A “Missa Verde”: A Coroação da Religião do Homem


No dia 9 de julho de 2025, agência de notícias espanhola reportou a estreia de uma nova fórmula litúrgica, presidida por Leão XIV. A celebração, intitulada “Missa pela Custódia da Criação” ou, coloquialmente, “Missa Verde”, ocorreu nos jardins da residência de Castel Gandolfo, descrita como uma “catedral natural”. Segundo a notícia, o sermão fez contínuas alusões à encíclika Laudato si’ de um predecessor, e o celebrante afirmou a necessidade de se rezar pela “conversão de tantas pessoas, dentro e fora da Igreja, que ainda não reconhecem a urgência de cuidar nossa Casa comum”. A homilia também destacou que a missão de “proteger a criação, de trazer paz e reconciliação” foi confiada pelo Senhor, e que o “clamor da terra” e dos pobres chegou “ao coração de Deus”, concluindo com a assertiva: “Nossa indignação é sua indignação, nossa obra é sua obra”.

O evento noticiado, embora apresentado sob o verniz de uma piedosa preocupação ecológica, manifesta, quando analisado à luz da teologia católica perene, a culminação de um processo de ruptura doutrinal e litúrgica que remonta ao Concílio Vaticano II. A “Missa Verde” não é um desenvolvimento orgânico, mas um sintoma terminal da instauração daquilo que uma certa obra denomina a “Religião do Homem”, em detrimento da Religião do Deus Encarnado (Calderón, 2010, p. 7).

Primeiramente, a própria noção de uma “nova fórmula” para a Missa representa uma quebra total com a tradição litúrgica da Igreja. A liturgia católica, expressa de modo sublime na Missa Tridentina, não é um campo aberto à experimentação e à criatividade humana, mas um rito sagrado recebido e fielmente transmitido. A introdução de novos ritos, com novos textos e novos fins, é precisamente a metodologia da revolução litúrgica pós-conciliar, que visa adaptar o culto não à glória de Deus, mas às “necessidades do homem contemporâneo” (Cekada, 2010, p. 374).

Em segundo lugar, observa-se uma completa inversão dos fins do Santo Sacrifício. A Missa Católica tem por objeto primário e essencial a glorificação da Santíssima Trindade e a renovação incruenta do Sacrifício propiciatório de Cristo na Cruz. A “Missa Verde”, ao contrário, desloca o foco de Deus para a criação material. O seu fim declarado é o “cuidado da Casa comum”, um objetivo puramente naturalista e temporal. O “clamor da terra” substitui o clamor da alma oprimida pelo pecado. Esta transposição de um fim sobrenatural para um fim imanente é a marca do humanismo moderno que, segundo se argumenta, encontrou sua oficialização no Vaticano II (Calderón, 2010, p. 8). A liturgia deixa de ser teocêntrica para tornar-se abertamente antropocêntrica, ou, neste caso, “cosmocêntrica”, onde a salvação da “Casa comum” parece ter precedência sobre a salvação das almas.

Ademais, a própria noção de “conversão” é esvaziada de seu conteúdo católico. Tradicionalmente, a conversão implica o abandono do pecado e do erro para aderir à graça de Cristo e à verdade de Sua única Igreja. Na nova fórmula, contudo, a conversão é direcionada àqueles “que ainda não reconhecem a urgência de cuidar nossa Casa comum”. Trata-se de uma conversão a uma agenda ecológica e social, não a Deus. É a manifestação de um novo evangelho, onde a ofensa principal já não é o pecado contra a Majestade Divina, mas o crime contra a “Mãe Terra”.

Os textos bíblicos selecionados para este rito, embora sagrados em si mesmos, são instrumentalizados e reinterpretados para servir a esta nova religião. O trecho da Sabedoria, que na exegese tradicional leva da criatura ao Criador transcendente, é aqui usado para promover uma visão imanentista de Deus na natureza. O episódio em que Cristo acalma a tempestade (Mt 8,23-27), uma clara manifestação de Sua divindade e poder sobre a criação, é reduzido a uma parábola sobre a nossa relação com as “emergências ambientais”. Trata-se de um uso da Sagrada Escritura que um opúsculo sobre o tema denuncia como “corte e costura” para servir a fins alheios à Revelação (Nougué, 2017, p. 119).

A celebração em uma “catedral natural” coroa esta dessacralização. O culto católico exige um espaço sagrado, um templo consagrado e um altar de pedra, separado do mundo profano para o ato mais santo que ocorre sobre a terra. A abolição desta distinção entre o sagrado e o profano, ao equiparar um jardim a uma catedral, é a consequência lógica de uma teologia que não mais vê uma distinção essencial entre a ordem natural e a sobrenatural (Cekada, 2010, p. 209).

Por fim, a assertiva “nossa obra é sua obra” revela uma profunda confusão teológica que beira a blasfêmia. Na doutrina católica, é o homem quem deve conformar sua obra à de Deus. Aqui, a relação se inverte: a obra do homem (o ativismo ecológico) é identificada com a obra de Deus. É o princípio humanista em sua máxima expressão: a ação humana não se subordina à divina, mas se identifica com ela, tornando o homem, em certo sentido, seu próprio redentor e o redentor da natureza.

Em sua homilia, Leão XIV fala de um “pacto indestrutível entre o Criador e as criaturas”, que mobiliza os homens para “transformar o mal em bem”. Esta linguagem ecoa a “grande visão de Teilhard de Chardin”, adotada por seus sucessores, segundo a qual o cosmos se torna uma “hóstia viva” e a liturgia se torna “cósmica”. Esta é a dissolução final do Sacrifício da Cruz numa vaga espiritualidade panteísta, a apoteose da Religião do Homem, que agora se apresenta como salvador da Terra.

Conclui-se, portanto, que a “Missa Verde” não é um desvio acidental, mas a aplicação coerente dos princípios que animaram a reforma litúrgica. Ela é a materialização da “Religião do Homem”, um culto naturalista e imanentista que, sob o pretexto de cuidar da criação, abandona o verdadeiro Culto devido ao Criador. Trata-se, em suma, de mais uma “obra de mãos humanas”, radicalmente estranha à fé e à liturgia da Igreja Católica.

Referências

CALDERÓN, Álvaro. Prometeo: La Religión del Hombre. Ensayo de una hermenéutica del Concilio Vaticano II. Morelia: FSSPX, 2010.
CEKADA, Anthony. Obra de Mãos Humanas: Uma crítica teológica à Missa de Paulo VI. 2. ed. Cincinnati: Philothea Press, 2010.
NOUGUÉ, Carlos. Do Papa Herético e outros opúsculos. 1. ed. Formosa: Edições Santo Tomás, 2017.