A sugestão de que um concílio ecumênico, como o Vaticano II, possa conter erros contra a fé e a moral, permitindo ao católico rejeitá-lo por não definir dogmas, ignora a assistência divina garantida aos concílios, conforme ensina o Vaticano I (Pastor Aeternus). Mesmo em caráter pastoral, o Vaticano II expressa o Magistério ordinário universal, vinculante para os fiéis (Lumen Gentium 25). Tal rejeição substitui a autoridade da Igreja, que Pio IX descreve como guardiã da verdade, pelo juízo subjetivo, rompendo a comunhão eclesial. Da mesma forma, afirmar que a Missa do Novus Ordo, promulgada por Paulo VI, tem “pouco de católica” e prejudica os fiéis contradiz a indefectibilidade da Igreja. Um rito oficial, contendo os elementos essenciais do sacrifício eucarístico, não pode ser danoso, pois, como sublinha Pio IX, os pontífices protegem a Igreja de “pastos venenosos” (Mediator Dei, Pio XII). Essa crítica reflete desconfiança na ação do Espírito Santo, que guia a Igreja na santificação das almas.
A tese de que a Igreja vive uma crise de fé exigindo “restauração” insinua que ela perdeu sua missão, negando a promessa de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão (Mt 16,18). Embora enfrente desafios, como secularismo, a Igreja permanece sob a assistência divina. Pio IX destaca que os pontífices sempre condenaram erros para preservar a fé, mostrando que a renovação ocorre dentro da comunhão, não por iniciativas dissidentes que semeiam divisão. Igualmente grave é a ideia de que a desobediência à Santa Sé seja necessária para defender a fé. A obediência ao papa é pilar da unidade (Suma Teológica, II-II, q. 104, São Tomás de Aquino), e Pio IX reforça que os pontífices, com “vigilância pastoral”, são baluartes contra heresias. Atos como a ordenação ilícita de bispos por Marcel Lefebvre em 1988, que resultou em excomunhão, ilustram como a desobediência fere a Igreja, em vez de protegê-la.
Já a tese de que excomunhões papais podem ser ignoradas se o indivíduo julgar não ter cometido delito é um subjetivismo perigoso. Cristo confiou a Pedro as chaves do Reino (Mt 16,19), e Pio IX lembra que os pontífices têm o dever de condenar erros que ameaçam a salvação. Desconsiderar a autoridade papal, que julga em matéria de fé e disciplina (Pastor Aeternus), conduz ao cisma, como visto na trajetória da Fraternidade São Pio X. As teses lefebvristas, embora motivadas por zelo pela tradição, contradizem a missão dos pontífices de guiar a Igreja com “doutrina salutar”. A verdadeira fidelidade católica preserva a tradição em comunhão com a Santa Sé, como demonstrado por iniciativas como o Summorum Pontificum de Bento XVI, sem romper a unidade querida por Cristo (Jo 17,21).
Diferentemente do lefebvrismo, do ponto de vista sedevacantista, a solução para os supostos erros dos papas recentes seria reconhecer que a Sé Apostólica está vacante, pois um papa que não aderisse à fé católica não poderia ser considerado legítimo, permitindo assim a interrupção da sucessão apostólica sem romper com a essência da Igreja Católica. Essa posição sustenta que, ao negar a validade de papas pós-Vaticano II, os fiéis permaneceriam unidos à Igreja verdadeira, preservando a doutrina imutável enquanto aguardam a restauração de uma autoridade papal legítima, divinamente instituída. O sedevacantismo argumenta que essa postura evita a formação de uma seita separada, pois mantém a fidelidade ao depósito da fé e à Igreja como instituição divina, sem ceder a ensinamentos ou práticas percebidos como contrários à tradição. Assim, a Igreja, ainda que temporariamente sem um papa válido, continuaria viva nos fiéis que sustentam a ortodoxia, confiando que Deus, em Seu tempo, proverá um novo pontífice para guiar a Igreja.
A perspectiva sedevacantista, ao afirmar que a Sé Apostólica está vacante devido à suposta infidelidade doutrinária dos papas recentes, apresenta-se como superior à abordagem lefebvrista por oferecer uma solução mais coerente e radical para preservar a fé católica intacta. Enquanto o lefebvrismo mantém uma obediência parcial à hierarquia, aceitando papas que, segundo seus críticos, promovem erros, mas desobedece em questões práticas como liturgia e disciplina, o sedevacantismo evita essa contradição ao rejeitar completamente a legitimidade de tais pontífices, sustentando que um verdadeiro papa não pode ensinar ou endossar desvios da tradição. Assim, os sedevacantistas acreditam permanecer plenamente fiéis à Igreja Católica como instituição divina, sem compromissos com autoridades que consideram inválidas, aguardando uma restauração providencial da sucessão apostólica, enquanto os lefebvristas, presos a uma relação ambígua com Roma, arriscam perpetuar uma divisão interna que dilui a unidade e a pureza doutrinária.