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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Tradicionalismo - Arcebispo Lefebvre

Dom Marcel Lefebvre desempenhou um papel significativo e controverso na história da Igreja Católica no século XX. Suas posições rígidas em relação às reformas implementadas pelo Concílio Vaticano II frequentemente o colocaram em desacordo com a hierarquia e a direção pastoral da Igreja. Alguns dos pontos mais relevantes sobre Lefebvre incluem:

Fundação da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (SSPX):
Em 1970, Lefebvre fundou a SSPX, uma sociedade sacerdotal que buscava preservar as tradições litúrgicas e doutrinais da Igreja Católica, especialmente em oposição às reformas modernistas do Concílio Vaticano II. A SSPX defende a celebração da Missa Tridentina (Missa em Latim) e mantém uma postura crítica em relação às mudanças litúrgicas e teológicas introduzidas após o Concílio, como a maior abertura ao ecumenismo e a redefinição da relação da Igreja com o mundo moderno.

Conflito com a Igreja e Cisma:
O relacionamento de Lefebvre com a Santa Sé deteriorou-se ao longo dos anos, especialmente após a sua ordenação de quatro bispos em 1988 sem o consentimento papal, um ato que foi considerado uma grave desobediência às leis da Igreja. Como consequência, ele foi excomungado, e suas ações levaram a um cisma de fato, criando uma divisão significativa entre os católicos tradicionalistas e a Igreja oficial.

Diálogo Inter-religioso e Ecumenismo:

Lefebvre era um crítico feroz do diálogo inter-religioso promovido por João Paulo II, especialmente em relação ao encontro de Assis em 1986, onde o Papa reuniu líderes de várias religiões para rezarem juntos pela paz mundial. Lefebvre via esse tipo de evento como uma perigosa relativização da verdade católica. Para ele, a única verdadeira religião era o catolicismo, e a participação em cerimônias inter-religiosas era vista como um comprometimento da fé.

Ele acreditava que João Paulo II estava minando a exclusividade da Igreja Católica como o único caminho para a salvação ao colocar outras religiões no mesmo patamar, promovendo o que Lefebvre considerava ser um falso ecumenismo. Para Lefebvre, esse ecumenismo era uma forma de sincretismo que confundia os fiéis e enfraquecia a missão da Igreja.

Abertura ao Mundo Moderno:

Lefebvre também criticava o que ele percebia como uma excessiva abertura da Igreja ao mundo moderno, uma tendência que, segundo ele, começou com o Concílio Vaticano II e continuou sob o pontificado de João Paulo II. Lefebvre era particularmente crítico das mudanças na liturgia e na doutrina que buscavam uma maior adaptação da Igreja às realidades contemporâneas, como a democratização interna da Igreja e a defesa dos direitos humanos no contexto da sociedade secular.

Ele via essas mudanças como uma traição aos ensinamentos tradicionais da Igreja e uma capitulação aos valores liberais e seculares que ele acreditava serem incompatíveis com o cristianismo autêntico. Para Lefebvre, a Igreja deveria resistir a essas influências externas e manter-se fiel às suas tradições.

Política e Globalismo:

Lefebvre também criticava o que via como o envolvimento excessivo de João Paulo II em questões políticas e globais, especialmente em relação à sua oposição ao comunismo e à sua defesa dos direitos humanos. Lefebvre acusava João Paulo II de ser "político filo-comunista a serviço de um governo mundial", uma acusação que refletia sua desconfiança em relação aos esforços do Papa para promover a paz e a justiça social através do diálogo e da cooperação internacional.

Essa crítica estava ligada à visão de Lefebvre de que a Igreja não deveria se envolver em alianças políticas ou apoiar movimentos que ele via como alinhados com o comunismo ou com o globalismo, ambos considerados por ele como ideologias contrárias à fé católica. Lefebvre temia que o envolvimento do Papa em questões políticas globais comprometesse a independência e a pureza da missão espiritual da Igreja.

Liturgia e Doutrina:

Lefebvre foi particularmente crítico das reformas litúrgicas promovidas pelo Concílio Vaticano II, que foram implementadas durante o pontificado de Paulo VI e mantidas sob João Paulo II. Ele via a nova liturgia, especialmente a Missa Novus Ordo (a Missa celebrada em vernáculo), como um afastamento inaceitável da tradição e uma forma de protestantização da liturgia católica.

Para Lefebvre, a Missa Tridentina era a expressão mais pura e verdadeira da fé católica, e as mudanças litúrgicas pós-conciliares representavam uma ruptura com a tradição, que ele via como algo destrutivo para a identidade da Igreja. João Paulo II, ao apoiar essas reformas e não reverter as mudanças, tornou-se um alvo das críticas de Lefebvre.

Liberalismo e Modernismo:

Lefebvre acusava João Paulo II de promover uma forma de liberalismo dentro da Igreja, que ele via como uma continuação das tendências modernistas que o Concílio Vaticano II introduziu. Para Lefebvre, o liberalismo era uma heresia que corroía os fundamentos da fé católica, substituindo a verdade absoluta da fé pela relatividade dos valores modernos.

Ele criticava o Papa por permitir que essas ideias liberais penetrassem na Igreja, enfraquecendo sua autoridade e a doutrina tradicional. Lefebvre via o pontificado de João Paulo II como uma continuação de um processo de declínio que ele acreditava estar levando a Igreja a uma crise espiritual e doutrinária.