O texto de Gaetano Masciullo apresenta uma análise crítica a uma Exortação Apostólica fictícia, intitulada Dilexi Te ("Eu te amei"), que teria sido lançada por um futuro e igualmente fictício Papa Leão XIV. Segundo o autor, este documento, centrado no amor e cuidado para com os pobres, é, na verdade, um texto elaborado durante os últimos dias do pontificado do Papa Francisco, representando a continuação lógica de sua visão eclesial. A crítica de Masciullo se concentra não na dimensão sociopolítica do documento, mas em seu problemático quadro teológico-moral, que, segundo ele, desvirtua o ensinamento católico tradicional sobre a pobreza.
📜 Origem e Influência: O Legado do Papa Francisco e a Teologia do Povo
O autor estabelece desde o início que o Papa Leão XIV, em sua obra ficcional, é um herdeiro direto da visão eclesial do Papa Francisco: uma Igreja "sinodal, descentralizada e colegial". O texto Dilexi Te é apresentado como uma continuação natural dessa linha de pensamento, enraizada na "teologia do povo" (ou teologia del pueblo), uma corrente teológica argentina surgida após o Concílio Vaticano II como um desdobramento autônomo da Teologia da Libertação. Masciullo afirma que o Papa Francisco estava "imerso até a medula" nesta teologia, e a exortação fictícia reflete suas premissas fundamentais. Embora o Papa Leão XIV não compartilhe o estilo "impulsivo" e "autoritário" de Francisco, ele adota a mesma estrutura teológica falha.
⚠️ O Erro Central: Uma Visão Secularizada da Pobreza
A principal falha de Dilexi Te, segundo a análise, é a incapacidade de responder à pergunta essencial: por que a Igreja se preocupa com os pobres e, mais importante, qual o significado teológico do fenômeno da pobreza? O documento afirma que a Igreja reconhece nos pobres o rosto de Cristo, mas não explica o porquê. A justificativa apresentada – que a Igreja busca aliviar o sofrimento humano – não a diferencia de organizações seculares, como a ONU, cujo objetivo é "erradicar a pobreza". Com isso, questiona o autor, a Igreja se posiciona como "ancilar a este discurso" mundano em vez de oferecer uma perspectiva distinta. O texto falha em distinguir se a Igreja ama a pobreza em si ou os pobres, e se a pobreza é intrinsecamente um bem.
🕊️ A Pobreza Espiritual: A Causa Raiz Ignorada
O autor aponta que, embora a exortação fictícia mencione diversas formas de pobreza (material, social, moral, cultural e espiritual), ela negligencia completamente o aprofundamento da pobreza espiritual. Para Masciullo, esta é a forma mais grave de pobreza e a "verdadeira causa raiz da pobreza material". O texto analisado comete o erro de confundi-la com a pobreza moral (uma incapacidade de discernir o bem), quando, na verdade, a pobreza espiritual consiste no pecado e no vício, ou seja, na "ausência da graça de Deus na vida da pessoa humana". O autor nota que, no documento fictício, a palavra "pecado" aparece poucas vezes e a palavra "vício" não aparece nenhuma vez. Da mesma forma, a pobreza intelectual (a ignorância) é ignorada, sendo esta também uma consequência da pobreza espiritual.
🚩 Diagnóstico Marxista e Solução Socialista
A análise de Masciullo é contundente ao afirmar que, despida de sua linguagem cristã, a exortação Dilexi Te se assemelha a um "preocupante manifesto marxista". O diagnóstico do documento fictício é que os pobres existem porque certos indivíduos acumulam riqueza excessivamente. A solução proposta, portanto, seria a intervenção do Estado ou de organismos internacionais para controlar os atores privados e redistribuir os recursos (dinheiro, casas, terras) de forma igualitária. O autor rejeita veementemente essa premissa, contrapondo-a à doutrina católica tradicional, que ensina que a raiz de todo mal é o pecado, o qual gera a "pobreza espiritual".
👑 A Resposta da Doutrina Tradicional: Graça Divina e o Reinado Social de Cristo
Em oposição à visão apresentada em Dilexi Te, o autor recorre à doutrina católica para afirmar que não é a riqueza, mas a ausência da graça que causa o desequilíbrio no mundo. A solução não é o socialismo, mas o "Reinado Social de Cristo". Citando São Tomás de Aquino, ele explica que a riqueza não é um mal em si, mas um instrumento que pode ser usado para o bem. A afirmação de que a riqueza de uma pessoa é a causa primária da pobreza de outra é, para o autor, "uma afirmação altamente perigosa" que pode ser cooptada pelo socialismo.
O texto conclui lembrando que a pobreza evangélica vivida por Cristo não foi a miséria material, mas a "pobreza de espírito" – o desapego interior da ganância e dos bens materiais, necessário para que o fiel seja preenchido pelos dons do Espírito Santo. O próprio Cristo, aponta o autor, tinha amigos ricos como Zaqueu, Lázaro e José de Arimateia, que colocaram seus bens a serviço de Deus, mostrando que a conversão do coração, e não a intervenção forçada do Estado, é o caminho. A ideia final, que sintetiza toda a crítica, é que "não é a riqueza nem a pobreza que salva o mundo, mas a graça de Deus". Sem a graça, tanto a riqueza quanto a própria pobreza correm o risco de se tornarem uma forma de idolatria, fenômeno que, segundo o autor, já se observa hoje dentro da Igreja Católica.