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Allan Kardec era maçom? No dia em que tiver dado a mão à Franco-Maçonaria, todas as dificuldades estarão vencidas



Há diversos artigos que levantam a possibilidade de Allan Kardec ter sido maçom, embora não existam provas documentais definitivas. Aqui estão algumas considerações desses textos.

É provável que o jovem Hippolyte Léon Denizard Rivail tenha realmente sido iniciado na Franco-Maçonaria. No entanto, ao adotar o pseudônimo de Allan Kardec e assumir a missão de codificar a Doutrina Espírita, ele tenha se contido, mas utilizou-se de expressões e referências maçônicas em obras como O Céu e o Inferno. Do msmo modo, o Livro dos Espíritos contém elementos interpretados como alinhados à simbologia maçônica​. Muitos são os termos utilizados em suas obras, como "arquiteto" para Deus, "pedra angular" e "prumo", todos comuns na simbologia maçônica. 

Na Revista Espírita de abril de 1864, há mensagens psicografadas em reuniões com maçons, incluindo uma atribuída a Jacques de Molay, mártir dos Templários, onde se destacam palavras que sugerem uma conexão entre Espiritismo e Maçonaria. Em uma passagem dessa mensagem, lê-se: "O Espiritismo fez progressos, mas no dia em que tiver dado a mão à Franco-Maçonaria, todas as dificuldades estarão vencidas, todos os obstáculos retirados, a verdade estará esclarecida e o maior progresso moral será realizado." 

Durante o período de Kardec, a Maçonaria tinha grande influência na França, e muitos intelectuais estavam associados a essa ordem. Há alegações de que ele teria sido membro da Grande Loja Escocesa de Paris, embora registros oficiais disso nunca tenham sido encontrados. Até mesmo supostos "paramentos maçônicos" de Rivail teriam sido mencionados em algumas publicações​. Textos destacam as semelhanças entre a filosofia espírita e os princípios éticos e sociais da Maçonaria, como a busca pelo aprimoramento moral e o progresso humano. Contudo, essas semelhanças podem ser interpretadas como reflexos de valores comuns da época​. Divaldo Pereira Franco, renomado médium espírita, em palestra para uma loja maçônica em 2006, destacou as similaridades entre Espiritismo e Maçonaria, reforçando o caráter investigativo e ético de ambas as filosofias, além de citar espíritas maçons como Camille Flammarion e Leon Denis, este último alcançando o grau 33, que cita:

“O Espiritismo (podemos dizer, a maçonaria...) não dogmatiza. Não é nem uma seita, nem uma ortodoxia, mas uma filosofia viva, aberta a todos os espíritos livres, filosofia que evolve, que progride. Não impõe nada; propõe. O que propõe apoia em fatos de experiência e em provas morais. Não exclui qualquer outra crença, antes a todas abraça numa fórmula mais vasta, numa expressão mais elevada e extensa da verdade.”

Dr. José Castellani, um estudioso da Maçonaria, afirmou que alguns biógrafos de Kardec sugeriram que ele era maçom. Ademais, aspectos de sua biografia reforçam a hipótese. Quando Allan Kardec faleceu em 1869, foi inicialmente sepultado no cemitério Montmartre, mas posteriormente seus restos mortais foram transferidos para o cemitério Père Lachaise, em terreno doado pelo maçom Marquês de Montesquiou. O arquiteto do túmulo de Kardec, Brongniart, também era maçom.

Leon Denis, considerado "Apóstolo do Espiritismo" e contemporâneo de Kardec, era maçom eminente e proferiu discursos na Loja Demófilos do Grande Oriente da França. Sua atuação no Espiritismo e na Maçonaria reflete pontos de convergência entre as duas filosofias, como a crença na imortalidade da alma, a solidariedade e a caridade.

Há, ainda, a hipótese de Kardec ter pertencido a ordens vinculadas à Maçonaria, como a Rosacruz, que no período era associada à tradição maçônica. A crença na reencarnação, resgatada e difundida por Kardec no Ocidente, também estava presente em tradições esotéricas mantidas por essas ordens.

Apesar da ausência de provas definitivas, há elementos suficientes para manter viva a dúvida sobre a iniciação maçônica de Allan Kardec.

Resistência ao espiritismo na Europa

A França do século XIX era marcada por intensas transformações políticas, sociais e científicas quando da publicação de O Livro dos Espíritos em 1857. Enfrentou resistências, tanto no meio religioso quanto acadêmico. A Igreja Católica opunha-se vigorosamente a ideias que desafiavam dogmas tradicionais, como a imortalidade da alma sob a ótica da reencarnação e a comunicação com os espíritos. A acusação de heresia foi uma constante. As ideias espíritas, que buscavam conciliar ciência, filosofia e moral, eram frequentemente taxadas de superstição ou pseudociência, enfrentando desprezo e sarcasmo por parte de muitos intelectuais da época. Enfim, as práticas mediúnicas e a comunicação com os espíritos eram vistas como fantasias ou charlatanismo.