SEXTA-FEIRA DA SEMANA DA PAIXÃO


Féria de 3ª Classe – com comemoração das Sete Dores de Nossa Senhora
 
DIA DE ABSTINÊNCIA

Duas vezes no ano, a Igreja se lembra das Dores de Nossa Senhora. Com justa razão merece Maria Santíssima o título de “Co-redentora do gênero humano”, pois, heroicamente, ao pé da Cruz, uniu os seus sofrimentos aos de seu Filho, pela salvação do mundo.

PRÓPRIO DO DIA

Introito 

(Salmo 30 (31), 10, 16 e 18) Compadece-te de mim, Senhor, pois estou angustiado; liberta-me e salva-me das mãos dos meus inimigos e dos que me perseguem. Senhor, que eu não seja confundido pois te invoquei. (Salmo 30 (31), 2) Em ti, Senhor, coloquei minha esperança, que eu não seja confundido para sempre; pela tua justiça, liberta-me. Compadece-te de mim.

Leitura (Jer. 17, 13-18)

Naqueles dias, disse Jeremias: Ó Senhor, todos os que te abandonam serão confundidos; os que se afastam de ti serão inscritos na terra, pois abandonaram a fonte das águas vivas, o Senhor. Cura-me, Senhor, e serei curado; salva-me, e serei salvo, pois tu és o meu louvor. Eis que eles me dizem: “Onde está a palavra do Senhor? Que ela se cumpra!” Eu, porém, não me perturbei, seguindo-te como pastor, nem desejei o dia do homem, tu o sabes. O que saiu dos meus lábios foi reto diante de ti. Não sejas para mim motivo de temor; tu és a minha esperança no dia da aflição. Sejam confundidos os que me perseguem, mas que eu não seja confundido; que eles tremam, e não eu. Faze cair sobre eles o dia da aflição e despedaça-os com dupla destruição, Senhor, nosso Deus.

Evangelho (Jo 11, 47-54)

Naquele tempo, os principais sacerdotes e os fariseus reuniram o Sinédrio e disseram: “O que faremos? Este homem está realizando muitos sinais. Se o deixarmos continuar assim, todos acreditarão nele, e os romanos virão e destruirão tanto nosso lugar santo quanto nossa nação.” Mas um deles, Caifás, que era o sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes: “Vocês não entendem nada! Não percebem que é melhor para vocês que um só homem morra pelo povo, do que toda a nação pereça?” Ele não disse isso por si mesmo, mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus morreria pela nação; e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus que estavam dispersos. A partir daquele dia, decidiram matá-lo. Por isso, Jesus não andava mais publicamente entre os judeus, mas retirou-se para uma região próxima ao deserto, para uma cidade chamada Efraim, onde ficou com seus discípulos

Homilias de Doutores da Igreja Católica

A morte de um único homem é vista como a semente lançada à terra, que, ao morrer, produz fruto abundante, reunindo todos os povos numa única família divina, pois o sacrifício de Cristo é o preço da redenção universal, não limitado a uma nação, mas estendido a toda criação (Agostinho, Tratados sobre o Evangelho de João, 51.8). O sumo sacerdote, sem compreender, pronuncia uma verdade que transcende sua intenção, pois o Espírito guia suas palavras para revelar o mistério da cruz, onde o Filho do Homem é elevado para atrair todos a si, cumprindo a promessa de unidade dos filhos de Deus (Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, 2.18). A retirada de Jesus para o deserto não é fuga, mas um ato de prudência divina, pois o Salvador, conhecendo o coração humano, escolhe o momento exato para sua paixão, ensinando que a verdadeira força está na obediência ao tempo de Deus, que transforma a perseguição em glória (João Crisóstomo, Homilias sobre João, 66.1). O plano dos inimigos, ao buscar eliminar a vida, paradoxically abre as portas da vida eterna, pois o sangue derramado é o selo da nova aliança, que reconcilia o céu e a terra (Agostinho, Tratados sobre o Evangelho de João, 51.9). A profecia involuntária de Caifás aponta para a dignidade sacerdotal de Cristo, que, como verdadeiro Sumo Sacerdote, oferece a si mesmo, não por um ano, mas por toda eternidade, para santificar os que estavam dispersos (Gregório Magno, Moralia in Job, 17.54). A escolha de Efraim como refúgio evoca a humildade do Messias, que, ao se afastar, prepara os corações para a revelação final de sua divindade, quando a cruz manifestará sua realeza (João Crisóstomo, Homilias sobre João, 66.2).

Síntese Comparativa com os Evangelhos Sinóticos

Nos evangelhos sinóticos, a conspiração contra Jesus após a ressurreição de Lázaro não é detalhada como em João. Mateus 26, 3-5 descreve uma reunião dos líderes no palácio de Caifás, onde decidem prender Jesus em segredo para evitar tumulto, mas sem mencionar a profecia de Caifás ou o motivo específico ligado aos sinais. Marcos 14, 1-2 também relata a trama para matá-lo antes da Páscoa, enfatizando a cautela para não provocar o povo, mas omite a dimensão universal da morte de Jesus. Lucas 22, 1-2 foca na busca de uma oportunidade para eliminar Jesus, destacando a traição de Judas como facilitadora, mas não conecta a decisão diretamente aos milagres. João, ao contrário, explicita que a ressurreição de Lázaro desencadeia o temor dos líderes de perderem poder, com a profecia de Caifás revelando, mesmo sem intenção, que a morte de Jesus reunirá os filhos de Deus dispersos, um tema ausente nos sinóticos. Assim, João complementa os outros ao ligar a conspiração a um milagre específico e ao dar um sentido teológico universal à cruz.