu para formas subterrâneas. O sucessor mais notório foi Jacob Frank (1726-1791), que fundou o frankismo na Polônia. Frank expandiu a doutrina, misturando elementos cristãos e promovendo rituais ainda mais radicais, incluindo orgias e conversões em massa ao catolicismo como disfarce. Ele alegava ser a reencarnação de Zevi e defendia que a "redenção pelo pecado" incluía a rejeição total da moralidade tradicional para inaugurar uma nova era. O frankismo é frequentemente citado em teorias conspiratórias modernas, mas essas conexões são especulativas e não comprovadas historicamente.

📚 O Sabateanismo Hoje: Análise Histórica
Atualmente, o sabateanismo-frankista é considerado extinto como movimento organizado, mas seus resquícios persistem em estudos cabalísticos e acadêmicos sobre messianismo judaico.