Pedro Arrupe: O General da Subversão Silenciosa da Companhia de Jesus



“Em tempos de crise, o verdadeiro inimigo veste o uniforme da confiança.”
— Malachi Martin

Quando a fumaça do Vaticano II ainda pairava sobre os telhados da cristandade, um novo nome começou a soar com autoridade entre os corredores de Roma: Pedro Arrupe, o homem que se tornaria, para muitos, o “Inácio de Loyola do século XX”. Mas para Malachi Martin — e para uma geração de católicos que ainda respirava a fé dos mártires e dos missionários — Arrupe não foi um restaurador, e sim um arquiteto da apostasia branda, camuflada sob linguagem espiritual e gestos humanitários.

Eleito em 1965 como Superior Geral da Companhia de Jesus, Pedro Arrupe assumiu uma missão silenciosa, mas radical: redesenhar a identidade da ordem desde suas bases espirituais até seus compromissos políticos. O ponto culminante dessa operação foi a 32ª Congregação Geral (1974–1975) - não apenas um encontro de atualização, mas um verdadeiro concílio interno que decretou o fim da Companhia como força missionária da Igreja e sua conversão em força revolucionária sob disfarce religioso.

Ali foi proclamado, com aclamações e discursos inflamados, que a missão da ordem seria, a partir de então, “o serviço da fé e a promoção da justiça”. Uma fórmula ambígua, cuidadosamente desenhada, que Arrupe sabia ser teologicamente inatacável por fora, mas revolucionária por dentro. Ele não rejeitava o nome de Jesus — apenas o transformava no símbolo de uma luta histórica e social, retirando-lhe a exclusividade salvadora e o mistério redentor.

Malachi Martin escreve: “Arrupe não precisou mudar os votos. Mudou os significados. Não aboliu o Evangelho. Apenas o fundiu com Marx.”

Sob Arrupe, a Companhia de Jesus tornou-se o principal laboratório da Teologia da Libertação. Seus centros de formação na América Latina foram rapidamente preenchidos por jovens formados mais na luta de classes do que na espiritualidade inaciana. Em vez de exames de consciência, falava-se em análise de conjuntura. Em vez de conversão, exigia-se engajamento.

Arrupe não apenas permitiu isso — ele fomentou, protegeu e institucionalizou. Os que resistiam, ligados ao carisma tradicional da ordem, eram marginalizados ou dispensados discretamente. Os novos protagonistas da Companhia eram revolucionários com batina, como Fernando Cardenal, que chegou a assumir o Ministério da Educação sob o regime sandinista da Nicarágua - uma afronta direta à doutrina papal, mas que nunca foi contestada abertamente por Arrupe.

Martin denuncia: “A lealdade de Arrupe não era ao Papa, mas ao processo. Não à fé recebida, mas ao mundo que mudava.”

Durante anos, a Santa Sé observou com cautela a transformação da Companhia. Paulo VI, embora preocupado, evitou confronto. João Paulo II, porém, não tolerou mais a rebelião elegante. Quando Arrupe sofreu um AVC em 1981, João Paulo II interveio diretamente, suspendendo a eleição do novo Geral e nomeando Paolo Dezza como Delegado Papal, uma medida sem precedentes, equivalente a uma tutela apostólica de emergência.

Foi um sinal claríssimo: o Vaticano reconhecia que a Companhia havia se desviado perigosamente de sua missão original. Mas o dano já estava feito. A teia de alianças políticas, influências universitárias, ocupação de dioceses-chave e formação de gerações inteiras de clérigos sob nova hermenêutica tornou-se um poder paralelo.

Pedro Arrupe não foi apenas um Superior Geral. Foi, na linguagem de Malachi Martin, um “Papa Negro” no sentido pleno: não apenas o chefe da Companhia, mas o comandante simbólico de uma nova igreja nascida dentro da Igreja, com liturgia própria, teologia própria, e uma nova escatologia: a revolução histórica como salvação.

Sua herança não é apenas um passado a ser revisitado. É um presente ainda atuante, onde muitos dos seus discípulos — diretos e indiretos — ocupam hoje posições estratégicas na cúria, nas universidades, nas pastorais sociais e nos conselhos episcopais.

Referências

Martin, Malachi. The Jesuits: The Society of Jesus and the Betrayal of the Roman Catholic Church. Simon & Schuster, 1987.
Companhia de Jesus. Documenta Congregationis Generalis XXXII, 1975.
Declaração 4: “Nossa Missão Hoje: O Serviço da Fé e a Promoção da Justiça”.
Cardenal, Fernando. Entrevistas e discursos sobre sua atuação no governo sandinista.
Intervenção de João Paulo II, 1981: Nomeação de Paolo Dezza.
Observações de Joseph Ratzinger (futuro Bento XVI) sobre os desvios teológicos da Teologia da Libertação.